Hoje é o Dia da Compreensão Mundial
Por Ricardo Viveiros*
Eu escrevo, escrevo, escrevo e, muitas vezes, tenho receio de que alguém possa não estar entendendo.
O que significa isso? Muita coisa. A começar que se trata de uma sinédoque.
Não compreendeu? Explico. Algo semelhante à metonímia. Deu na mesma?
Explico. É uma retórica tropo fundada na relação de contiguidade e que consiste na substituição de um termo por outro, indicando a troca da parte mais restrita pela mais ampla. Simples assim, a substituição da parte pelo todo, ou do todo pela parte.
Compreendeu?
Acho que foi por algo assim que criaram este dia. A compreensão mundial anda muito escalafobética. É preciso conscientizar as pessoas sobre essa fantástica característica humana que fundamenta, entre muitas outras importantes qualidades, a paz mundial. Mahatma Gandhi, célebre defensor da compreensão, disse: “Não há caminho para a paz, a paz é o caminho.”
O ser humano é vaidoso, não gosta de aprender e quer ensinar. Entende que compreender o próximo é se anular, não aceita diferenças. Não pratica o respeito ao livre pensar.
É preciso saber lidar com as diferenças em razão de origem, cultura, idade, educação, hábitos, religião, opções de vários tipos. Enfim, direitos. E também deveres, claro. A compreensão alcança os muitos e diferentes tipos de preconceitos e os atuais conflitos que existem em todas as sociedades, sejam por questões étnicas, religiosas, sexuais, políticas ou socioeconômicas.
A proposta para existir o Dia da Compreensão Mundial é, portanto, refletir e saber lidar com um valor inalienável do ser humano: respeito aos sentimentos do próximo. A compreensão começa dentro de sua mente. Todas as pessoas, simples ou poderosas, devem equilibrar os seus olhares, julgamentos e atitudes tratando o próximo como a si mesmas.
“Para compreender as pessoas devo tentar escutar o que elas não estão dizendo, o que elas talvez nunca venham a dizer.” A frase é de um jovem compositor, maestro e produtor de trilhas sonoras para filmes, desenhos e séries, o inglês John Powell. Dentre muitos trabalhos para o cinema e a televisão, é dele a bela trilha sonora da animação “Rio”, dos estúdios Disney, indicada ao Oscar.
Voltando à sinédoque que abriu esta nossa conversa de hoje, o importante na comunicação é não complicar. Em geral, as pessoas gostam de mostrar que sabem, que têm capacidade. Pretendem obter respeito e gerar admiração expondo, muitas vezes até impondo, o seu conhecimento. Não se deve tirar a importância desse patrimônio, muitas vezes conquistado com sacrifício. Mas, aqui vale contar o que ouvi do poeta e cronista Carlos Drummond de Andrade, quando ainda bem jovem perguntei-lhe qual era a receita para escrever bem.
Resposta: “É não escrever”. Ou seja, quanto mais objetivo e claro você for na comunicação, mais fácil e rápida será a compreensão da mensagem pelo interlocutor.
Portanto, sinédoque é quando você for, por exemplo, empregar a expressão “faltam braços para a lavoura” e optar por “faltam lavradores”. Ou o contrário. A objetividade é importante, mas não perca a oportunidade de criar frases que despertem interesse também pela beleza da construção, das imagens.
É um direito seu, um prazer nosso.
*Ricardo Viveiros – Jornalista e escritor, autor de 41 livros, lecionou por 25 anos para cursos superiores de graduação e MBA. Recebeu a medalha da Organização das Nações Unidas (ONU) no Ano Internacional da Paz (1986), foi escolhido pela ABERJE, “Comunicador Empresarial do Ano”, em 2013 e tem o título de “Notório Saber”, em nível de doutorado, recebido da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Fundou e dirige, desde 1987, a RV&A.
Fonte: o próprio autor
Publicação Ambiente Legal, 17/09/2020
Edição: Ana A. Alencar