Existe um “Explosivo” Invisível Contra a Meritocracia
Por Carlos Aldan*
Podemos Unir Inclusão e Excelência?
Recebi de um grande amigo o artigo “DEI is like a woke IED for the left’s war against our military. We must defuse it”. Traduzindo: “DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) é um ‘DEI’ (dispositivo explosivo improvisado) ‘woke’, na guerra da esquerda contra nossas Forças Armadas. Precisamos desarmá-lo.”
“As Forças Armadas dos EUA estão focadas em caçar supostos extremistas para agradar extremistas de DEI.”, é o subtítulo do artigo de Grant Newsham – da Fox News, publicado no dia 23 de dezembro de 2024.
No artigo, o autor defende que determinados programas de Diversidade, Equidade e Inclusão – (DEI), especialmente no contexto das Forças Armadas dos Estados Unidos, são explorados como parte de uma estratégia mais ampla para desestabilizar a sociedade americana e a prontidão militar.
Ao fazer a analogia e o trocadilho, o autor informa que tais iniciativas de “inclusão” e “diversidade”, funcionam como dispositivos explosivos improvisados (IED, em inglês), em uma zona de batalha.
Para o autor, essa ferramenta “woke” cria um clima de medo e desconfiança, no qual as pessoas sentem que precisam se policiar constantemente, temendo que qualquer deslize possa prejudicar irreversivelmente suas carreiras.
O texto relaciona essa situação a exemplos históricos, em especial o Projeto 100.000 no final dos anos 1960, no qual a redução dos padrões de recrutamento, em nome da inclusão, acabou comprometendo a disciplina e a eficácia das Forças Armadas.
Além disso, o autor sugere que adversários estrangeiros, como a China, se beneficiam de qualquer fragmentação interna que enfraqueça a unidade e a capacidade de defesa dos Estados Unidos.
Na visão apresentada, o problema está em aplicar DEI de forma superficial, em contraste com os princípios fundamentais das Forças Armadas, que incluem padrões elevados, igualdade de oportunidade e promoção baseada em mérito, todos indispensáveis para uma força de combate eficaz.
Conforme descrito no artigo, a verdadeira diversidade surge de maneira mais natural quando as pessoas compartilham um propósito unificador, trazendo diferentes experiências, pontos de vista e habilidades, mas mantendo os mesmos critérios rigorosos de desempenho e disciplina.
Eu concordo com Grant Newsham. E digo o porquê:
1. Erosão de Sistemas Baseados em Mérito
O texto destaca os perigos de priorizar cotas de identidade em vez de desempenho individual e competência, sobretudo em ambientes de alta criticidade como o militar.
Aplicar padrões uniformes e responsabilizar todos igualmente, favorece a confiança e a coesão na tropa.
2. Impacto Negativo em Moral e Coesão
O artigo descreve como o receio de acusações, verdadeiras ou não, pode imobilizar uma organização.
Concordo que isso pode afetar a motivação, pois cria um ambiente em que as pessoas evitam falar abertamente ou colaborar, prejudicando o espírito de camaradagem tão necessário às Forças Armadas.
3. Precedente Histórico
A menção ao Projeto 100.000 e seus resultados indesejados, ilustra como políticas bem-intencionadas, mas que rebaixam ou diluem padrões, podem causar danos substanciais.
Concordar com esse ponto reforça a ideia de que ignorar lições históricas abre espaço para repetir erros no futuro.
4. Exploração Externa
A possibilidade de adversários estrangeiros explorarem divisões internas é consistente.
Quando políticas internas, incluindo uma DEI mal executada, acentuam conflitos em vez de apaziguá-los, atores externos podem se aproveitar dessa instabilidade para enfraquecer a defesa nacional.
Uma Proposta Meritocrática e Humana
Em lugar de descartar integralmente a DEI, uma abordagem mais produtiva uniria o melhor de cada aspecto, senão vejamos:
1. Padrões Rigorosos e Consistentes
Manter critérios claros de desempenho que se apliquem a todos, sem distinção de origem ou contexto. Isso garante a ênfase fundamental na excelência e na prontidão militar.
2. Cultura de Inclusão para o Sucesso
Estabelecer um ambiente onde todos contem com condições equitativas de desenvolvimento. Isso inclui fornecer mentorias, programas de aperfeiçoamento e recursos para que cada pessoa alcance padrões elevados, sem relaxar o nível de exigência.
3. Foco em Caráter e Esforço
O texto sugere redefinir DEI em termos de Disciplina, Esforço e Integridade.
Ao valorizar essas características, cria-se uma cultura de respeito mútuo e senso de propósito comum.
4. Transparência e Responsabilização
Aplicar regras justas e padronizadas, garantindo que cada indivíduo seja responsabilizado de forma imparcial.
A investigação objetiva de alegações de comportamento inadequado ou discriminação, fortalece a confiança e desencoraja o uso abusivo de qualquer política.
Conclusão
Ao manter critérios de mérito rigorosos e oferecer um ambiente que estimule o crescimento de cada membro, as Forças Armadas dos Estados Unidos ou qualquer organização, podem usufruir dos benefícios de uma diversidade real, sem sacrificar a coesão, a motivação ou a eficácia operacional.
Essa visão é meritocrática e humana, pois valoriza o esforço e o caráter de cada indivíduo, ao mesmo tempo em que reconhece a relevância de oportunidades justas e de uma cultura organizacional forte.
Nota:
NEWSHAM, Grant – “DEI is like a woke IED for the left’s war against our military. We must defuse it”, in https://www.foxnews.com/opinion/dei-like-woke-ied-lefts-war-against-military-must-defuse
*Carlos Aldan de Araújo é consultor, painelista e escritor. CEO e co-fundador do Grupo Kronberg, foi Membro do Conselho Consultivo da Harvard Business Review, EUA. Possui MBA pela Hull University, Hull, Inglaterra e Master Assessor em IE pela Six Seconds, São Francisco, Califórnia, EUA, BA em Antropologia, Sociologia e Ciências Políticas pela Saint Olaf College, Northfield, Minnesota, EUA, Extensão em História, Linguagem e Cultura pela L’Université Catolique de L’Ouest, Angers, France. Integra o Centro de Estudos Estratégicos do Instituto Iniciativa DEX.
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 07/01/2025
Edição: Ana Alves Alencar
As publicações não expressam necessariamente a opinião dessa revista, mas servem para informação e reflexão.