A ABOLIÇÃO DESCRITA POR MACHADO DE ASSIS
“Houve sol, e grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a imperial princesa regente sancionou com euforia, e todos saímos à rua. Sim, também eu saí à rua, eu, o mais encolhido dos caramujos, também eu entrei no préstito, em carruagem aberta, se me fazem o favor, hóspede de um gordo amigo ausente; todos respiravam felicidade, tudo era delírio e carnaval. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembro ter visto em toda minha vida”.
Infelizmente os livros de História privam o povo brasileiro de conhecer a Família Real, principalmente a sua importância e sua luta pelo fim da escravidão no Brasil.
A seguir, fotos e informações retiradas do acervo do Museu Imperial de Petrópolis RJ IHGB, via Equipe Pedro II do Brasil.
Em 1871, a Imperatriz Teresa Cristina doou todas as suas joias pessoais para a causa abolicionista, deixando a elite furiosa com tal ousadia. No mesmo ano A Lei do Ventre Livre entrou em vigor, assinada por sua filha a Princesa Imperial Dona Isabel.
O bairro mais caro do Rio de Janeiro, o Leblon, era um quilombo que cultivava camélias, flor símbolo da abolição, sendo sustentado pela Princesa Isabel.
José do Patrocínio organizou uma guarda especialmente para a proteção da Princesa Isabel, chamada “A Guarda Negra”. Devido a abolição e até mesmo antes na Lei do Ventre Livre , a princesa recebia diariamente ameaças contra sua vida e de seus filhos. As ameaças eram financiadas pelos grandes cafeicultores escravocratas.
A família imperial não tinha escravos. Todos os negros eram alforriados e assalariados, em todos imóveis da família.
D. Pedro II tentou ao parlamento a abolição da escravatura desde 1848. Uma luta contra os poderosos fazendeiros por 40 anos. O Parlamento sempre negava o projeto de lei, pois muitos tinham influências diretas ou indiretas com os grandes cafeicultores escravocratas. Se tratando de uma MONARQUIA CONSTITUCIONAL PARLAMENTARISTA, o imperador não tinha o poder para decretar leis sem aprovação da maioria do parlamento.
Princesa Isabel recebia com bastante frequência amigos negros em seu palácio em Laranjeiras para saraus e pequenas festas. Um verdadeiro escândalo para época.
Na casa de veraneio em Petrópolis, Princesa Isabel ajudava a esconder escravos fugidos e arrecadava numerários para alforriá-los.
Os pequenos filhos da Princesa Isabel possuíam um jornalzinho que circulava em Petrópolis, um jornal totalmente abolicionista.
Pedro II criou uma cota para negros alforriados ingressarem no Colégio Pedro II e nas Faculdades. Essa cota não foi aprovada pelo parlamento, porém Pedro II tirou de seus próprios proventos a garantia da cota. No período de 1872 e 1889 centenas de ex-cativos se tornaram médicos, advogados, engenheiros… Graças a chamada “bolsa do imperador”.
“Estudos do IHGB e FGV entre 1992 e 2010, concluíram que se o reinado de Pedro II ou a continuação de seus planos por sua filha Princesa Isabel tivessem mais 15 anos de duração, 67% das favelas e por consequência 43% da violência e tráfico de drogas não existiriam na cidade do Rio de Janeiro e provavelmente em outras grandes metrópoles como São Paulo que emergiam na época.”
A Família Imperial e a Libertação de Petrópolis.
O Evento mais importante realizado no Palácio de Cristal de Petrópolis ( Presente do Conde D’eu para sua esposa Princesa Isabel por 20 anos de casamento em 1884 ) foi no domingo de Páscoa de 1886, na qual a Princesa Isabel e seu marido o Conde D’Eu, organizaram uma “festa da liberdade“ e junto a seus filhos, os príncipes Pedro de Alcântara e Dom Luis Maria, entregaram 503 cartas de alforria aos últimos escravos da cidade Imperial, marcando a extinção da escravidão em Petrópolis. Estavam na cerimônia o gabinete ministerial de João Alfredo, os abolicionistas André Rebouças e José do Patrocínio e diplomatas dos Estados Unidos e da Alemanha.
Décadas depois, em 1921, o empresário Assis Chateaubriand, visitou a Princesa Isabel na Normandia, na época com 75 anos de idade, doente e abatida pelas mortes de seus filhos Dom Antônio e Dom Luis Maria, e fez a seguinte pergunta ao visitante ilustre: “E então doutor Assis, como estão os negros de Petrópolis?” Chateaubriand, que não fazia ideia do que a Princesa estava falando respondeu: “vão bem, alteza, os seus negros vão muito bem”. Dona Isabel do Brasil morreria semanas depois por complicações de uma Gripe.
Discurso do Prelado Dom João Fernando Santiago Esberard para a Imperial Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos do Rio de Janeiro durante as festividades da Lei Áurea.
“Sem duvida, a história nacional inscrevera, com áureos caracteres. em seus monumentos imortais, a data gloriosa de 13 de maio de 1888. Desse dia em diante pode o Brasil sentar-se com fronte erguido no convívio das nações civilizadas.
O grande império sul-americano não tinha mais que velar, perante a humanidade, a envergonhada face. Estava morto o estigma da escravidão! Em toda a extensão do Império, do Amazonas ao Rio Grande do Sul e do Atlântico aos confins de Goias e Mato Grosso, quer nas cidades, quer nos campos, já se não ouvem as vozes ameaçadoras dos senhores fulminando anátemas sobre uma raça infeliz, e cessaram para sempre os gemidos contristadores das vitimas.
Esta proclamada a Liberdade! Doravante o solo sagrado da pátria não sera mais profanado pelas lagrimas e sangue do cativo, regando os sulcos forcados. Ao homem livre esta reservada a honra de fecunda-lo com o suor laborioso de seu rosto, mas suor espontâneo e por isso enobrecedor.
Esta Repudiada essa herança de ignominia que o Brasil, malgrado seu. recolheria nos tempos coloniais na hora de sua emancipação politica. Fora este, o seu grande pecado de origem. Merce de Deus, que para destruiu-lo não foi necessário um copioso batismo de sangue fraterno, que se derramara, em medonha guerra, na possante Confederação da America do Norte.
Aqui bastou o sinal de uma mulher. Porque, se a nação inteira se moveu, pelo órgão de seus legítimos representantes, moveu-se a um aceno desta mulher. Bendita Seja Ela! A sua mão benéfica, que já estancara em dias idos a manancial horrendo do cativeiro, cujas águas lodosas contaminavam as gerações nascentes, a colocou com firmeza heroica o selo da legalidade ao ato do poder legislativo, abolindo a escravidão Oh! Maravilha! A voz de Isabel ruiu com estrepito a nefanda instituição”
Carta do Maestro Carlos Gomes a Princesa Isabel apos a Abolição da Escravidão.
“Milão, 29 de julho de 1888
Senhora,
Digne-se Vossa Alteza acolher este drama, no qual um brasileiro tentou representar o nobre caráter de um indígena escravizado.
Na memorável data de 13 de maio, em prol de muitos semelhantes ao protagonista deste drama, Vossa Alteza, com ânimo gentil e patriótico, teve a glória de transmudar o cativeiro em eterna alegria da liberdade.
Assim, a palavra Escravo no Brasil, pertence simplesmente à legenda do passado.
É, pois, em sinal de profunda gratidão e homenagem que, como artista brasileiro, tenho a subida honra de dedicar este meu trabalho à Excelsa Princesa, em quem o Brasil reverencia o mesmo alto espírito, a mesma grandeza de ânimo de D. Pedro II, e eu a mesma generosa proteção que me glorio de haver recebido do Augusto Pai de Vossa Alteza Imperial.
Hoje, 29 de julho, dia em que o Brasil saúda o aniversário da Augusta Regente, levo aos pés de Vossa Alteza este Escravo, talvez tão pobre como milhares de outros, que abençoam a Vossa Alteza na mesma efusão de reconhecimento com que sou de Vossa Alteza Imperial, súdito fiel e reverente.
Antonio Carlos Gomes.”
Após a assinatura da Lei Áurea, a Princesa Isabel recebeu essa do Maestro Carlos Gomes contendo uma partitura de sua mais nova Ópera “Lo Schiavo” em homenagem ao Movimento Abolicionista Brasileiro. A Ópera teve estreia no Teatro Pedro II no Rio de Janeiro em Setembro de 1889 com a presença da Família Imperial”
Carta descoberta em 2007 em meio ao arquivo do Memorial Visconde de Mauá RJ, de Princesa Isabel para o sócio de Mauá.
A carta rompe com os boatos históricos da “rivalidade” entre Mauá e a Monarquia. A verdade aparece clara que eram cúmplices em projetos sociais.
Trecho da carta de Isabel para Visconde de Santa Victoria sobre o Futuro dos libertos, Reforma Agrária e Sufrágio Feminino:
“11 de agosto de 1889 – Paço Isabel
Corte midi
Caro Senhor Visconde de Santa Victória
Fui informada por papai que me colocou a par da intenção e do envio dos fundos de seu Banco em forma de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de Maio do ano passado, e o sigilo que o Senhor pediu ao presidente do gabinete para não provocar maior reação violenta dos escravocratas.
Deus nos proteja dos escravocratas e os militares saibam deste nosso negócio, pois seria o fim do atual governo e mesmo do Império e da Casa de Bragança no Brasil.
Nosso amigo Nabuco, além dos Srs. Rebouças, Patrocínio e Dantas, poderem dar auxílio a partir do dia 20 de Novembro quando as Câmaras se reunirem para a posse da nova Legislatura.
Com o apoio dos novos deputados e os amigos fiéis de papai no Senado será possível realizar as mudanças que sonho para o nosso Brasil!
Com os fundos doados pelo Senhor teremos oportunidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, em terras suas próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e delas tirando seus próprios proventos, realizando uma grande e verdadeira reforma agrária a quem é de direito.
Fiquei mais sentida ao saber por papai que esta doação significou mais de 2/3 da venda dos seus bens, o que demonstra o amor devotado do Senhor pelo nosso Brasil.
Deus proteja o Senhor e todo a sua família para sempre!
Foi comovente a queda do Banco Mauá em 1878 e a forma honrada e proba, porém infeliz, que o Senhor e seu tão estimado sócio, o grande e mui querido Visconde de Mauá aceitaram a derrocada, segundo papai tecida pelos maldosos ingleses de forma desonesta e absolutamente corrupta!
A queda do Sr. Mauá significou uma grande derrota para o nosso Brasil!
Mas não fiquemos mais no passado, pois o futuro nos será promissor, se os republicanos e escravocratas nos permitirem sonhar e realizar mais um pouco.
Pois as mudanças que tenho em mente como o senhor já sabe, vão além da liberação dos cativos e que seus sustentos sejam realizados de forma honrosa.
Quero agora me dedicar a libertar as mulheres dos grilhões do cativeiro domestico, e isto será possível através do Sufrágio Feminino !
Se a mulher pode reinar também pode votar !
Agradeço vossa ajuda de todo meu coração e que Deus o abençoe!
Mando minhas saudações a Madame la Vicomtesse de Santa Vitória e toda a família.
Muito de coração
ISABEL”
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” Meu pai Pedro II lutou por décadas junto aos parlamentares para que seu sonho de uma nação justa e livre para todos fosse concretizado” “Muitos tentaram e conseguiram adiar esse sonho, porém o justo prevaleceu”
“Várias leis como as do O Ventre livre e do Sexagenário foram conquistadas com grande esforço de meu pai Pedro II, indo contra os dominantes de nossa economia que não o pouparam de sofrer um dos sentimentos mais sujos que é a vingança” “Fomos expulsos de nossa terra, onde nasci, cresci e fiz o que achei possível dentro de minhas possibilidades como mulher junto ao meu pai e seus ministros”
“Espero que os militares tenham um dia a consciência que ter um cargo de poder, significa servir ao povo, não que o povo lhe sirva”. ( Princesa Isabel, 1895).
“Se mil outros tronos eu tivesse, mil tronos eu perderia para por fim à escravidão!” ( Princesa Isabel, 1888).
Fontes via Equipe Pedro II do Brasil :
– Anuário do Museu Imperial. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
– Memorial Visconde de Mauá RJ , Museu Imperial de Petrópolis RJ IHGB.
Revista Nossa História, nº 31.
Publicação Ambiente Legal, 13/05/2020;2022
Edição: Ana Alves Alencar
As publicações não expressam necessariamente a opinião desta revista, mas servem para reflexão e informação.
Gostaria que a página explicasse um pouco mais a respeito de suas fontes, pois verifiquei em outros sites de que isso o conteúdo, ou boa parte dele, é falso. Logo, fiquei em dúvida. Cito aqui o:
https://www.aosfatos.org/noticias/corrente-de-whatsapp-mistura-fato-e-ficcao-para-exaltar-familia-real-brasileira/
Desde já, muito obrigado
O site !aos fatos” peca pelo engajamento ideológico de seus integrantes. Um exemplo é a maliciosa construção sobre Dom Pedro não ter extinguido os Dragões Portugueses – que era sua tropa pessoal como regente português. Por óbvio que o fez, e instituiu sua própria guarda imperial. Nada disso tem a ver com o batalhão recriado pelo Exército no século passado. A matéria tem base, assinatura e referência.
Muito fake. Puro engajamento ideologico aqui.