Por José Eduardo Cavalcanti*
O projeto NOVO PINHEIROS de iniciativa do Governo do Estado de S. Paulo que visa, como exaustivamente anunciado, despoluir o rio Pinheiros até 2022 mercê ao incremento das redes coletoras e tratamento dos esgotos da bacia, prevê também a implantação de Unidades de Recuperação das Águas, denominadas URQ, para tratar, em tempo seco, as águas poluídas de 5 córregos: Pirajussara, seu afluente Antonico, e Jaguaré situados à margem esquerda e Águas Espraiadas e Cachoeira, à margem direita do canal Pinheiros.
Este modelo de atendimento foi imaginado tendo em vista as dificuldades de acesso da infraestrutura sanitária às contribuições das áreas irregulares da bacia não atendidas em que convivem cerca de 700 mil pessoas onde seria praticamente impossível o esgotamento de economias por rede de coleta segundo o sistema separador absoluto convencional.
O lançamento do efluente tratado destas URQs seria nos próprios córregos imediatamente a jusante dos locais dos sistemas de tratamento implantados.
No processo licitatório, a SABESP não especificou o tipo de tratamento a ser adotado, deixando por conta de cada proponente a concepção. Apenas estimou indiretamente vazão e carga orgânica e informou os padrões de lançamento requeridos.
As vazões máximas e cargas orgânicas oriundas destes córregos a serem tratadas de acordo com estimativas da SABESP seriam as seguintes:
Segundo informações obtidas, as empresas vencedoras do certame deverão adotar em todas as URQs tratamento biológico por lodos ativados com a tecnologia MBBR, à exceção da URQ Jaraguá que optou por ozonização.
Neste processo haverá geração de lodo excedente em quantidades apreciáveis mesmo após a secagem a 20% (mínimo teor de sólidos exigido). Este fato é agravado pelo fato de não se ter áreas disponíveis no local de geração para armazenagem deste lodo o que exigirá uma abordagem “just in time”. Aduz-se a este fato que a permanência deste lodo no local, apenas parcialmente digerido, poderá causar incomodidade à vizinhança.
Uma alternativa possível seria lançar os lodos excedentes, tão logo sejam gerados (na saída dos decantadores em que sua consistência é de 1% de sólidos em suspensão) na rede coletora mais próxima, por gravidade ou por bombeamento, desde que interligada aos interceptores do Pinheiros de modo a permitir tratamento na ETE Barueri que está perfeitamente habilitada a receber estas suspensões nas vazões em que são geradas conforme Tabela. (Esta ETE já recebe inclusive o lodo químico da ETA ABV).
Desta forma, se evitariam as trabalhosas operações de adensamento e secagem dos lodos não estabilizados que teriam de ser realizadas nos próprios locais das URQs, com os inconvenientes conhecidos deste manuseio, bem como a emanação de odores e o transporte quase diário até os aterros sanitários (provavelmente àqueles situados em Caieiras) minimizando-se sobremaneira os custos CAPEX e OPEX envolvidos.
Adicionalmente se conseguirá encurtar o cronograma de implantação e pré operação das URQs em benefício da agilização do Projeto NOVO PINHEIROS.
Apesar de as obras das URQS já estarem contratadas, ainda há tempo hábil para se alterar a concepção do tratamento do lodo, uma vez que os estudos ainda estão na fase de projetos.
*José Eduardo W. de A. Cavalcanti é engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia. E-mail: cavalcanti@ambientaldobrasil.com.br.