Os vermes são maiores que a podridão. Tentam esconder-se negando o inegável
Por Marco Aurélio Arrais
Há séculos, somos um povo prisioneiro e refém dos muitos sucessivos (des)governos.
Nossas Câmaras Municipais, as Assembléias Legislativas Estaduais, a Câmara Federal e o Senado são couto e homízio para os pequenos e grandes chefes das pequenas e grandes quadrilhas que apossaram-se do Estado brasileiro.
O povo, entre supreso e inerte, assiste o despedaçar das máscaras que caem dos rostos desfigurados dos monstros que se apossaram de nossa pátria. Monstros esses, que travestidos de deputados, senadores e presidente da república tentam, de maneira cínica e nojenta, negar seus crimes. Mas não há como negá-los. A carcaça podre em que transformaram o Brasil rompeu-se. Os vermes são maiores que a podridão! Expulsos das entranhas desse cadáver putrefato, tentam esconder-se negando o inegável.
A situação é insustentável e caminha para o caos. As chamadas “instituições”, que “regem” o país desabaram.
Descobrimos que a economia de nosso país, a exemplo da Máfia, nos Estados Unidos, foi dividida em “territórios”. Os chefes das “famílias” fazem parte de uma grande irmandade estabelecida, principalmenre, na Câmara Federal e no Senado da República.
Nessas casas, grandes chefes comandam bandidos menores. Unidos com grandes empresários, donos das maiores empresas do país, saqueiam os cofres públicos. Através de Medidas Provisórias viciadas, favorecem grupos econômicos privados, rateando as riquezas da nação, como qualquer quadrilha de assaltantes ou traficantes.
Estão agora em desespero, dizendo-se inocentes de derramarem o sangue de todo um povo. Histéricos, gesticulam em desespero mostrando as mãos sujas por seus muitos crimes. Tentam se esconder atrás de centenas de milhares de cadáveres, exterminados que foram pelo genocídio de um sistema de saúde programado para matar. E matam silenciosamente, com as armas infalíveis da falta de leitos, das UTIs inexistentes, dos medicamentos que apodrecem em depósitos infectos, dos postos de saúde e hospitais insuficientes, dos funcionários ineficientes e desqualificados, além dos muitos bilhões em verbas desviadas.
Tentam se esconder atrás de milhões de crianças sem salas de aula, sem livros, sem carteiras, sem professores e sem merenda. Tentam se esconder atrás dos caixões dos muitos policiais mortos em serviço, que não mereceram qualquer nota de solidariedade de uma mídia que prefere solidarizar-se com bandidos e traficantes.
A única homenagem que efetivamente lhes foram feitas, são aquelas oriundas das lágrimas das mães sem seus filhos, das esposas sem seus companheiros e dos órfãos desamparados sem seus pais.
Quando invadem nossas casas, através da televisão, causa-nos asco seus sorrisos cínicos, suas justificativas abjetas, seus caracteres asquerosos. Comportam-se como o que efetivamente são: DONOS DO PAÍS. O povo, ou melhor, a grande população trabalhadora, de salário apequenado, de moradias insalubres, que mal come duas vezes ao dia, para eles não existe. Como um grande campo de concentração de mais de oito milhões de quilômetros quadrados, são tidos e tratados como gentalha descartável, útil somente para servir a eles e seus sequazes, num sistema em que a distribuição de riqueza é feita de maneira imoral, exploratória, perdulária e desapiedada.
Aos brasileiros é oferecido periodicamente novas maneiras de serem extorquidos. Dão a elas o nome de leis, regulamentos ou coisa que o valha. Para beneficiar um ramo da indústria, obrigaram-nos a trocar os extintores de incêndio nos automóveis. Esperaram o tempo suficiente para que os estoques da indústria e comércio fossem esgotados, e decidiram que tais extintores não eram mais “necessários”.
Quais foram os beneficiados? Resolveram agora que os automóveis são obrigados a trafegar de faróis acesos durante o dia. Dizem que é para evitar acidentes.
E as estradas esburacadas, que matam e causam prejuízos, por que não são efetivamente refeitas? É que não estão interessados em que tenhamos estradas de qualidade. Importa-lhes, sim, mais uma medida saqueadora dos bolsos dos cidadãos.
Mas voltemos à Irmandade. Dividiram entre si as regiões geográficas do país.
Cada região tem seu chefão. E cada chefão seus comandados. Quando um cai por apodrecimento ou insustentabilidade, já tem outro para substituí-lo. E esse outro assume, praticando os mesmos atos, sem solução de continuidade. São como um formigueiro.
Se um inseto é perdido, outro assume imediatamente, fazendo o mesmíssimo trabalho.
Tem o costume de defenderem-se de maneira coesa, fazendo uma blindagem efetiva em volta do comparsa, mas só enquanto convém. Quando a sujeira é muita afastam-se, e para não serem comprometidos passam a apedrejar o outro, como se não fossem iguais. Travestem-se de figuras impolutas, de uma honestidade e honradez que ninguém mais possui.
Tudo vale para não parecerem com o que efetivamente são.
Mas ainda assim, tudo seu humor negro. Os empresários associados nos roubos, resolveram apelidar os políticos criminosos, em seus relatórios contábeis. Os apelidos não diferem em nada dos utilizados nas quadrilhas de traficantes e de assaltantes.
Rindo, para não chorar, vamos ver alguns: Caju, Justiça, Indio, Babel, Bitelo, Caranguejo, Primo, Polo, Las Vegas, Helicóptero, Gripado, Todo Feio, Decrépito e Boca Mole.
Será que vamos, algum dia, nos livrar desses marginais? Até quando serão donos do país? As eleições serão somente daqui a dois anos. Sobrará alguma coisa que possamos chamar de pátria brasileira? Poderão esses criminosos candidatarem-se à reeleição?
As instituições estão viciadas, as leis ultrapassadas, a vergonha é inexistente, o cinismo impera e o crime é norma.
Isso me lembra um livro de Ignácio de Loyola Brandão, no qual descreve um Brasil muito parecido com o de hoje. O nome da obra é “NÃO VERÁS PAÍS NENHUM”.
Alguém consegue ver este estado de coisas como um país?
Marco Aurélio Arrais, natural de Goiânia, advogado (PUC-GO), contador de causos, é pesquisador da história do Brasil ou, como ele mesmo se denomina, “um curioso de nossa história”. Cronista, é colunista do Portal Ambiente Legal.