Querem desviar o foco da questão para longe do estado de desgoverno em que o país se encontra
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
O Mimimi governamental
Os estafetas governamentais, após cederem as calças aos transportadores de carga, perceberam que estavam dialogando com interlocutores errados.
No desespero para reparar o equívoco, tratam de induzir a opinião pública a confundir o movimento de paralisação com um locaute patronal.
A confusão do governo sobre greve e locaute mostra, no entanto, a absoluta ignorância sobre a economia do transporte rodoviário de carga.
Analisando apenas o chamado “provimento de serviços logísticos especializados”, o que se verificou no Brasil, foi a multiplicação da receita do setor, de pouco menos de um bilhão para a casa da dezena de bilhões, no período de vinte anos, num espantoso crescimento médio de 57% ao ano… até o período de recessão.
No entanto, no mesmo período, o número de provedores de serviços logísticos especializados, cadastrados como operadores, cresceu pouco mais de 5% ao ano, no mesmo período, com uma média de quebras muito grande.
Os dados indicam que o fenômeno da enorme concentração econômica afetou também o setor de transportes, destruindo a independência das frotas para submetê-las á vontade dos grandes grupos atacadistas, “proletarizando” transportadores autônomos.
Não é difícil de se verificar essa impressionante cartelização do transporte de cargas nas mãos dos agentes atacadistas. Basta rodar pelas estradas e contar o número de “centros de logística” com bandeira vinculada a atacadistas e empresas de grande varejo, frigoríficos e indústrias… ao lado de ruínas de antigos galpões de transportadoras que faliram…
Assim, o mimimi governamental revela o despreparo, a ignorância e a vassalagem prestada pelos estafetas da burocracia à concentração econômica e aos grandes cartéis, que dominam nossa economia.
O ciclo perverso da exploração atinge autônomos e empresas
Como se pode observar, há décadas que as empresas transportadoras são esmagadas pelos contratadores do transporte, estes, por sua vez, já pressionados pelo mercado concentrado e cada vez mais sistematizado.
No limite de sua sustentabilidade, há muito que as empresas deixaram de segurar carretas e veículos contra roubo e hoje fogem dos leasings bancários. Por isso mesmo, quase nenhuma utiliza mais cavalo próprio.
Os transportadores, assim, contratam caminhoneiros autônomos, que entram na cadeia de preços auferindo margens mínimas. Para reduzir a acachapante carga tributária, os autônomos há muito transformaram-se em micro ou médio empresários. Assim… falar em “greve” ou “locaute”, nesse meio de empreendedores que não vivem… sobrevivem… é piada.
Se por um lado, todos se encontram pressionados por tomadores de serviço que impõe preços aviltantes aos fretes, os fretes, por sua vez, são acertados pelos produtores e distribuidores sem considerar obviamente a variação de valores de combustível.
Vale dizer, uma carga sobre rodas que saia de Manaus… pode chegar em Porto Alegre com o caminhoneiro literalmente “pagando” pelo seu transporte.
O problema, portanto, afeta igualmente a empresa contratada e o caminhoneiro dono do cavalo (o caminhão sem a carreta). Por isso, não tem como diferenciar empresa de caminhoneiros nesse ciclo perverso que afeta um setor esmagado pelo aviltamento do frete e pelo aumento desmesurado dos insumos. O setor de transporte sobre rodas, hoje, é absolutamente simbiótico.
O que pretende o governo, com ameaças, portanto, é pura falácia!
O cinismo da grande imprensa
Notória, portanto, a campanha da mídia oficialista para desviar o foco do movimento.
A paralisação, como se sabe, não se esgota no preço do diesel.
O movimento dos caminhoneiros expressou e ainda expressa a revolta de todos nós contra o DESGOVERNO que aí está.
Governo e mídia estão apavorados com a magnitude da revolta. Daí a necessidade de “diminuir” o objeto em causa.
Essa campanha de desmoralização, é patrocinada pelos grupos econômicos concentradores da economia.
No contexto dos mercados globalizados, o desenvolvimento de projetos e soluções logísticas é uma importante ferramenta, que no entanto induz ao massacre do transportador que presta serviços, na ponta da linha. A logística de combustíveis não foge à essa lógica, como também não foge à lógica da cartelização e concentração econômica que contamina todo o Brasil.
Aliás, no caso dos combustíveis, o monopólio oficial da Petrobrás é, por si só, o grande fator de distorção de preços que hoje grassa o país.
Conclusão: a Nação não deve virar as costas aos caminhoneiros. Eles ainda nos representam. Denunciam o estado de desgoverno em que nos encontramos.
A campanha insidiosa da mídia tem o mesmo objetivo da rainha-madrasta em Branca de Neve: evitar que o espelho mostre ao governo sua verdadeira imagem…
ref:
Relatório SEBRAE sobre a cadeia produtiva logística
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB. É Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle View.
Fonte: The Eagle View
Uma análise interessante.
A Petrobras, como empresa pública, não pode visar exclusivamente o lucro e a satisfação da minoria dos acionistas. Também, como detentora do monopólio do setor de combustíveis fósseis, não pode deter a completa independência na determinação dos preços dos derivados.
Um aspecto importante vem a ser a ociosidade das refinarias do país, ao mesmo tempo em que se exporta petróleo bruto e se importa os combustíveis.
Algo de muito errado ocorre na política de petróleo do país.