Por Antônio Carlos Lago
O documento final tão esperado pela sociedade e aprovado por 193 países representados na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, não agradou ninguém. O que se viu foi uma série de desencontros e promessas. O secretário-geral da ONU, Ban ki-moon não escondeu a sua decepção. Pressionado pelas lideranças e organizadores, voltou atrás nas suas declarações e tentou justificar sua insatisfação explicando que o documento final não tinha levado em consideração as sugestões dos movimentos que integram a sociedade civil.
Nada de concreto foi decidido, as promessas continuam e as definições vão ficar para 2013, 2014, 2015…
E, sabe-se lá, quando serão implementadas as resoluções. O fato é que a maioria dos governos não estava interessada em investir na sustentabilidade, ou em outros segmentos, e os países ricos simplesmente viraram as costas para os compromissos e decisões esperadas para a Rio+20. Um retrocesso diante do marco que foi a Eco 92, ficando claro que todas as grandes políticas públicas de proteção ambiental adotadas no Brasil e no mundo, tiveram sua origem naquele encontro.
As declarações do deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) reforçam esta avaliação ao afirmar que a “Rio 92 avançou mais porque tratou de temas que já eram discutidos no âmbito das Nações Unidas, o que não aconteceu com os temas da Rio+20, que era economia verde e governança”. Fica claro que a ONU não fez o dever de casa, seu modelo de negociação é ultrapassado, o texto era fraco, sem consistência e não levou em consideração as sugestões da sociedade civil. E o resultado já é conhecido por todos.
A conferência falhou em não estabelecer metas nem definir um fundo que financiasse as ações para implementar o principal foco da reunião: o desenvolvimento sustentável. A proposta foi colocada na pauta e gerou mais insatisfação, pois nenhum país queria colocar a mão no bolso para assumir sua criação e ficaram apenas nas promessas e sugestões. Os resultados foram tímidos e se perdeu a oportunidade de construir novos paradigmas para o desenvolvimento mundial. O fato positivo dos erros, acertos e insatisfações foi a Conferência ter permitido que a discussão sobre um mundo sustentável e a economia verde se popularizasse fazendo com que a sociedade civil organizada mostrasse o seu poder de mobilização.
O que faltou de compromisso, seriedade e respeito com a sociedade e o meio ambiente, sobrou em mobilização e participação dos movimentos sociais. A sociedade civil deu um show e soube marcar presença e ocupar espaços na mídia contrariando a falta de visão dos dirigentes da organização deste mega evento que aconteceu no país.
Os grandes eventos têm seus pontos positivos e negativos e os resultados nem sempre são alcançados conforme planejamento inicial. No entanto, as falhas da Rio+20 foram visíveis internamente e isto foi exposto externamente pela mídia. Tirando a parte política que não avançou e nem decidiu o que todos nós tínhamos de expectativas, a festa e os grandes resultados foram proporcionados pela mobilização da sociedade nos eventos paralelos e no próprio local das reuniões.
Antonio Carlos Lago
é jornalista e Relações Públicas. Preside a ABRP Nacional (Associação Brasileira de Relações Públicas)