Por Armando Pedro
Renata Pallottini, poetisa e teatróloga, em artigo publicado no suplemento do jornal Valor Econômico de 25 de janeiro, lembrando Walmor Chagas, dizia que sua morte ocorreu “por sua livre e espontânea vontade, escolhendo a hora e as circunstâncias”.
Isso me fez lembrar uma entrevista que ele deu a Simão Khoury, em 1980. Encontrava-se na ocasião, com 50 anos, mas como estava com a barba branca crescida aparentava mais. E dizia, na entrevista, que independentemente da aparência, se comportava como um homem de 60, porque, na verdade, estava sempre “um pouco adiantado”. E justificava: “Eu fui sempre assim. Sempre representei um papel”. Em sequência, questionado sobre em qual momento na sua vida teria exclamado “Ah meu Deus, como é bom viver”, afirmava: “Em alguns dias, em alguns fins de tarde”. E sobre se já teria havido aquele dia em que pensou: “Que merda de vida! Não vale a pena continuar!”, em resposta lembrou-se: ”Quando eu tinha 16 anos, um dia eu cheguei a encostar o cano de revólver na minha cabeça”. Surpreso, o entrevistador perguntou: “Por que você fez isso?” E Walmor respondeu: “Porque eu achei que era o instante…”. Khoury insistiu: “Você estava representando para você mesmo?”. “Talvez…” objetou Walmor e complementou: “Até hoje eu desconfio que aquele gesto foi teatral. Mas, naquele momento, eu estava mesmo angustiado, sem entender nada… estava achando a vida meio vazia…,(…), talvez fosse pelo fato de que pela primeira vez eu tomava conhecimento da miséria humana, da dor, da pobreza, do abandono do ser humano”
Essa idéia de suicídio, segundo se infere da entrevista, o acompanhou a vida toda, na puberdade, na meia idade, na velhice. Estava, portanto inserida em seu inconsciente.
A entrevista, publicada no livro “Atrás da Máscara 2”, (Civilização Brasileira 1983), é profética e só vem confirmar o apurado na investigação policial da morte de Walmor Chagas de que, realmente, foi suicídio e que foi ele mesmo que acionou o revólver que encostara a sua cabeça.
Se a vida de Walmor foi uma eterna representação, esta chegou ao último ato e o pano caiu. Não houve aplausos, só lágrimas.