Secretário-Geral do PNUD defende “mudança de paradigmas” na organização
Por Danielle Denny
O Observatório de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) recebeu na última quarta-feira (5), o Secretário-Geral Assistente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Olav Kjorven, para falar sobre “A ONU em um mundo em transição: Novas oportunidades e desafios para o Brasil e demais economias emergentes”.
Uma das principais críticas feitas à Organização das Nações Unidas é o imobilismo gerado pela crescente dificuldade dos 193 países membros atingirem um consenso. Cada um se preocupa em garantir os interesses nacionais e opta por posições conservadoras que implicam em pouco ou nenhum comprometimento efetivo. Apesar disso, a humanidade enfrenta um dos momentos mais críticos de sua existência, inclusive sob risco de extinção.
“Agimos como se houvesse muitos planetas prontos para serem habitados por nós quando os recursos deste se esgotarem”, avalia Olav Kjorven, Secretário-Geral Assistente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Catástrofes naturais são cada vez mais frequentes, as desigualdades sociais aumentam incessantemente e com elas as rebeliões e convulsões sociais. Somado a isso, a crise econômica corta empregos e diminui a vontade política dos estados em se comprometerem com a organização e as medidas necessárias para lidar com a iminente catástrofe global.
Nesse contexto, muitos são céticos sobre a capacidade da ONU de tratar esses novos desafios. Para Kjorven, contudo, a ONU continua sendo a melhor opção. “É preciso uma mudança de paradigmas. A Carta [das Nações Unidas, documento constitutivo do organismo internacional, assinado no imediato pós-Segunda Guerra], começa com ‘Nós, os povos das nações unidas’, não está escrito: ‘Nós os Estados Membros’” ressalta o Secretário do PNUD.
E agora é o momento propício para essa discussão. Semana passada foi concluído o relatório do Painel de Alto Nível sobre a nova agenda de desenvolvimento, que substituirá as metas do milênio a partir de 2015. Foi o início de um processo de discussão que será longo e não deve ficar restrito à sede em Nova Iorque. A intenção da ONU, segundo Olav, vai ser realizar uma consulta extensiva em todos os países membros.
Pela primeira vez as discussões globais serão fundamentadas com uma consulta pública mundial. O My World Survey é uma pesquisa de opinião disponível no site (www.myworld2015.org), na qual os participantes escolhem 6 metas prioritárias das 16 sugeridas. A iniciativa já conta com 600 mil votos, mas pretende em breve superar 1 bilhão. Com isso, a intensão é criar um conjunto de diretrizes impossíveis de serem ignoradas.
“Está cada vez mais difícil os países concordarem em qualquer tópico, os assuntos são complicados e arriscados demais, assim as rodadas de negociação têm sido de tirar o fôlego”, define Kjorven. Mas ao mesmo tempo as comunidades das nações precisam chegar a um acordo. A saída parece ser, pois, construir um ambiente em que seja muito desgastante politicamente para os negociadores se absterem, deixando claro que as pessoas esperam de seus diplomatas um maior comprometimento. As ideias formadoras da ONU e seu conjunto de valores podem criar esse espírito de engajamento dos cidadãos, tão necessário para destravar as negociações multilaterais.