Por Gen. Sérgio Ernesto Alves Conforto*
É normal que as pessoas associem a palavra “GUERRA” à violência, visualizando as imagens expostas nos cinemas ou na televisão.
Compreende-se a guerra, pois, como o emprego da força para a consecução de objetivos por parte de um poder sobre outro.
Mas os objetivos de um país em relação a outro não são impostos apenas por meios violentos ou forças armadas. Na realidade estes são os recursos menos eficazes no que diz respeito à relação custo x benefício, uma vez que o desgaste ocasionado pelas guerras se traduz não só em despesas, perda de material, mortes e mutilações, mas também em ressentimentos que se projetam no tempo, diminuindo, de inúmeras formas, os proveitos adquiridos através da ação militar.
Por essa razão, as estratégias de dominação devem atribuir maior prioridade de emprego aos demais campos do poder, pois desta forma são atingidos os objetivos com muito maior rentabilidade.
No que diz respeito ao campo científico-tecnológico, a manutenção de um “apartheid” tecnológico permite uma situação de dependência dos demais em relação ao poder que controla a tecnologia, traduzindo-se em poderoso instrumento de pressão.
No campo econômico, a dependência de mercados compradores ou vendedores, as dívidas externas, os empréstimos para pagar empréstimos, a subordinação a decisões de caráter econômico impostas de fora são armas mais eficazes que os aviões, navios e canhões para fazer valer vontades.de países sobre outros.
Mas é no campo psicossocial que se encontram as medidas mais eficazes, sob o ponto de vista custo x benefício para que sejam atingidos os objetivos de uma nação em relação à outra.
Através de diversos instrumentos de ordem psicológica atuantes nas mentes de dirigentes e de populações é possível não só conseguir subordinação, mas sobretudo, cooperação.
As maiores vitórias de um país sobre outro ocorrem quando o primeiro induz no segundo comportamentos que são executados sem que se perceba que, na realidade, está-se beneficiando o adversário.
Quando um governante ou um povo se convence que o que é bom para o país X é bom para o seu, quando se exercem alinhamentos automáticos, quando se renuncia aos sonhos de grandeza próprios em benefício de outros, quando se apequenam os objetivos nacionais em detrimento de um internacionalismo de fachada, quando os sacrifícios são julgados inevitáveis, quando se exerce a autocastração, quando se marcha espontaneamente para o fracionamento, quando se julga estar preservando a paz ao destruir as próprias armas de defesa, que maravilhosas vitórias se proporciona àqueles que manipulam os pensamentos e atitudes.
E com que requinte se exercem as ações indutoras de comportamentos favoráveis! Com que perfeição hoje em dia os povos são convencidos de que estão errados ao pretenderem a independência, a soberania.
Os recursos mais sofisticados e complexos são empregados para inocular a subserviência, o desânimo, o antipatriotismo, a traição.
As mais modernas formas de comunicação, de coordenação de estímulos em escala às vezes mundial, o uso de palavreado pretensamente científico, a invasão da mídia com temas monocórdios, os aconselhamentos de “amigos tradicionais”, os acenos com “vantagens coletivas” e diversas outras técnicas que os especialistas recorrem como armas da guerra psicológica são empregadas diuturnamente nas relações entre dominadores e dominados.
Talvez os mais experientes (para não dizer idosos) lembrem do tempo em que se dizia que era impossível construir hidrelétricas no Rio São Francisco, que não havia petróleo no Brasil, que era impossível construir motores nos trópicos, que o Brasil tinha que ser “essencialmente agrícola”, e quantas outras coisas, enquanto trocávamos a riqueza que éramos convencidos a não explorar pelos colares coloridos e espelhos de toda natureza produzidos nos países industrializados e vendidos a preços impostos, enquanto o valor dos nossos produtos é estabelecido longe de nosso território.
Mais modernamente assistimos à orquestração de que somos grandemente responsáveis pela poluição mundial, que estamos. incendiando a Amazônia patrimônio da humanidade, que liquidamos os nossos índios que na realidade devem constituir nação à parte da brasileira, que a floresta tem que permanecer intocada, em benefício de todos, inclusive dos que enriqueceram devastando as suas, que a exploração de nossas riquezas é feita através de tecnologias poluentes, enquanto as que não poluem e permitem maior rentabilidade são coletivamente negadas, que as grandes reservas de minerais estratégicos devem ser “congeladas”, que deve haver uma repartição mundial de trabalho, cabendo a nós as tarefas que são pior remuneradas, que somos incapazes de gerir as coisas importantes, que não somos sérios, que em um território de primeira foi colocado um povinho de décima categoria, que estamos liquidando as nossas crianças marginais, e os nossos índios, verdadeiros donos da terra..
Notícias, comentários e afirmações dessa natureza são publicadas de forma coordenada em todo o mundo, predispondo a opinião pública mundial contra nós, os “bárbaros” e repetidas em nossos meios de comunicação de forma entusiástica, em um processo de orquestrações que nos fazem sentir culpados de pretender existir como nação soberana.
Pecados cometidos por outros povos, no passado e até mesmo atualmente, deverão ser pagos por nós, agora e a juros por aqueles estabelecidos.
A indústria de armamentos do Brasil tem que ser desmontada, pois contribuiu com uma parcela próxima de 1% do material bélico do Iraque, enquanto os responsáveis pelos outros 99% nos apontam seus dedos e continuam a realizar grandes negócios. Lançar satélites nem pensar.
Quando se pensa em recriar um centro de inteligência como os que possuem todos os países do mundo, imediatamente se busca ridicularizá-lo, chamando-o de ninho de “arapongas”.
Domínio do ciclo nuclear? Os possuidores de bombas capazes de pulverizar o mundo várias vezes nos proíbem de forma coordenada, pois isto seria um risco à paz mundial. Centrais nucleares geradoras de energia? Os que possuem dezenas delas regem as campanhas de protesto em relação a nós, que possuímos duas e necessidade. de possuir outras que não enguicem de forma tão estranha.
Hidrelétricas que possibilitem expansão econômica? São bloqueadas nas mentes brasileiras por causarem alagamentos e deslocar populações.
Nossas Forças Armadas, das menores e menos custosas de todo mundo, mesmo não levando em conta nossos valores de extensão territorial, população e recursos cobiçados desde longo tempo, devem ser reduzidas e direcionadas para outras tarefas que não a defesa de nosso patrimônio, transformadas em milícias, deixando os encargos de proteção de tudo que somos e temos a forças multinacionais.
Já repararam como nossos valores são ridicularizados? Notaram a proporção de músicas em língua estrangeira em relação às em português em nossos rádios? E os filmes “enlatados”, fazendo apologia do estrangeiro bom, generoso, forte e invencível para todas as faixa de idade? E os aspectos morais, argamassa da família, célula primeira da pátria, sendo demolidos em horários cada vez mais amplos?
Por favor, não considerem essa afirmações como xenofobia inconsequente e irracional, mas a constatação de que cada vez mais eficientemente somos convencidos de que somos incapazes, ruins, inábeis e ignorantes.
Tentativas de moralização, controle e fiscalização, normais em países considerados como as mais avançadas democracias, aqui são rotuladas como “entulho autoritário”, em um processo eficaz de intimidação daqueles que não concordam com a internacionalização, com a descaracterização da língua e dos costumes que nos têm conservado íntegros e solidários, e por isto mesmo, ameaça aos interesses dos que usufruem do nosso desenvolvimento e temem nos ver a disputar mercado.
Um estrategista experiente sabe que o Brasil não é militarmente conquistável ou ocupável de modo a proporcionar lucros, enquanto pretender ser nação una, indivisível e soberana. A extensão territorial e os números de nossa demografia imporiam ao conquistador gastos tamanhos e permanentes perdas de vidas que fariam com que o empreendimento não fosse rentável.
Enquanto cada homem, mulher e criança brasileiros gostarem de ser brasileiros, do seu chão, de sua bandeira, do seu jeito de ser, de seus valores físicos e intangíveis, o Brasil será inconquistável de forma que valha a pena.
O gigante não pode ser engolido sem causar perturbações gástricas.
Para que seja possível eliminarmo-nos como ameaça às posições conquistadas, é mister dividir-nos moral e fisicamente. Que sejamos jogados uns contra os outros, que predomine o “salve-se quem puder”, que a “lei de Gerson” seja instituída.
Que credos religiosos importados anatemizem o pegar em armas para defender a Pátria.
Que insanas tendências fracionadoras sejam divulgadas, ampliadas e repetidas até que sejam aceitas.
Que o Serviço Militar seja digno apenas dos menos favorecidos, dos marginais, e não uma afirmação de vontade de toda a sociedade no sentido de deixar bem ciente a todo aquele que nos vê com olhos de cobiça que reagiremos unissonantemente a qualquer de suas tentativas, que o exemplo de Rosa da Fonseca, ao dedicar todos os seus filhos à defesa da Pátria ainda frutifica.
Quando deixaremos de ouvir pedidos para “livrar o “Juquinha” do Serviço Militar, onde receberá magníficas aulas de cidadania e democracia, ao conviver com pessoas oriundas das diversas camadas sociais, onde compartilhará os deveres e as alegrias com seus irmãos brasileiros, onde amadurecerá e se fortalecerá para enfrentar os deveres de cidadão e chefe de família?
Quando estará a sociedade brasileira convencida que a genialidade de Olavo Bilac ao pugnar pelo Serviço Militar Obrigatório e não deixar nossa segurança na mão de mercenários, na realidade tem sido o mais eficaz fator de dissuasão que podemos possuir. e que a isto devemos a paz em nosso território?
Não são as pessoas que dizem ser desnecessárias as Forças Armadas as mesmas que se cercam, de trancas e alarmes para garantir a segurança de seus lares e patrimônios, enquanto realizam o trabalho de favorecer os ocultos adversários e concorrentes?
O poder de uma nação reside na harmonia entre suas componentes Política, Econômica, Científico-Tecnológica, Militar e Psicossocial.
Para chegarmos à posição entre as demais nações que podemos e merecemos ocupar por tudo que temos e podemos ser, há que sermos, sobretudo, coesos em nossos desejos, cientes de nossas verdadeiras limitações, mas imunes ao desânimo implantado, alertas contra os falsos arautos de culpas mentirosas, conscientes de nosso papel de herdeiros de um passado de vitórias quase sempre difíceis, e de responsáveis pela construção de um futuro que se orgulhe de nós.
É preciso que nos vacinemos conta os vírus da entrega, da derrota inoculada, da negação do que temos sido. Que nossas mentes reconheçam que a defesa de nosso patrimônio territorial, moral e intelectual é dever de todo cidadão, independentemente de sexo, cor, profissão, idade, posição social, e não só dos militares que, no caso do Brasil, rejeitam qualquer tipo de privilégio, exceto o de já estarem mortos quando bandeiras estranhas vierem a tremular sobre as cabeças inclinadas dos que concordam desde hoje em destruir o nosso futuro.
*General Sergio Ernesto Alves Conforto – Natural do Rio de Janeiro – Oficial de Artilharia especializado em Comunicações; Pós doutorado em Estratégia pelo US Army War College, Carlisle, Pensilvania; Diretor de Formação e Aperfeiçoamento e Chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa do Exército; Comandante da Escola de Instrução Especializada Formado em Engenharia Civil; Comandante da 9ª Região Militar; Diretor de Motomecanização; Diretor de Formação e Aperfeiçoamento; Comandante Militar do Oeste; Chefe do Departamento de Engenharia e Construção; Chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa e Comandante Militar do Leste; Ministro do Superior Tribunal Militar; Chefiou o Centro de Estudos Estratégicos da Fundação Armando Álvares Penteado, onde dirigiu o Curso de Estratégia Militar para Gestores de Negócios