Na Capital Federal, a disposição espacial dos prédios diz muito mais que sua monumentalidade
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
De passagem por Brasília, tirei uma foto ao lado do Palácio da Justiça, na cabeceira do Eixo Monumental.
A paisagem retratada na foto, no entanto, dizia, diz e dirá sempre muito mais que o personagem fotografado…
Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Israel Pinheiro e Juscelino Kubitschek, os homens-chave da construção de Brasília, perenizaram a república e formataram o Poder na Capital Federal nos moldes de uma arquitetura democrática.
Voltemos à foto acima.
Na foto em referência, visto da perspectiva do Palácio da Justiça está o Congresso Nacional.
Isso não é gratuito.
O Ministério da Justiça é o primeiro ministério da República.
Na outra ponta, fora da foto, está o Palácio do Itamaraty – do Ministério das Relações Exteriores (historicamente, o segundo ministério da República).
O Itamaraty e o Ministério da Justiça emolduram o Congresso Nacional.
A partir desse trio, então desdobra-se toda a Esplanada dos Ministérios, irrigada pelo Eixo Monumental de Brasília.
Esse é o Poder visível ao povo, que transita pelo Eixo Monumental e o cruza no trânsito entre as “Asas” do Plano Piloto.
A Praça dos Três Poderes, que reúne o Palácio do Planalto (sede da Presidência da República) e o Palácio da Justiça (o Supremo Tribunal Federal , o Poder Judiciário), não é visível – encontra-se oculta, ATRÁS do Congresso Nacional. Isso porque os Poderes de Estado são representações distantes do Povo, com exceção do Parlamento.
O parlamento é a razão da República. Ele é o CENTRO do Poder. Ele representa o Povo. Diante dele é que se postam os ministérios.
Ministério significa execução de uma tarefa, de uma incumbência, de comissão ou obrigação. Os ministros são os comissários que executam seus deveres para com o Povo – a Nação.
Cada ministério é um serviço ou conjunto de serviços públicos destinados a prover, defender, atender as demandas nacionais – a isso chamamos governo.
O governo por meio dos ministros, devem prestar contas ao Povo e ao Congresso Nacional.
Esta é a razão da disposição dos prédios na Esplanada dos Ministérios.
A propósito, esplanada significa paisagem, vista, grande espaço, à disposição do observador e disposta, geralmente, à frente de um forte ou edifício principal – no caso, o observador é o POVO e o forte ou edifício principal é o Congresso Nacional (a Casa do Povo).
A funcionalidade arquitetônica deveria, portanto, informar àqueles que compõem o Poder Público, a razão republicana e democrática do exercício desse poder.
No entanto, os atuais ocupantes dos poderes de Estado, dispostos nos edifícios que existem atrás do Congresso Nacional – e grande parte dos que integram o parlamento e ministérios – parecem ser absolutamente ignorantes dessa razão arquitetônica, que expressa a razão da nossa República.
E nós, o povo – beneficiados pela disposição espacial de Brasília – permaneceremos ignorantes também?
As autoridades deveriam pautar sua postura e ambições de acordo com a perspectiva disposta pelo Eixo Monumental de Brasília, mas não o fazem…
Porém, há um fato inconteste: O Eixo Monumental (e sua Esplanada) é perene – ele permanece. As pessoas que ali se encontram, não…
Antonio Fernando Pinheiro PedroAntonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro da Comissão de Direito Ambiental do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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