Preocupação ecológica inspira gestão das escolas de samba e forma bloco carnavalesco ambientalista
Por Ana Alencar
A questão da sustentabilidade vem sendo incorporada ao carnaval brasileiro já há algum tempo e, a cada ano, vem se consolidando como parte integrante da folia de Momo, por todo o país.
Preocupados em reduzir custos, os carnavalescos das escolas de samba e dirigentes de blocos, tem procurado utilizar em suas fantasias e carros alegóricos, materiais recicláveis e, materiais novos que possam ser reutilizados e de baixo impacto ambiental.
A reutilização de fantasias e alegorias em outros carnavais ou repassadas para escolas de outras cidades, diminuição do uso de penas de aves nas fantasias e o reaproveitamento das usadas, diminuição do uso de isopor e látex nos adereços e esculturas, entre outras ações, fazem parte do planejamento e execução dos trabalhos das agremiações, em proporcionar, a cada ano, um carnaval belo, cheio de esplendor mas, com baixo custo financeiro e ambiental.
Também fazem parte das ações sustentáveis das escolas de samba e grandes blocos por todo o país, a coleta seletiva de recicláveis durante os ensaios e, nas sobras dos trabalhos de confecção das fantasias e de produção dos carros alegóricos e adereços, que são recolhidos por empresas especializadas e encaminhados para reciclagem, e que serve como fonte de renda para os mesmos.
No Rio de Janeiro, um bloco, em especial, assumiu a responsabilidade de divulgar práticas ambientais e, tem se tornado exemplo de sustentabilidade aliada à alegria e irreverência, é o Bloco do Vagalume O Verde que, a cada ano, arrasta cerca de 10 mil foliões pelas ruas do Jardim Botânico, distribuindo brindes ecológicos e incentivando práticas sustentáveis durante o trajeto, sempre na terça-feira de carnaval.
O fundador e presidente do bloco, Hugo Camarate, disse em entrevista que “o grupo busca preparar as futuras gerações de foliões. Estimulamos cursos, participamos de palestras e buscamos auxiliar, com oficinas que tratem do meio ambiente, utilizando o carnaval como eixo condutor das discussões e como ferramenta de aproximação. Na verdade, ansiamos e buscamos contribuir para que as condições sejam ainda melhores do que as atuais – compensamos nosso desfile através do plantio de mudas de espécies nativas da Mata Atlântica”.
O bloco VOV, foi fundado “para sensibilizar os foliões a fim de mitigar os impactos ambientais gerados pelo homem e fomentar a cultura do carnaval.”
Em São Paulo, esse ano, a sustentabilidade é tema da escola de samba Império da Casa Verde que, preocupada com os problemas ambientais, escolheu o tema a fim de conscientizar a população e trazê-lo para a avenida, que é um espaço de grande visibilidade, nacional e internacional.
Os carros, fantasias e alegorias, foram confeccionados, em quase sua totalidade, com materiais recicláveis, como latas de alumínio, papelão, copos descartáveis, entre outros, foi utilizada de água cenográfica que não molha e de reuso, e, também, materiais novos reaproveitáveis.
A escola empolgou a avenida, com muita criatividade e sustentabilidade visíveis no desfile, que procurou mostrar os perigos e soluções das ações humanas no nosso planeta.
Para o presidente da agremiação, Eduardo Moraes, o tema do enredo surgiu “da necessidade de um planeta sustentável com menor degradação do meio ambiente, preservando as reservas naturais. Buscamos a conscientização da comunidade de que o planeta está sufocado e necessita de uma ação global urgente de preservação, garantindo assim um planeta melhor para as futuras gerações.”
O ponto negativo de toda essa festa pelo país, é a grande quantidade de lixo deixado nas ruas pelos foliões que, ou por falta de conscientização ou por falta de locais para descarte do lixo, deixam um rastro de sujeira por onde passam. São restos de fantasias, alimentos e embalagens, que poderiam ter destinação adequada.
Assim como as escolas e blocos, os foliões devem ser conscientizados e cobrados, quanto aos problemas que o lixo jogado nas ruas causam na cidade, principalmente por ser época de chuvas.
Embora haja conscientização por grande parte dos responsáveis pelo evento, tanto das agremiações envolvidas, praticando ações sustentáveis, quanto dos órgãos responsáveis, que promovem coleta seletiva e limpeza nas áreas dos desfiles, é visível a necessidade de uma educação ambiental mais efetiva, não apenas no âmbito escolar mas, mais intensiva e direta nas comunidades e bairros.
A alegria, a irreverência e descontração, fazem parte dessa grande festa da cultura brasileira e, mais do que nunca, é necessário realizá-la com sustentabilidade, para que a mesma se perpetue pelas próximas gerações, impactando, o menos possível, o meio ambiente.
Que a sustentabilidade seja o enredo principal nos próximos carnavais do Brasil !