Por Alfredo Attié
Nada me perguntem!
Aproveitei uma folga de quase-fim-de-ano e joguei fora um monte de coisas velhas, todos os artigos de jornais, revistas, textos antigos de pessoas que admirava e não admirava. Fui ler, reler e nada encontrei, até desilusão. Livrei-me, lancei longe.
Formou-se um vazio enorme no studio, a ser completado com tanta coisa nova, de gente nova, de gente diferente, de um eu novo, diferente.
Essas cosias ficaram passadas, estáticas, sem razão de guardar, sem razão de recitar, poesia empoeirada, imprestável.
O que ficou? Nada e coisas de um momento em que eu sequer existia, tão longinquas que podem ser passado, podem ser futuro, podem ser agora, podem ser depois ou antes. Daqui, dali, de um lugar muito distante, que se faz próximo só na leitura.
Meus mestres vivos deixaram de existir.
Não há morte dos outros, que são amigos. Não há mais mestres, só o aprendizado da vida.
Lancei-me!
Nada me perguntem!
Se houver resposta será uma resposta diferente. A resposta nova que sempre busquei e sempre procurei dar.
Meus mestres antigos não me desapontam mais.
Não preciso mais o seu sorriso, a sua aprovação, o seu comentário.
Nem preciso mais inspirá-los pelo que lhes concedi, sem nada pedir senão o próprio plágio da experiência de idéias, que lisonjeia.
Sem esse passado, fico a me indagar como será minha imagem no espelho. Nem ouso me aproximar. Serei eu íntegro a me ver. Que será esse eu íntegro?
Nem sei se terá reflexo, se terá alma, se terá vida.
Talvez a liberdade de uma alma a fazer. Uma vida que se fez, só, e se refaz.
Alfredo Attié Jr. é Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), Juiz do Tribunal de Justiça de São Paulo e membro da Escola Paulista da Magistratura.