Por Leonardo Zorba Stocco*
No dia 24 de abril, o Conselho Ambiental do Estado de São Paulo (CONSEMA) completou 30 anos de pioneirismo e relevantes serviços em prol do meio ambiente. O aniversário do órgão foi o grande tema da 306° Reunião Ordinária, acompanhada por autoridades ambientais de todo o Estado e representantes da sociedade civil, entre eles a OSCIP Instituto Terra Meio Ambiente e Inclusão Social (IT+).
Mas muito além das celebrações, foram também abordados na plenária, temas como o desenvolvimento da infraestrutura do Estado; a redução dos impactos ambientais decorrentes de grandes obras; e talvez aquele que seja da maior importância para o futuro da sociedade paulista: a preservação da água.
Discutiu-se a necessidade de aprovar o EIA/RIMA do Sistema Produtor São Lourenço (SPSL), de responsabilidade da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP). O projeto prevê a instalação de tubulação vicinal e uma estação de tratamento de água em Cotia, além da rede de adução para os municípios de Ibiúna, Juquitiba, São Lourenço da Serra, Embu Guaçu, Cotia, Vargem Grande Paulista, Itapevi, Jandira, Barueri, Carapicuíba e Santana do Parnaíba. A expectativa é que a captação de água no reservatório da Cachoeira do França seja de 4,7 metros cúbicos por segundo.
O Projeto SPSL, foi criado para atender a parte oeste da Região Metropolitana de São Paulo, que deverá entrar em regime crítico de abastecimento de água tratada a partir de 2014. O objetivo é suprir a demanda aumentando o índice de regularidade de abastecimento e reforçando o programa de redução de perdas de água tratada.
Aliás, o fortalecimento do programa de redução de perdas de água tratada é objeto de incansáveis discussões, mas até o momento, apesar dos investimentos anunciados, a companhia não demonstrou resultado eficiente a respeito dessa questão tão sensível e ainda não conseguiu reduzir os índices de perda de água tratada.
A tubulação de água da Região Metropolitana de São Paulo é muito antiga e com lugares de difícil manutenção. Além disso, existem os recorrentes problemas de alta pressão da água em determinados locais que não transbordam em via pública, o que dificulta a identificação do problema. A SABESP afirma que o índice de perda de água está entre 26% e 27%, um dos maiores do mundo. Para efeito de comparação, o Japão já alcança índices na ordem de 3%. Daí pode-se concluir que estamos diante de um sistema sensível e pouco eficiente.
Apesar da promessa de que os investimentos nesses projetos alcancem, até 2016, o montante de R$ 1,9 bilhão – R$ 715 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), R$ 770 milhões por meio de financiamento firmado com o governo japonês, além dos R$ 430 milhões da própria SABESP – esses investimentos resultarão na redução de apenas 1% de perda de água tratada por ano, muito aquém dos padrões nipônicos.
Não à toa, um dos conselheiros presentes à reunião destacou que “a SABESP está valorando o bem água, tanto quanto a Petrobras valoriza o bem petróleo”.
Nos dias de hoje, a redução das perdas de água tratada, é uma questão da maior relevância, levando em consideração a baixa disponibilidade hídrica (quantidade de água disponível para abastecimento por habitante), que hoje é de 146 mil litros por habitante ao ano na Região Metropolitana.
Por fim, podemos refletir o questionamento levantado pelos Conselheiros do CONSEMA, no que diz respeito à valorização da água pela SABESP, com índices de perda de água tratada tão elevados, será que estamos dando mais valor para o petróleo do que para a água? A resposta está na ponta da língua dos que sofrem ano após ano com os racionamentos.