Por José Roberto Faria Lima*
Tudo acontece no espaço entre o real e o imaginário. Confunde e nos leva próximo da perplexidade.
Caminhando atordoados na fronteira do conhecimento com a verdade, não conseguimos escapar do lado negro da pandemia.
Eis os ingredientes desse delírio ou pesadelo que vivenciei – O maior raio já registrado em Pindorama.
Gigantesco. Percorreu uma distância colossal.
Um arco de energia com início no Rio Grande do Sul chegando até Santa Catarina, incrível de Alfa até Omega.
O som do trovão deve ter sido avassalador.
– O temporal que inundou minha São Paulo, fruto de mudança climatérica que já devia estar sendo enfrentada pelos governos com ações concretas e não com discursos e retórica.
– As festas juninas frustadas abduzidas pelo vírus que veio da China. São João e São Pedro sem fogueira, pau de sebo, cocada, bolo de milho, pé de moleque, pipoca, sem curau e sem pamonha.
Sem música, sem dança, nem fogos e nem balão.
Alegria virou tristeza.
– Invasão de gafanhotos.
O cavaleiro da morte espalhando sofrimento e infelicidade. Priorizando covas rasas para enterrar sonhos e esperança. Descartando a caridade e insuflando a incerteza e medo. Espalhando o ódio, o amor doente, além de prever outras pragas. Almejando permanecer no poder, fazendo o luto transformar-se em melancolia. Alimentando o murmúrio das vozes roucas das ruas a repetir: “ o resto virou silêncio”.
Vem à mente presságios do apocalipse, a figura apóstolo do amor e do trovão.
Acordei do cochilo exausto, suando frio. Fiquei inquieto por algum tempo no sofá da sala mas logo fui arrebatado para viajar em busca de outras lembranças.
Virou rotina. Digo a você que não foi fácil .
Esses devaneios não permitem qualquer controle de sua parte. Pelo menos comigo é assim. Eles são soberanos. Você vai a reboque.
Ainda não desisti de procurar um meio de direcionar essa busca no imaginário, um algoritmo qualquer que permita encontrar nas dobras do tempo momentos especiais. Ao menos isso.
Determinar a profundidade do mergulho na linha de tempo. Uma regressão controlada.
Sinto que essa pandemia ainda vai demorar a chegar ao fim.
Sinto também que pouco conseguirá modificar os hábitos que regem a esmagadora maioria da humanidade.
Se acontecer será muito lentamente e provocada pelos jovens. Alguns já se modificaram e por sinergia podem modificar outros.
Gostaria sinceramente que fosse o contrário. Mas, quem sabe!
Se estiver no plano de Deus, com certeza acontecerá. Theilhard de Chardin, um de meus gurus afirmava com convicção. Como cético tenho sempre dúvidas.
Atraído pelo canto das sereias me vejo pisando em Patmos. Evitando pisar em serpentes perigosas como as jararacas ilhoas e aranhas da Ilha da Queimada Grande em São Paulo.
São João Apóstolo rabiscava a mensagem enviada por Deus descrevendo o fim dos tempos. Fora condenado pelo Rei a morrer queimado e saíra ileso.
O semi-deus irritado pretendia por medida provisória novamente condená-lo à morte. A Rainha lembrando costumes do passado o impediu.
Ao sobreviver a morte estava livre de receber outra sentença semelhante. Era regra que imperava na Grécia de então. Desterro-o para essa ilha na expectativa de que as cobras o envenenassem.
João mais uma vez sobreviveu. Foi o único apóstolo a não ter uma morte violenta. Somente a velhice o venceu, suas visões no oráculo de Patmos estão escritas no livro dos livros.
Deus julga implacavelmente por seus padrões. E são padrões elevados.
Despertei.Um alívio.
Uma visão sem maquilagem do amanhã, detalhando o fim.
No mundo real acabara de receber um presente divino.O pequeno, recém chegado Raphael … meu bisneto.
A morte chega com a vida e chega o momento que a morte vira vida.
Afundado em dúvidas busco humildemente entender essa pandemia sem fim.
Lampejos…
*José Roberto Faria Lima – Economista, professor, oficial da Aeronáutica e deputado federal por São Paulode 1971 a 1979.
Fonte: o próprio autor
Publicação Ambiente Legal, 17/02/2021
Edição: Ana A. Alencar
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