Por Vanessa Barbosa
Todos os dias, pelo menos 800 milhões de pessoas no mundo vão dormir com fome, e mais que o dobro (até 2 bilhões) sofrem de desnutrição ou “fome oculta”, um problema que mata. Se ainda hoje, não conseguimos sanar este mal, como garantir a segurança alimentar e nutricional de um mundo que terá 9 bilhões de pessoas em 2050?
Segundo um novo estudo, se não reduzirmos, significativamente, as emissões de gases efeito estufa, vilões do aquecimento global, as gerações futuras vão sofrer consequências pesadas.
Estimativas publicadas pela revista científica Lancet nesta semana fazem o alerta: as mudanças climáticas poderão matar mais de 500 000 adultos até 2050 no mundo inteiro devido a mudanças nas dietas e no peso corporal causadas pela redução da produtividade das culturas agrícolas.
O estudo é a primeira iniciativa desse tipo a avaliar o impacto das mudanças climáticas sobre a composição da alimentação e o peso corporal, e a estimar o número de óbitos que o clima causará em 155 países até 2050.
De acordo com a pesquisa, se não forem tomadas medidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, as mudanças climáticas poderão diminuir a disponibilidade de alimentos por pessoa em média em 3,2% (99 kcal por dia), o consumo de frutas e verduras em 4,0% (14,9 g por dia) e o de carne vermelha em 0,7% (0,5 g por dia).
A ingestão insuficiente de vitaminas, minerais e nutrientes debilita o sistema imunológico, o que aumenta a mortalidade, principalmente entre crianças. Os países mais afetados provavelmente serão de renda baixa ou média, em especial na região do Pacífico Ocidental (264 000 óbitos) e no Sudeste Asiático (164.000), sendo que quase três quartos desses óbitos deverão ocorrer na China (248000) e na Índia (136 000).
A modelagem foi liderada pelo Dr. Marco Springmann, do Programa Oxford Martin sobre o Futuro dos Alimentos, realizado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Segundo Springmann, as mudanças climáticas provavelmente terão graves efeitos negativos sobre a mortalidade futura, mesmo nos cenários mais otimistas. “As iniciativas de adaptação precisam ser expandidas rapidamente. Programas de saúde pública de prevenção e tratamento de fatores de risco relacionados à dieta e ao peso corporal, tais como aumento do consumo de frutas e verduras, devem ser reforçados prioritariamente para ajudar a reduzir os efeitos do clima sobre a saúde”.
O pesquisador destaca que muitas pesquisas estão analisando a segurança alimentar, mas poucas vêm estudando de forma mais geral os efeitos da produção agrícola sobre a saúde. “Mudanças na disponibilidade e no consumo também influenciam fatores de risco relacionados à dieta e ao peso corporal, tais como baixo consumo de frutas e verduras, consumo elevado de carne vermelha e ganho de peso corporal. Todos esses fatores aumentam a incidência de doenças não-transmissíveis como doenças cardíacas, acidente vascular e câncer, além dos óbitos causados por essas doenças”, explica.