Por José Eduardo W. de A. Cavalcanti*
De acordo com o compromisso do Governo do Estado de São Paulo, o Projeto Novo Pinheiros tenciona requalificar até 2022 as águas deste canal, já bastante poluídas, que drenam uma bacia de 271 km2 entrecortada por 26 tributários sendo 16 pela margem direita e 10 pela esquerda, além do próprio rio Tietê, na eventualidade das grandes chuvas em que a reversão é acionada.
O perfil sanitário desta bacia, onde vivem 3 100 000 habitantes, com 700 000 vivendo em áreas irregulares, é desolador, visto que apenas 48% dos esgotos são tratados (2,7 m3/s), embora 86% sejam coletados (4,5 m3/s), Além dos esgotos sanitários, o canal recebe também a contribuição de esgotos não domésticos, bem como da carga difusa responsável por quase a metade da poluição do Pinheiros.
O projeto almeja elevar o índice de atendimento de esgotos da bacia coletando mais 73 000 economias e levando para tratamento os esgotos de pelo menos 498 000 economias. Estas medidas estão sendo realizadas mediante o aumento da rede de coleta nas áreas urbanizadas e a sua condução para a ETE Barueri e pela implantação de 5 Unidades de Recuperação da Qualidade (URs), ditas provisórias, visando ao tratamento em tempo seco de 5 afluentes do Pinheiros: Pirajussara, (600 L/s) e seu afluente, o córrego Antonico (180 L/s), Cachoeira (300 L/s), Jaguaré (300 L/s), Águas Espraiadas (180 L/s), de modo a atender a contribuição das áreas irregulares.
Para tanto, a Sabesp prevê um investimento da ordem de 1,5 bilhão de reais, sendo 480 milhões somente para as URs.
Estes investimentos cobrem a extensão da rede coletora e o incremento das ligações prediais o que aliás já está sendo feito pela Sabesp mercê a contratação junto à iniciativa privada de 14 lotes, todos já em execução, assim como as obras de desassoreamento do rio do Pinheiros a cargo da Emae.
Entretanto, as 5 URs que estão em fase final de projeto e licenciamento poderiam ser substituídas com grandes vantagens apenas por elevatórias que conduzissem as águas destes córregos aos interceptores do Pinheiros, via coletores-tronco, por uma série de motivos, dentre os quais se destacam: (i) solução gestada de afogadilho, tendo em vista a ausência de debates junto à comunidade técnica sobre a conveniência de implantação das URs, assim como as respectivas concepções de tratamento;(ii) algumas áreas selecionadas estão próximas às habitações; (iii) ausência de dados históricos acerca das características das águas dos córregos selecionados e de ensaios de tratabilidade prévios o que dificulta idealizar uma concepção segura para as estações de tratamento, aliás a cargo dos próprios consórcios contratados sem a participação da Sabesp; (iv) ausência de um plano de armazenagem, transporte e disposição do lodo com o agravante de se tratar de lodos não digeridos.
Em recente “live”, promovida pelo Instituto de Engenharia, e realizada agora em março, a Sabesp informou que a implantação das URs está em fase final de projeto básico e que apenas uma delas (Jaguaré) teve sua concepção aprovada e licenciada. Contudo, não informou quais as concepções de tratamento estavam sendo cogitadas, fato desconhecido de todos até hoje por parte da comunidade técnica. Apenas, após ser indagada, respondeu por um de seus palestrantes que todas previram tratamento biológico (MBBR) com a exceção da UR Jaguaré que adotou tratamento físico químico seguido de ozonização.
De qualquer forma, nada justificariam 5 novas estações de tratamento na bacia do Pinheiros, algumas de grande porte dotadas de tratamentos biológicos e/ou físico-químicos, (a UR Pirajussara, por exemplo, seria a 7ª maior do Estado) tendo em vista que a ETE Barueri opera com ociosidade com capacidade de receber uma vazão adicional equivalente a que receberiam as URs.
Desta forma, o encaminhamento para a ETE Barueri, (com capacidade de nominal de atender uma vazão de 14.25 m3/s), das águas captadas em tempo seco daqueles córregos (1.56 m3/s) para tratamento conjunto configuraria a solução mais adequada, uma vez que livraria a bacia de unidades de tratamento de águas poluídas, mal localizadas, causando incomodidade aos moradores com emanação de odores devidos a operação, manuseio e o transporte de lodos, dentre outros transtornos.
Contudo, caso esta ideia não prospere, que sejam, pelo menos, encaminhados à rede coletora mais próxima, também por recalque, os lodos biológicos excedentes não digeridos de forma a reduzir os transtornos que fatalmente serão protagonizados pela URs caso o aparato de desidratação, armazenamento, transbordo e transporte de lodos sejam implantados.
*José Eduardo W. de A. Cavalcanti é engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia. E-mail: cavalcanti@ambientaldobrasil.com.br.