Por José Eduardo W. de A. Cavalcanti*
Com a concessão comercial de toda a área do teto e do entorno da Usina São Paulo (antiga “Traição”), com o objetivo de estabelecer no local espaços de lazer e entretenimento, como no Porto Madero, em Buenos Aires, a Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A. (EMAE) pode ter inviabilizado a construção do canal de derivação e a instalação de novas bombas naquele ponto do rio Pinheiros. Isso causará transtornos para a Região Metropolitana de São Paulo e os 17 municípios que integram a Bacia do Médio Tietê, que terão agravados os episódios de inundação, recorrentes no período de enchentes, que começa no final da primavera, intensifica-se no verão e termina no começo do outono.
O controle das cheias é cumprido por meio da operação do canal Pinheiros, que inclui, além de outras estruturas hidráulicas, duas usinas de bombeamento: São Paulo e Pedreira. Ambas encaminham as águas em sentido inverso ao curso do rio, em direção à represa Billings. Essas regras operacionais são acionadas sempre que o nível da água do Pinheiros ultrapassa valores de referência que possam oferecer riscos de transbordamento. O sistema, em operação desde a década de 1940, tem desempenhado papel fundamental na mitigação de transbordamentos dos rios urbanos.
Todavia, considerando-se ter ocorrido expressiva expansão na área impermeabilizada da cidade nas últimas décadas, o que implica aumento muito grande da velocidade de chegada das águas de chuvas nos rios e córregos, reduz-se a capacidade desses cursos de água de absorverem os volumes afluentes em espaços de tempo muito reduzidos.
Se a capacidade de bombeamento do rio Pinheiros está superada, como aliás foi demonstrado na enchente de fevereiro de 2019, fica muito claro que novas bombas deveriam ser instaladas, como já planejado há muito tempo. A última implantada na Usina São Paulo foi na década de 1970. Na Usina Pedreira, a última unidade de bombeamento foi instalada na década de 1980.
Contudo, o projeto turístico Porto Madero – no que pese se justificar no âmbito da economia criativa – está comprometendo o uso da área da Usina São Paulo para sua principal destinação. O desvio de objetivos básicos, está inviabilizando a instalação de novas bombas, com nível de sucção mais baixo, para aliviar as cheias que tantos problemas causam. No local onde originariamente seriam instaladas mais duas, aumentando em mais de 50% a capacidade de bombeamento, está prevista uma bicicletaria para servir à ciclovia que margeia o rio.
É importante ressaltar que a estrutura de bombeamento instalada no Pinheiros também objetiva controlar diretamente as cheias do Tietê e, de modo indireto, dos córregos afluentes deste. Portanto, a instalação de novas bombas na Usina São Paulo é medida essencial para a segurança da população da Região Metropolitana e do entorno da bacia hidrográfica quanto ao controle de cheias. Os riscos não podem ser menosprezados.
*José Eduardo W. de A. Cavalcanti – É engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia – E-mail: cavalcanti@ambientaldobrasil.com.br
Fonte: o autor
Publicação Ambiente Legal, 05/07/2022
Edição: Ana Alves Alencar
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