Por Eric Altit *
Os sistemas tecnológicos estão à disposição para que a educação nas escolas seja mais eficiente, colaborativa e motivadora.
Basta olhar ao nosso redor quando andamos pelas ruas para notar que tudo mundo, o quase todo mundo, está conectado e integrado a uma rede de comunicação. O intercâmbio de imagens, vídeos, links e textos sobre os mais diversos assuntos para grupos específicos de interesse, fazem parte do nosso cotidiano. A questão é que na maioria das vezes, estas informações se dissipam rapidamente e não ficam organizadas de maneira estruturada para que se torne um acervo de conhecimento que possa ser incrementado ou consultado.
Se o mundo está cada mais vez mais conectado, como a educação e as escolas estão reagindo a esta nova realidade?
Diferentes soluções de ensino a distância tem sido usadas há muito tempo, quando, por exemplo, materiais educacionais eram enviados pelos correios e cursos eram oferecidos pelo rádio e televisão. Mas hoje em dia a tecnologia avançou tanto que a distância geográfica é facilmente superada com o uso de ferramentas que fazem você se sentir dentro de uma sala de aula. O ensino a distância permite compartilhar material em todos os tipos de formatos, como vídeos, apresentações de slides, documentos do Word e PDFs, além da realização de webinários (aulas on-line ao vivo) e a comunicação com professores por meio de fóruns de bate-papo e mensagens. Ou seja, é possível oferecer os mais variados conteúdos, além de estabelecer uma comunicação direta com tutores e outros participantes do ambiente educacional.
Existe uma grande variedade sistemas de e-learning (conhecidos como Sistema de Gestão de Aprendizagem, ou abreviadamente “LMS”) e métodos, que permitem a entrega de cursos. Com a configuração da ferramenta certa, vários processos podem ser automatizados, como cursos com materiais definidos, testes de avaliação, emissão de certificados e uma rica variedade de relatórios de desempenho. Trata-se de uma solução acessível que proporciona aos alunos a capacidade de adaptar a aprendizagem respeitando as características específicas de seu modo de vida.
A perspectiva de que escolas municipais tenham o seu próprio Sistema de Gestão de Aprendizagem (LMS) permite vislumbrar que todos os participantes deste ambiente educacional possam contar ferramentas poderosas de colaboração, interatividade, além de acesso a dados estatísticos dinâmicos, sem contar, é claro, com uma infinidade de materiais pedagógicos multimídia que podem ser facilmente atualizados e organizados para serem oferecidos aos mais diferentes perfis de usuários.
O ideal é que cada escola possa ter e administrar o seu LMS e configura-lo para que tenha a sua própria identidade visual com suas cores, padrões e logomarca. Esta questão, embora pareça básica e sem muita importância, é que permitirá a personalização de cada ambiente, dando um senso de pertencimento ao grupo, como se fossem agremiações que tem um espaço virtual para publicarem e divulgarem as suas melhores práticas acadêmicas.
A ferramenta LMS, sendo bem configurada e oferecida, é capaz de se tornar um importante elo entre todos os participantes de uma escola, permitindo, por exemplo, que os coordenadores possam oferecer atividades (curriculares ou não) sobre os mais variados temas (música, esportes, literatura, cidadania, sustentabilidade, etc) e propô-las para os grupos que julgar pertinentes, podendo atender a diferentes niches de interesse (inter ou intra classes). Estes grupos temáticos poderão competir entre si e as ações e resultados serão publicados na plataforma para que todos possam acompanhar. Os ganhadores das diferentes atividades terão direito a prêmios e benefícios que os próprios organizadores podem facilmente definir conforme julgarem mais apropriados, como por exemplo, um ponto a mais na nota, uma refeição diferenciada, ingressos para o teatro, etc. Os melhores e mais participativos serão incentivados para perseverar nos seus temas favoritos e poderão ser chamados para compartilhar o seu projeto com escolas da vizinhança, permitindo uma troca de experiências em escala comunitária.
Além disso, o coordenador de uma escola também poderá usar os recursos do LMS para:
– Acompanhar a analisar o que está sendo oferecido para todos os alunos da escola, de maneira segmentada, conforme seus próprios critérios, como por exemplo, por ano, matéria, turma, tutor, idade, nota, frequência, ausência, etc.
– Postar e analisar pesquisas de satisfação e avaliação de forma rápida para grupos específicos.
– Analisar o desempenho de cada aluno para poder tomar ações preventivas com aqueles que não estão apresentando um resultado satisfatórios (tendência de abandono)
– Analisar, através de relatórios dinâmicos, quais matérias e assuntos os alunos apresentam maior facilidade ou dificuldade e poder tomar medidas corretivas, como por exemplo, reforçar a qualidade do conteúdo que está sendo oferecido, rever materiais que estão mal estruturados e questões mal elaboradas ou com interpretação dúbia.
– Criar grupos de alunos e/ou tutores para atuarem em assuntos ou temas específicos.
– Gerar uma infinidade de relatórios de acompanhamento.
– Participara e interagir diretamente, com o uso de ferramentas colaborativas, como chats e fóruns com o aluno, a turma e o tutor da escola, gerando histórico para consulta posterior.
As possiblidades que o LMS pode oferecer ao professor de uma escola são muitas, entre elas podemos destacar:
– Poder publicar o seu material acadêmico, de maneira estruturada, utilizando uma vasta gama de programas que permitem a geração de telas com recursos gráficos e interativos. Além da maioria dos LMS já oferecerem ferramentas para a criação de material gráfico, também existem várias outras ferramentas poderosas e gratuitas que podem ser facilmente instaladas.
– Inserir as mais variadas mídias, próprias ou disponíveis na internet para enriquecer e apoiar o conteúdo da sua matéria, como arquivos PDF, áudios(podcasts), vídeos, entrevistas, links para outros sites, etc.
– Uma vez publicado o conteúdo, ter a possibilidade de manter este material atualizado de maneira fácil e segura, criando uma biblioteca que poderá, se desejado, ser compartilhada com outros tutores. Esta metodologia permite a criação de um acervo cada vez maior e rico para ser compartilhado e incrementado não só pelos tutores de uma escola, mas das escolas do bairro, do Município e do Estado, criando-se uma espiral virtuosa de colaboração para a estruturação de bibliotecas criadas e mantidas pelos diferentes grupos de conhecimento acadêmico.
– O tutor tem a possibilidade de criar vários bancos de perguntas, exercícios e avaliações para organiza-los e oferece-los das mais variadas formas para diferentes grupos de usuários.
– Criar fóruns com grupos selecionados para tratar de assuntos específicos, criando assim um laço ainda maior de envolvimento com os alunos e outros participantes.
– Criar prêmios e estabelecer benefícios que podem ser muito básicos, mas que irá destacar os usuários que mais se dedicam.
– Ter acesso a uma infinidade de relatórios de acompanhamento por aluno, turma, matéria, etc.
– Coordenar e centralizar as ações pedagógicas em um único ambiente virtual.
– Poder dar acesso para que outros interessados possam entrar a plataforma como convidados para visualizar a estrutura de aprendizagem, os conteúdos oferecidos, as diferentes segmentações dos grupos, participação e dados analíticos.
O LMS também pode se constituir no meio pelo qual o aluno irá demonstrar o seu esforço acadêmico não só diretamente para os seus tutores, mas também, se desejado e configurado, para todos os outros membros da escola. É claro que as atividades individuais, assim como notas e boletins terão a proteção da guarda dos tutores, mas é possível que diferentes atividades possam ser publicada na plataforma para serem compartilhadas para promover aqueles alunos que se dedicaram a realizar trabalhos com mais afinco e dedicação. Ou seja, promover e divulgar os melhores trabalhos para incentivar aqueles alunos que se empenham. A partir de determinado trabalho solicitado pelo tutor, o aluno poderá buscar as mais variadas fontes disponíveis e inseri-las diretamente na plataforma. A cadência da ordem dos materiais colocado já é capaz de demonstrar a ordem lógica adotada pelo aluno. Além disso, os trabalhos de pesquisa podem ser realizados por grupos a ser definidos e criados de inúmeras formas.
As atividades realizadas pelos alunos, grupos e turmas ficam consolidadas e disponibilizados em um espaço de fácil consulta, se tornando um acervo rico a ser gradualmente incrementado. Ou seja, é possível comparar as diferenças de desempenho das turmas a cada ano, permitindo uma melhoria contínua dos processos de aprendizagem oferecidos pela escola.
Esta mesma escola pode selecionar os melhores projetos e ações e compartilha-los com outras instituições de ensino. Isto permitiria a criação de campeonatos, locais, municipais e até nacionais, onde se disputam as melhores práticas de como determinados objetivos educacionais foram atingidos. Os melhores projetos serão agraciados e reconhecidos, levando a um processo de incentivo em busca da melhoria das melhores práticas para o ensino.
Nada impede de que estes campeonatos entre escolas possam ser acompanhados e apoiados por empresas privadas. Elas podem contribuir na oferta de uma infinidade de cursos extracurriculares, assim como ajudar na divulgação e premiação daqueles indivíduos que se destacam na oferta de soluções educacionais para as escolas.
Os recursos tecnológicos já estão disponíveis, consolidados pelo mundo a fora e prontos para serem aplicados na melhoria da educação nas escolas. No entanto, é preciso que uma estrutura mínima de informática seja instalada e que o pessoal receba um treinamento adequado, não só técnico, mas que seja capaz de despertar as potencialidades que as ferramentas digitais podem oferecer para apoiar as atividades acadêmicas em benefício de um aluno já envolto no mundo cibernético. A questão da carga horária de empenho para lhe dar com esta tecnologia, além das atividades rotineiras da escola, também devem ser tratadas e negociadas.
O MEC, através de sua “Plataforma de Recursos Educacionais Digitais”, estruturou um ambiente de EAD, em que diversas instituições colaboram na produção e disponibilização de conteúdos digitais. Este material pode ser acessado e baixado pelos professores e usados como apoio nas aulas. Sem dúvida, esta estratégia é interessante e bem vinda, pois este ambiente pode se tornar um grande acervo de conteúdo do qual o mundo acadêmico pode consultar e usar a qualquer momento. No entanto, este projeto não chega e fazer parte da rotina de uma escola e nem as potencialidades dos recursos de um LMS são aproveitados. É necessário também uma iniciativa que vá num caminho que vá no sentido inverso, isto é, que as melhores ações e projetos sejam criados dentro das próprias escolas e que elas, entre si, selecionem, prestigiem e indiquem os projetos mais relevantes. Este engajamento, que parte da base, trará a sensação de envolvimento e comprometimento compartilhado com os resultados desejados.
*Eric Altit – Desenhista industrial com mestrado em computação gráfica pela SVA de Nova Yorque. Trabalhou no centro de pesquisas da IBM em NY. Ganhador do prêmio Emmy 1989 por projeto para a rede de TV CBS para o Superbowl. Desde 1992, no Brasil, empresário com especialização em tecnologias de treinamento e educação a distância, com especialização na plataforma de gestão de conhecimento MOODLE. Produziu uma infinidade de diferentes conteúdos eletrônicos para várias empresas e também para o programa PROADI-SUS, em parceria com o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, SP, e o Ministério da Saúde.