Por Simone Alli Chair*
Vivo a questão do TEA – Transtorno do Espectro Autista há 34 anos em todos os setores de minha vida pessoal, profissional, familiar, social e comunitária. Mudou alguma coisa de lá para cá? Pouco. Pouquíssimo.
É uma deficiência que traz grande impacto familiar, seja no nível mais leve de suporte, moderado ou severo do diagnóstico. O descaso se emaranha nas mais diversas esferas, como na política, que finge um interesse que não tem na causa, salvo raríssimas exceções, nas escolas que não se capacitam de acordo com as necessidades do aluno autista, na rede pública que desconhece os sintomas e as características, na empregabilidade que ignora esse trabalhador e a visão é a do capacitismo, na sociedade que possui uma distorcida ideia do que seja realmente o autismo e por aí vai ladeira abaixo todo o respeito e direitos dessa comunidade perdida e invisível aos olhos dos neurotípicos.
O tratamento é extremamente oneroso, impossibilitando a esmagadora maioria das famílias de começar um de maneira decente e especializado. Crianças que deveriam começar cedo uma intervenção precoce acabam pulando de profissional, lugares, clínicas, rede pública como pipocas, jogadas de um lado para outro, sem continuidade e eficácia.Os convênios mantêm uma rotatividade enorme entre seus credenciados e não se mantém uma linha terapêutica promissora de resultados. As relações familiares se rompem, a maternidade fica solo e o suicídio entre essas mães tem crescido ao longo dos anos.
Cansada de assistir tudo isso durante tanto tempo e ver uma ninharia de conquistas que não fazem jus ao que essas pessoas mereciam de fato, pois não se trata de favor e sim de direitos e que só sabem sofrer de maneira absurda diante de nossa realidade.
No Brasil estima-se cerca de 2 milhões de autistas, a maioria sem nenhum tipo de apoio. Fora os que não conseguem nem o básico que é o diagnóstico. Impossível ignorar isso.
É imoral virar as costas para isso. Deixo aqui meu protesto e minha indignação, mas não desisto e continuo firme e forte em meu propósito de ativismo na causa para tentar minimizar a dor dessas famílias que a sociedade, as entidades, os políticos e os governos teimam em ignorar.
*Simone Alli Chair – Graduada em Serviço Social, pós-graduada em TEA, em inclusão e direitos da pessoa com deficiência, transtornos comportamentais escolares e cursando pós em psiquiatria e transtornos da infância e adolescência.
simone@vozesatipicas.org
WhatsApp 11 5890-7637
www.vozesatipicas.org
Fonte: Artigo Atípico-AVA Associação Vozes Atípicas
Publicação Ambiente Legal, 08/01/2024
Edição: Ana Alves Alencar
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