Passada as Olimpíadas, o impeachment de Dilma, o “Fora Temer”, as eleições municipais… o grande problema nacional – zika vírus e microcefalia – volta à cena no Brasil e no mundo.
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
O Brasil está no centro de uma polêmica de graves consequências, e que nada tem a ver com “Fora Temer” ou “Volta Dilma”.
Na verdade, o caso tem muito a ver com a displicência oficial no trato de questões que afetam a saúde de milhares de brasileiros e preocupam autoridades estrangeiras.
Como já tive oportunidade de dizer em outro artigo, estamos enfrentando uma pandemia de grandes proporções, no entanto nosso maior problema não é o inimigo – o inseto transmissor das doenças e, sim, as indefinições políticas, as falhas estruturais, o saneamento e a falta de atitude.
Conforme divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil detém o maior número de casos de microcefalia entre todos os países afetados peça epidemia da zika, o que tem intrigado as comunidades médicas que estudam o assunto.
Por pura sorte, nenhum caso de contaminação foi notificado durante a realização dos jogos olímpicos,entre turistas na cidade do Rio de Janeiro. Isso não evitou, porém, que a preocupação com o assunto não aumentasse no âmbito internacional.
As estatística impressionam e o assunto foi o tema no encontro do comitê emergência da OMS realizado em Genebra no final de agosto.
Estudos sobre o alto número de casos de microcefalia no Brasil estão sendo realizados a fim de descobrir as causas e, assim, promover ações preventivas. Os estudos seguem em várias direções no sentido de elucidar e tratar as possíveis causas do alto número de casos de microcefalia devido infecção pelo zika vírus.
Segundo o virologista da USP, Dr. Paolo Zanotto, as causas mais prováveis para a expansão da doença podem se resumir à enorme variação do vírus, o lapso temporal entre o início da epidemia e sua interação com outras doenças e os fatores socioeconômicos – entre eles a falta de saneamento adequado existente nas regiões mais atingidas.
Tais referências já estavam presentes quando o surto apareceu… Não sofreram qualquer alteração.
Há outro fator intrigante. A OMS investiga o fato da infecção por zika vírus no Brasil – de origem asiática – provocar comprovadamente microcefalia e má formação em fetos, tornando-se mais perigosa que a cepa africana, sua irmã gêmea.
A interrelação é importante, porque revela, sobretudo, o enorme descaso oficial para com a questão, ocorrido em todo o tempo de evolução da epidemia. De fato, os casos de Zika vêm ocorrendo na África há muito tempo e, somente agora estão sendo observados e estudados como prováveis causadores de microcefalia.
A grande preocupação da OMS é a propagação do zika. Existe forte evidência de que sua transmissão não se dê apenas pela picada do mosquito aedes aegypti. Há evidências de transmissão por contato sexual, saliva e urina e transfusão de sangue (os estudos, no entanto, ainda não são conclusivos).
Para o Dr. Zanotto, é necessário um estudo de sorologia anterior à epidemia para saber quantas pessoas de fato estão infectadas. “Imagine se no Nordeste do Brasil 80% da população já tiver sido infectada? Aí os números de microcefalia fariam sentido. Mas, se menos de 2 milhões tiverem sido infectados, ainda haveria muitos milhões (de pessoas vulneráveis). Aí a doença ficaria muito mais complicada do que parece”, explicou o cientista à BBC de Londres.
A OMS está atenta, ainda, à extensão das manifestações do vírus e suas variações. Ao todo, 72 países foram atingidos pela epidemia do zika vírus.
As particularidades nos casos brasileiros merecem estudos mais aprofundados, pois o país é disparado o primeiro lugar em casos de infecção pelo zika e de microcefalia em recém nascidos. No Brasil, até agosto foram confirmados 1.845 casos de bebês nascidos com más-formações no sistema nervoso associadas ao vírus
O diretor do comitê emergencial da OMS, o médico David Heymann, explicou durante a reunião de agosto que vários fatores devem ser avaliados, como aspectos genéticos, alimentares e de contaminação ambiental, além do socioeconômico, entre outros.
“Há muitos estudos em andamento, inclusive com grupos de controle, especialmente no Nordeste do Brasil, para explicar as variações entre as incidências de complicações.” – explicou o diretor Heymann.
A relação com outro impressionante descaso do Poder Pùblico no Brasil salta aos olhos: cerca de 80% da população do Nordeste já teve dengue – fato que pode estar relacionado com o grande número de bebês com microcefalia nascidos nessa região…
As pesquisas seguem no sentido de avaliar os diversos fatores e a interação entre eles para se chegar a um denominador comum e descobrir as causas de microcefalia, não somente no Brasil mas no mundo todo.
Afora isso, as especulações continuam, e a administração pública brasileira acumula medalhas…nas modalidades “descaso olímpico”, “burocracia incompetente” e “insensibilidade social”.
O verdadeiro espírito de luta, ao que tudo indica, está restrito à OMS e à comunidade médica e científica…
Fontes:
https://www.ambientelegal.com.br/governo-federal-combate-o-zika-virus-com-piadas/
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-37262928
https://www.ambientelegal.com.br/as-conexoes-do-zika/
https://www.ambientelegal.com.br/aumentam-as-evidencias-de-que-pernilongo-tambem-pode-transmitir-zika/
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado, sócio-diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Consultor ambiental, com consultorias prestadas ao Banco Mundial, IFC, PNUD e UNICRI e governo brasileiro. É integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional. Membro Emérito da Comissão de Meio Ambiente da OAB/SP. Jornalista, é Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal.
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