Por Afra Balazina e Diego Igawa para o Ecoa
Streaming em vez de sala de cinema, aplicativo de entregas no lugar da mesa do restaurante, videoconferência substituindo o escritório. A covid-19 e a digitalização acelerada transformaram nossa relação com o espaço público. Jovens da geração Z, muitos dos quais começaram a fazer a transição para a vida adulta durante a pandemia, preferem encontrar os amigos em casa.
Ficamos mais reclusos ou simplesmente mudamos nossas prioridades? Apostamos nessa segunda opção. Isso porque o número de visitas aos parques nacionais do Brasil atingiu um novo recorde em 2023 – foram mais de 11,8 milhões. É um aumento de 11% em relação a 2022 e de 21% na comparação com 2019. Mais do que termos, enfim, retomado os hábitos anteriores à pandemia, os números mostram que passeios nos parques vêm se tornando um programa cada vez mais popular.
Embora tenhamos adotado novas formas de entretenimento e trabalho, o desejo de contato com a natureza só cresce. Talvez a pandemia tenha feito com que muitas pessoas repensassem sua relação com o meio ambiente e compreendessem a importância das atividades ao ar livre. As visitas aos parques nacionais indicam uma busca por qualidade de vida e bem-estar.
E tem sido assim tanto nos fins de semana quanto nas férias. A pesquisa “Tendências de Turismo 2024”, divulgada pelo Ministério do Turismo, mostra que o ecoturismo se tornou a segunda principal motivação do viajante brasileiro. Embora destinos de sol e praia continuem isolados em primeiro lugar, sendo os favoritos de 59% das pessoas, o turismo de natureza vem em seguida, com 29% das preferências.
Alguns dos destinos turísticos mais concorridos do país estão em parques nacionais: as Cataratas do Iguaçu, o arquipélago de Fernando de Noronha, Jericoacoara e Lençóis Maranhenses são só alguns deles. Mas o grande campeão é o Parque Nacional da Tijuca, a popular Floresta da Tijuca, que recebeu quase 4,5 milhões de pessoas no ano passado.
Ainda assim é pouco. Os parques nacionais dos Estados Unidos, por exemplo, registraram em 2023 um total de 325,5 milhões de visitas recreativas – um número quase trinta vezes maior que o brasileiro.
Algo que muita gente não sabe é que todo parque nacional é uma área protegida, ou uma Unidade de Conservação (UC), que tem como objetivo preservar a biodiversidade, a paisagem e os recursos naturais brasileiros. Os benefícios, portanto, são muitos. Se as atividades ao ar livre são benéficas para a saúde física e mental da população, reduzindo o estresse e a ansiedade, o aumento da visitação impulsiona a economia local por meio do turismo e da geração de empregos. Estudos estimam que o impacto econômico positivo da visitação em UCs brasileiras é da ordem de R$ 6 bilhões ao ano.
Isso sem falar no objetivo central desses espaços: manter o equilíbrio ambiental, proteger espécies ameaçadas e garantir o futuro das próximas gerações ao colaborar com a manutenção dos serviços ecossistêmicos, como a purificação do ar e da água, a polinização das plantas e a regulação do clima.
Só na Mata Atlântica, bioma onde vive a maior parte da população brasileira e o mais devastado do país, o impacto econômico positivo das UCs para a manutenção da qualidade da água captada para consumo humano é estimado em mais de R$ 5 bilhões ao ano, segundo estudo de pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro). Além disso, esses espaços são fundamentais para a realização de pesquisas científicas e para a promoção da educação ambiental, fortalecendo a conscientização e o conhecimento sobre a importância da conservação da natureza.
A pesquisa “Parques do Brasil: Percepções da População”, realizada em 2022 pelo Instituto Semeia, indicou que 66% das pessoas já tiveram a experiência de visitar um parque natural. Mas quem quer começar a conhecê-los mais de perto tem neste domingo (21) uma ótima oportunidade.
A campanha anual “Um Dia no Parque”, organizada desde 2018 pela Coalizão Pró-UCs, promove uma série de atividades em mais de 350 Unidades de Conservação pelo Brasil – como caminhadas guiadas, observação de aves e oficinas educativas para públicos de todas as idades. Os números falam por si: o Brasil está cada vez mais próximo da nossa natureza – e os parques nacionais são indispensáveis nessa jornada.
Fonte: SOSMA
Publicação Ambiente Legal, /08/2024
Edição: Ana Alves Alencar04
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