Por Ana Alencar
Após o desastre socioambiental de Bento Rodrigues e Mariana, provocado pelo rompimento da barragem do Fundão, de rejeitos da mineradora SAMARCO, controlada pela VALE e BHP Billiton, um grupo formado por várias organizações não governamentais, nacionais, regionais e locais, resolveu percorrer o Rio Doce, seguindo a Lama da poluição. A Caravana contou com a participação de cerca de 150 caravaneiros somando mais de mil pessoas mobilizadas no percurso pelo Rio Doce, desde as nascentes do Alto Rio Doce à sua foz, na Vila de Regência, município de Linhares (ES).
A Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce – este o nome do movimento, teve início em 11 de abril e, por um mês, seguiu a trilha da lama da SAMARCO. Seus integrantes buscaram conhecer os estragos causados e verificar como estão vivendo as comunidades diretamente atingidas pelo desastre – um verdadeiro crime ambiental.
Caravanas não são apenas viagens de aprendizados e intercâmbios. Também objetivam construir laços de solidariedade e luta política, dar visibilidade às denúncias e conflitos sociais, divulgar experiências de resistência e de autonomia. As Caravanas também valorizam a cultura regional e popular, os costumes e comportamentos das comunidades por onde passam.
A Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce visou obter uma leitura diferenciada sobre a tragédia, analisar os impactos na sociedade, ouvir denúncias e reivindicações e apontar, de forma efetiva, soluções para a retomada do desenvolvimento territorial em bases justas e sustentáveis.
Durante cada trajeto seguido, a enorme diversidade da região se revelava, tanto nos aspectos naturais quanto nos sociais.
Pequenas e grandes cidades, históricas e turísticas, vales, montanhas, planícies, matas e estradas foram percorridos. Terras devastadas, contaminação, agricultores arruinados, indígenas e quilombolas atingidos, formam o saldo de um desastre não resolvido, sequer compensado ou superado.
A Caravana foi acompanhada pela imprensa engajada, como a Pública Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo e a agência Agroecologia, que registraram as impressões em entrevistas, fotos e vídeos.
Ao final do trajeto, foi publicada Carta Política, descrevendo as impressões, denúncias e reivindicações. A ideia é balizar critérios para a melhor forma de ressarcir a população atingida, dos danos, e recuperar o ecossistema.
Dignidade é a palavra-chave, é o bem que parece ter sido ignorado em meio ao conflito de corporações insensíveis, dirigentes arrogantes, administradores pusilânimes e operadores do direito atabalhoados.
A situação deplorável de abandono em que se encontram grande parte das comunidades, ao longo do Rio Doce, restou atestada em todas as cores, pelo grupo.
Fato: a barragem continua despejando rejeitos contaminados. O acordo firmado entre poluidores e governos federal e estaduais, ministério público e Justiça, minimiza a dor, mas seus subscritores ainda terão um longo caminho a percorrer, se o objetivo for mesmo reparar a dignidade, a renda e a condição ambiental de ribeirinhos, indígenas, quilombolas, agricultores e habitantes das cidades atingidas.
Leiam a íntegra da Carta Politica da Caravana Territorial do Rio Doce aqui.
Assistam o vídeo editado pela Publica:
Fontes:
http://www.agroecologia.org.br/2016/04/26/carta-politica-da-caravana-territorial-do-rio-doce/
http://apublica.org/2016/05/seis-meses-depois-da-lama-da-samarco-comunidades-do-rio-doce-lutam-por-justica/
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