Um grupo de poetas se reuniu para dar voz à ela, a ÁGUA!
POEMINHA PARA ELA
Antes que eu seque
e a minha aridez possa vir à tona,
Antes mesmo das rachaduras
tatuarem a minha existência,
me dê um gole de você.
Deixes cair em minha boca
uma gota, só uma gota…
assim me sentirei
lubrificada para os entraves
que o tal progresso
teima em preponderar…
Sacies em mim a sede
de alguém
que muito vê,
pouco pode fazer,
diante do desatino
que se formou
pela falta da tua presença
construída pelo cego
que não quer ver
e insiste na própria
secura do corpo,
da alma e da
água…
água de beber…
Célia di Oliveira
ÁGUA DE JANEIRO
A chuva que cai e que mata
a luta que esgota a força do pobre
Enchente que leva e destrói
Tristeza que dói e machuca
Lágrima inunda os olhos
transborda a alma de tanta amargura
Chuva que cai e que mata
a luta que esgota a alegria do pobre
Enchente que mata a gente
que leva a prece, o móvel, a vida
Chuva de lágrimas de Deus
enche o coração, afoga filhos seus
Vida que foi e não volta
De dureza e revolta
molha o que crê e o ateu
O homem que pensa no que constrói
não pensa que ele mesmo destrói
Não pensa porque não lucra ao pensar
E morre, e chora quem morre, e morre de chorar
Vida vazia, cheia de água, cheia de lágrima, cheia do mar
do lago e do rio, cheia do vazio a mãe a lamentar
E volta pro céu, e faz a prece, e aí é que esquece
Não basta rezar…
Muda de lugar e consciência
Tem paciência, muda contra quem lutar
O inimigo mora dentro do mesmo coração
Que chora na chuva, que se afoga no carrão
Lixo que se sente, lixo que entope, lixo que causa dor
Lixo que antes de matéria está dentro da cabeça,
Cabeça que se entope da cheia da ambição
Chove tanta coisa, tanto que transborda
Salva a ideologia, salve a pátria mãe que o pariu
Salva o que comprou, salva o que vendeu
Não salva a alma, que o lixo cobriu
Não salva a vida, que não valorizou
Não salva a mãe, natura mãe que consumiu
E no fim não lucrou, não lucrou…
E no fim apostou e perdeu…
E no fim culpou quem mais sofreu.
Elen Rodrigues
CHUVA QUE VEM DO CÉU
A terra sabe que você nos faz bem
A semente festando o chão
E a roça feliz descansa
Na ternura da brisa mansa
E no calor dos prados do meu sertão…
Chuva que vem do céu
Acarinhar a grama tenra desses campos
Alimentas as trilhas que me norteiam
Ofertando água fresca ao ribeirão
Os cachos de minhas tantas esperanças
Que a paz na minha vida simples, semeiam…
Chuva que vem do céu
Molhar o barranco e o carreador
Lavar as mãos grossas deste lavrador
Que, com muita fé, mesmo sem qualquer eira
Faz dessa moça de minha paixão
A cantiga tênue de um sonhador…
Chuva que vem do céu
Afofar a dureza desse aqui
A terra sabe que você lhe faz bem
E a roça feliz aplaude
E responde com todo alarde
As confissões do Bem-te-vi!
Chuva que vem do céu
Sobre as costas serenas dessas colinas
Cada pingo, uma nota da canção
Onde as rimas dizem da flor
Daquela moça do meu amor
Padroeira do meu coração!
João Paulo Brasileiro
ÁGUA
Fim de tarde, acaba o expediente.
No ônibus lotado, o suor brota dos poros.
Na cabeça, uma ideia fixa.
O descanso debaixo do chuveiro.
Eita, que coisa boa,o melhor lugar para relaxar
e esquecer da vida!
Ao chegar em casa, que desespero!
A torneira está seca!
Tomado pela ira esbraveja:
-A culpa é do prefeito!
Bem que avisaram para não votar nesse sujeito!
No terraço, acende um cigarro, e procura
consolo entre as estrelas.
E o som que delas emana, faz seu rosto
ficar rubro de vergonha.
-A culpa? Que importa ela agora?
Se ela é minha, dela ou sua?
O que importa é que a seiva da Mãe Terra
está indo embora.
E no teu seio a natureza sofre e chora.
Por um pouco mais de cuidado ela implora.
A verdade é nua e crua.
A culpa é toda nossa se a água do planeta
está ficando escassa.
Olhe em sua volta e repara.
O lixo, as queimadas, o desmatamento
cujo lucro sustenta o nosso luxo.
Falta água nas cidades, onde as grandes
empresas instalam fábricas e faz dos rios
depósitos de rejeitos.
No campo, o ecoturismo mal educado
faz das nascentes suas latrinas.
Percebe agora?
Esta é a forma que a natureza tem para
expor sua revolta.
Temos em nossas mãos a oportunidade
de reverter este quadro e mudar o curso
da história.
Ou tomamos vergonha na cara,
arregaçamos as mangas e cuidamos
verdadeiramente do meio ambiente,
ou,
nos postamos na fila de espera
nesta caravana que a NASA está
organizando e vamos embora para Marte.
E entregamos de vez a nossa “casa”
ás …baratas!
Delmary Lobato
ÁGUA ALMA DAS NASCENTES…
Amplitude magnífica da natureza sem igual
Guarda em seu núcleo, em sua essência vital
Única e singular veia da magia evolucional
Amparada por mata, florestas e relvas, de forma especial
Aplica suas formas e belezas em rios, lagos, nascentes
Lisonjeio olhar do sol em seu brilho resplandescente
Mostrando a tudo, à todos sua importância trancendente
Antes pura, genuina, cristalina, íntegra, envolvente
Desenvolveu pela ação humana de caráter ambicioso,
Asfixia em suas bases, poluição, morte, um odor tenebroso
Sem vida, sem sentido, sem nenhum conceito honroso
Nunca antes, porém, ouviu-se falar tanto em preservação, conservação
Assim, dessa forma, ainda temos chance de prestar mais atenção
Sanar nossa loucura insana dessa ganância humana e partir para ação
Conjuntamente com os poderes públicos, sociedade, nós como simples cidadãos
Emergencialmente agirmos sim em pró a uma responsabilidade de toda uma nação
Não importa o tempo, mas sim o recomeço dessa conexão, ainda que
Tardia, mas possível de progresso sem absurda degradação
Exclusivamente pautada no bom senso e na nova concepção
Saudável, sustentável de alma lavada e nascentes limpas, renascendo em nosso chão!
Karina Bruno
DA ÁGUA
Necessidade
Essencial quando do céu desaba
Nas matas, campos e cidades
Nos rios, lagos, desertos
Em mares onde deságua
Excesso
Estragos ou benção quando é pé d’água
Carência
Lenta morte quando a seca nos afoga
Água
Quando limpa
Alivia
Sacia
Higieniza
Que molha o mundo
Molha a vida
Dá-nos vida
Água
Que dentro de nós percorre
Seres vivos que sem ela
Dentro e fora
Morrem
Ana Alencar