Educação ambiental e cooperação entre sociedade e poder público são soluções para minimizar efeitos das chuvas
Por Vitor Lillo
“Área de risco é aquela onde o desastre ainda não aconteceu. Em São Paulo, os desastres já estão acontecendo”. As palavras da professora e Solange Terezinha de Lima Guimarães, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), especialista em gestão de catástrofes ambientais, definem bem o caos vivido pelos paulistanos em todos os verões quando chuvas torrenciais assolam a cidade.
As intempéries são uma constante na história da metrópole, mas especialmente no século passado a situação piorou. O meteorologista e pesquisador Shigetoshi Sugahara, do Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet) explica o porquê: “A intensa urbanização é a responsável pelo aumento da frequência e intensidade das chuvas”.
Com o crescimento desordenado de São Paulo, áreas verdes deram lugar a bairros residenciais e industriais. Isso trouxe a poluição que alterou o regime de chuvas na região, além da impermeabilização do solo (que chega aos 80% em alguns bairros da zona urbana) e da ocupação das várzeas em torno dos rios que dificulta o escoamento das águas pluviais.
O lixo é apontado como um dos agravantes dos efeitos da chuva na Capital. Segundo estimativas, 18 mil toneladas de lixo são produzidas diariamente no município. Para Solange de Lima Guimarães, a política de manejo do lixo é ineficaz e provoca outro problema: “Esses detritos acabam se acumulando nos rios e em galerias pluviais o que afeta todo o sistema de drenagem”, explica.
Outro fator que precisa ser levado em conta é a construção irregular em áreas de risco. Dados oficiais apontam que 115 mil pessoas vivem em 29 mil imóveis irregulares. Murilo Celso Campos Pinheiro, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), classifica a situação como ‘muito delicada’. “Temos que levar em conta a questão social e isso exige uma atenção maior do Poder Público”.
Defesa Civil na linha de frente.
Se os efeitos da meteorologia são inevitáveis e imprevisíveis, é possível, porém, prevenir e minimizar os danos provocados pelas intempéries. Na capital paulista, esse trabalho é desempenhado pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMDEC), órgão subordinado à Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU).
A COMDEC atua em conjunto com as 31 subprefeituras da Capital e também com o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar para situações de emergência. É composta por cinco coordenadorias responsáveis pela prevenção de riscos, resgate, busca e salvamento e também de recuperação de áreas de risco.
Em apoio a essa estrutura há o trabalho do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), órgão da Prefeitura responsável por fazer as previsões meteorológicas para a cidade de São Paulo. Organiza em conjunto com a Defesa Civil, a “Operação Verão”, durante a qual o trabalho de monitoramento é intensificado e informa a população sobre pontos de alagamento e acúmulo de chuvas em tempo real.
Cooperação é a solução
Para Solange de Lima Guimarães, a cooperação da sociedade civil e o Poder Público é importante, sobretudo para fins de prevenção: “É preciso que os órgãos governamentais de defesa civil estejam sempre em diálogo com as comunidades para que juntos desenvolvam políticas de conscientização sobre meio-ambiente e ocupação do solo”.
Em novembro, o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP) enviou carta ao então prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), com sugestões para minimizar os danos causados pelas enchentes em São Paulo. Foram sugeridas soluções para coleta de lixo e limpeza de galerias. Segundo informação do sindicato, as sugestões foram bem recebidas e serão acatadas pelo novo prefeito.
Cooperação entre poder público e sociedade com foco em ações preventivas são duas palavras-chave da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), sancionada em abril de 2012 pela presidente Dilma Rousseff.