Se de fato as palavras representarem uma intenção, é preciso despertar o país, porque o Brasil não merece passar pela tragédia comunista.
Por Maynard Marques de Santa Rosa*
“Sou comunista, graças a Deus. Sigo o que Lênin recomenda.”
Foi o que declarou, expressamente, o ministro recém-aprovado pelo Senado para integrar a suprema corte.
Mas, quem foi Lênin? O menchevique Alexander Potresov, em 1927, resumiu em uma frase: “Foi um gênio do mal”. E o historiador Dmitri Volkogonov, debruçado nos arquivos secretos, após o colapso da União soviética, assim respondeu: “Foi homem de uma só dimensão. Parece ter amado uma única coisa: o poder”.
Lênin voltou à Rússia em abril de 1917, “plantado” pelo inimigo alemão para destruir o seu país. “A liderança bolchevique foi comprada pelos alemães. Foram mais de 50 milhões de marcos-ouro. O resultado disso foi o Tratado de Brest-Litovsk” (pág. 21 e 22). Naturalmente, foi poupado do estigma de traidor pela narrativa histórica.
A ideia de implantar o terror como método de governança também foi sua. Para isso, criou a malfadada Cheka e instituiu os seksots, uma comunidade de colaboradores oficiosos que chegaria a 11 milhões, no ano da morte de Stalin. O Politburo e o Comitê Central, criaturas institucionais da sua lavra, “assumiram uma nova forma de absolutismo ideológico e político, que controlava cada aspecto da atividade pública e estatal” (pág. 64).
Revolucionário messiânico, a propaganda o transformou no profeta predestinado, e o leninismo, na religião estatal dos ateus. “Os mitos sobre ele foram fabricados, e sua canonização virou política estatal”.
Na contabilidade macabra apurada pelo autor de “Os Sete Chefes do Império Soviético”, cerca de um terço da população cossaca foi exterminado por ordem de Lênin, e os leninistas foram responsáveis pela perda de 13 milhões de vidas na guerra civil (pág. 67). Portanto, uma personalidade genocida.
No seu final, Lênin teve um desfecho pessoal compatível com a sua obra. Após quatro derrames, faleceu aos 53 anos de idade, em 1924, mas não sem ter amargado, em vida e impotente, à usurpação do seu poder. Stalin chegou a redigir uma nota ao Politburo, dizendo que ele implorava por uma dose letal de cianeto de potássio. “A esposa, Krupskaya, insistiu para que o desejo de Ilyich não fosse recusado. Ela própria tentou administrar, pessoalmente, a dose ao marido, mas perdeu a coragem” (pág. 60).
Volkogonov concluiu: “Não foram seus escritos, mas sua capacidade de converter o conceito de Marx da luta de classes numa ferramenta para a conquista do poder – seu objetivo principal –, que fez de Lênin um gigante da história” (pág. 74).
A sessão que aprovou a indicação de Flávio Dino representou uma encenação parlamentar de resultado combinado, o que evoca a necessidade de revitalização e ampliação da Operação Lava-Jato como programa nacional de combate à corrupção.
Como os métodos leninistas de ação direta não são mais aplicáveis, é provável que o novo ministro venha a reforçar a ala gramscista da Corte, em seu propósito “iluminista”, nos termos anunciados pelo próprio presidente do STF.
O ato jurídico que liberou o condenado pelo mais notório processo de corrupção da história do país, aproveitando o clima paralisante da pandemia e o sofisma de um argumento acessório, foi uma ousadia de índole leninista, uma afronta direta à ordem tradicional e à opinião pública.
Após a aprovação de Dino, o presidente declarou, eufórico: “Vocês não sabem como estou feliz, hoje. Pela primeira vez, na história deste país, nós conseguimos colocar na Suprema Corte um ministro comunista”. Palavras partidas dele “são apenas palavras, nada mais que palavras”, na mais pura acepção de Shakespeare.
No entanto, desde que se formou o vácuo da omissão militar, após os infaustos de 8 de janeiro, passou a tomar corpo uma sanha reformadora de iniciativa dos partidos radicais, do governo e do próprio Judiciário, que avança com ousadia insana, com a conivência do Legislativo e a indecisão do Ministério Público, pressionando os limites constitucionais.
Já está em pleno vigor a ordem ditatorial de um sistema difuso, onde não se personaliza o ditador, mas as garantias de liberdade estão relativizadas. Instalou-se o medo. O direito de propriedade está ameaçado. E o risco da tirania se aproxima.
Se de fato as palavras do presidente representarem uma intenção, é preciso despertar o país, porque o Brasil não merece passar pela tragédia comunista.
Nota:
livro citado: “OS SETE CHEFES DO IMPÉRIO SOVIÉTICO”, por Dmitri Volkogonov, Editora Nova Fronteira S.A.; Tradução: Joubert de Oliveira Brízida, Rio de Janeiro, 2008
*General de Exército Maynard Marques de Santa Rosa é oficial reformado do Exército Brasileiro, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Resende/RJ), tendo servido em 24 Unidades Militares do Território Nacional durante 49 anos de atividade na carreira. Possui mestrado pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Rio de Janeiro e doutorado em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, também do RJ. No exterior, graduou-se em Política e Estratégia, em pós-doutorado no U.S. Army War College (Carlisle/PA, 1988/89). Foi Ministro-chefe da secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), no Governo Bolsonaro (2019).
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 18/12/2023
Edição: Ana Alves Alencar
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