Por Ricardo Viveiros*
Hoje lembramos 89 anos que as mulheres podem, oficialmente, votar no Brasil. Isso significa um triste passado, no qual muitas de nossas bisavós, avós e, até mesmo, mães não puderam eleger os seus representantes em todos os níveis (municipal, estadual e federal), embora vivessem e trabalhassem sob o poder deles.
O que hoje é um direito de todos, independente de raça, gênero ou opção sexual, antes era apenas um privilégio de homens brancos e ricos. A justa transformação só aconteceu pela coragem e determinação das sufragistas, mulheres de todas as etnias e níveis sociais que somaram na luta por um objetivo: conquistar os seus legítimos direitos, inclusive o de votar e ser votada.
Este dia 3 de novembro relembra essa luta e tem a finalidade de destacar um movimento de protagonismo feminino tão importante para a igualdade social e política no Brasil. Foram algumas as líderes sufragistas, e aqui lhes redemos nossa gratidão na lembrança da cientista paulista Bertha Lutz – líder feminista, responsável, na condição de deputada federal, pela conquista legal do voto feminino no Brasil. Além de outras vitórias, como a busca permanente da igualdade salarial, a redução da jornada de trabalho (que era de 13 horas por dia) e a licença maternidade de três meses.
Não se pode ignorar os direitos de 51,5% da população brasileira, hoje composta por mulheres. Suas condições de vida têm que estar equiparadas com as dos homens. O voto feminino cuidou dessa meta, buscar igualdade e lutar por positivas transformações. O respeito às mulheres fortalece a justiça e a democracia.
É curioso constatar que o primeiro país do Mundo no qual a mulher teve direito a voto foi a Nova Zelândia, em 1893; por outro lado, o voto feminino só foi conquistado na desenvolvida Suíça, em 1971, tendo apenas os homens “concedido” esse direito em histórica votação.
O país do Mundo, hoje, com a maior presença de mulheres em cargos eletivos parlamentares é Ruanda, na África, com 62%, seguido de Cuba e Bolívia com mais de 50%. Consciência social não tem ligação direta com desenvolvimento. No Brasil são apenas 15% de mulheres na política, menos do que na Arábia Saudita, Líbia, Marrocos, Afeganistão, Somália, Iraque, Sudão do Sul.
Não pensem que a conquista do voto feminino encerrou a busca de igualdade de sexo, faltam muitas coisas ainda em um longo e duro caminho a ser trilhado. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil ocupa a 9ª posição, entre 11 países latino-americanos, na participação das mulheres na política. Dos 70 mil cargos eletivos, apenas 12,3% são ocupados por mulheres, aponta pesquisa feita pelo Senado Federal brasileiro.
Só com a concreta participação da mulher na política, com presença feminina nas bancadas partidárias, será possível, com sua voz presente e escutada, promover mudanças e derrubar errôneos comportamentos socioculturais, preconceitos e discriminações fundamentadas em falsas premissas de inferioridade e estereótipos do papel da mulher na sociedade.
É hora de crescer, responsavelmente, também na política. Não basta votar, é preciso ser votada.
*Ricardo Viveiros é jornalista, escritor e professor. Doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor de vários livros, entre os quais Justiça Seja Feita, A Vila que Descobriu o Brasil e Pelos Caminhos da Educação.
Fonte: o autor
Publicação Ambiente Legal, 03/11/2021
Edição: Ana Alves Alencar
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