Por José Eduardo W. de A. Cavalcanti*
Mutações de vírus são comuns e esperadas, e a maioria delas é inócua ou até prejudicial ao vírus, mas algumas preocupam mais os cientistas porque elevam as condições de sobrevivência dos patógenos.
O SARS CoV 2 é uma sequência de 29.903 letras que são as iniciais das bases nitrogenadas de um RNA: Adenina (A) Uracila (U) Citosina (C) e Guanina (G) dispostas em perfeita ordem e que contêm as instruções necessárias para que o vírus entre nas células humanas e utilize suas ferramentas biológicas para fabricar milhões de cópias de si mesmo.
Exatas 3831 letras desse texto contêm as diretrizes para que a célula humana fabrique a principal arma do vírus: sua proteína “spike”, a chave com a qual os novos vírus abrirão muitas outras células.
A espícula (Spike) do coronavírus é como uma chave com duas partes. A primeira se une à fechadura: o receptor ACE2 da célula humana. A segunda parte da chave se encarrega da fusão da membrana viral com a membrana celular.
A grande novidade do SARS-CoV-2 com relação a outros coronavírus como o SARS-CoV-1 é a aparição de 12 letras adicionais inseridas em seu genoma. Os especialistas apontam para essa brevíssima sequência como principal responsável por sua virulência e capacidade de contágio: CCUCCGGGGGCA.
As 12 letras extras do vírus criam na proteína da espícula um ponto de corte por outra tesoura, a Furina, uma enzima presente em quase todas as células humanas, o que explica sua alta transmissibilidade e virulência. A Furina faz um primeiro corte da espícula dos novos vírus, que já saem da célula humana preativados para uma nova invasão. Este primeiro corte permite que a espícula inicie a fusão da célula infectada com outra célula saudável, o que permite que o vírus passe de uma para outra sem se expor aos anticorpos do exterior e continue o processo de infecção e multiplicação.
A análise dos genomas dos coronavírus mais semelhantes mostra que só o SARS-CoV-2 possui as 12 letras que permitem que sua espícula seja ativada pela Furina, facilitando a invasão de diversos tipos de células
Virologistas acreditam que que esta inserção (das 12 letras) permite que o vírus entre em uma maior variedade de células. Isto, provavelmente, favorece a disseminação do vírus nos pacientes infectados e, portanto, provavelmente é chave para o desenvolvimento da doença.
A variante B.1.1.7, também conhecida como VUI – 202012/01, (Sigla de “Variant under investigation” em dezembro de 2020 – Ref. 1) é uma variante do SARS-CoV2, Esta variante é definida por dezessete mutações, incluindo várias na glicoproteína Spike. Foi detectada pela primeira vez no Reino Unido em outubro de 2020 a partir de uma amostra tirada no mês anterior, e rapidamente começou a se espalhar em meados de dezembro. Está correlacionado com um aumento significativo na taxa de infecção por este vírus na Inglaterra.
Uma das mutações mais importantes parece ser a N501Y—uma mudança dos aminoácidos asparagina (N) para tirosina (Y) na posição de aminoácido 501. Isso se deve à sua posição dentro do domínio de ligação ao receptor da glicoproteína spike (RBD), que se liga ao ACE2 humano. É também apelidada de Nelly.
Uma segunda mutação preocupante adquirida espontaneamente pela variante do Reino Unido, B.1.1.7, originariamente achada apenas na África do Sul e Brasil, chamada E484K (e apelidada de Erick), foi encontrada durante estudo feito em 26 de janeiro, no qual foram analisadas 214.159 sequências genéticas da variante britânica. Consiste na troca de glutamato por lisina na posição 484.
Tanto Nelly quanto Erick afetam a proteína conhecida como Spike (espícula), que facilita a entrada do patógeno na célula humana.
A cepa anterior, segundo os pesquisadores britânicos, tinha mais dificuldade em se ligar ao ACE2 e entrar nas células e, portanto, os adultos, que têm ACE2 em abundância no nariz e na garganta, eram os alvos fáceis. O vírus mais recente parece ter mais facilidade para fazer isso e, portanto, as crianças seriam tão suscetíveis a este vírus quanto os adultos.
Fontes: Jornal EL País e Wikipedia
*José Eduardo W. de A. Cavalcanti é engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia. E-mail: cavalcanti@ambientaldobrasil.com.br.
Fonte: o próprio autor
Publicação Ambiente Legal, 14/02/2021
Edição: Ana A. Alencar
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