Prof. Antonio Luiz de Carvalho
Quando analisamos a crise que o Brasil está atravessando temos que tentar localizar quais as causas do problema.
Obviamente, para um problema desta magnitude existem inúmeras causas, mas, tal e qual uma arvore que tem inúmeros ramos, existe uma raiz da qual saem todos os ramos. A grande dificuldade no nosso caso é descobrir qual é a verdadeira raiz dos problemas.
Apadrinhamento e corrupção
Quando vamos nos aproximando desta raiz chegamos a duas causas principais: má administração da coisa pública (incompetência) e corrupção. Indo mais fundo, descobrimos que a principal causa da má administração da coisa pública é a indicação de pessoas sem a devida qualificação para as funções técnicas exigidas para o cargo, e, quando chegamos à conclusão que estas indicações são por razões políticas, vemos que a corrupção, no seu sentido mais amplo, está por trás destas razões políticas.
Quando uma multinacional indica um presidente para uma filial no Brasil, por exemplo, ele não será escolhido por ser o “mais querido” dentro da empresa, mas única e exclusivamente pela sua competência e experiência. Na formação das diretorias, o novo presidente seguirá os mesmos princípios. Do ponto de vista organizacional, na filial serão seguidos critérios técnicos para definir o número de funcionários necessários e a qualificação técnica e experiência exigida para cada cargo. No caso do empreendimento privado, se ele der prejuízo, será fechado e todos perderão seus empregos. Diferentemente da empresa pública que não tem que se preocupar com lucro ou prejuízo, a escolha terá por base os que trazem votos e “são de confiança”, assim um enfermeiro pode ser um secretário da saúde em uma prefeitura.
Alguma coisa tem que ser feita para corrigir o problema da corrupção no Brasil em curto prazo, enquanto se formulam, discutem e aprovam as propostas que irão eliminar a corrupção, seguidas pelo planejamento de suas implantações e as implantações.
Pescando cardumes com anzol
Ações como a Lava-jato são um forte remédio para remediar o problema, mas não é a solução definitiva. É como se tivéssemos uma praga invadindo o nosso jardim e para remediar o problema estivéssemos cortando seus galhos. A eliminação da praga só ocorrerá quando cortarmos a sua raiz. Se não for possível extirpar toda a raiz, temos que pelo menos cortar o suficiente para manter a praga sob controle.
Ações como a Lava-jato e seus desdobramentos, pela primeira vez no Brasil estão levando para a cadeia políticos corruptos, inclusive ex-governadores, e grandes empresários.
Mas os principais responsáveis que são os governantes de alto escalão, deputados e senadores estão procurando “se blindar” para não serem atingidos pela Lava-jato e outras ações semelhantes. Se eles conseguirem, será a perpetuação da corrupção no país.
Por outro lado, é muito difícil definir a participação dos partidos políticos e punir os responsáveis. É o mesmo que tentar pescar todo um cardume de sardinhas com anzol e linha. A maioria vai escapar. É preciso encontrar soluções mais eficientes.
Mobilização e conscientização
Não existe fórmula mágica para erradicar a corrupção no Brasil, mas sim um trabalho árduo que obrigatoriamente dependerá da participação de toda a população e dos próprios políticos.
O brasileiro tem uma tendência a não se envolver nos assuntos públicos, fruto do paternalismo herdado das origens ibéricas do país. “O Estado sempre foi visto como o provedor da população, como um organismo dissociado do cidadão comum”, diz o escritor Laurentino Gomes, autor do livro 1808, que narra a chegada da família real portuguesa ao Brasil.
“Estamos falando de uma cruzada cívica. Se o povo não denunciar, se não deixar de lado atitudes consideradas banais como comprar produtos piratas, a corrupção vai vencer”, avalia o presidente da Comissão Especial de Combate à Corrupção da Ordem dos Advogados do Brasil, Amauri Serralvo.
Duzentos anos depois, a falta de envolvimento da sociedade ainda é um dos principais problemas do combate à corrupção.
Prof. Antonio Luiz de Carvalho, Mestre em Administração de Empresas pela EAESP-FGV e engenheiro pela Escola Politécnica da USP, com muitos anos de experiência como presidente ou diretor de empresas nacionais e multinacionais e também em consultoria empresarial, trabalhando na FGV Projetos – EAESP-FGV e FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – USP.
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