Os “piscinões” são a melhor alternativa de combate às enchentes em São Paulo?
Por Vitor Lillo
Quando não se recorre a médiuns para proteger São Paulo das chuvas torrenciais – fato notório e folclórico – a principal defesa da cidade está em seus “piscinões” ou “reservatórios de retenção” no jargão técnico. Só na Capital são 20 ao todo, com capacidade para armazenar até 5 milhões de metros cúbicos de água.
O próprio termo técnico já explica o funcionamento da estrutura: quando o sistema de drenagem da cidade (canais, galerias, rios, etc.) fica sobrecarregado pelo volume de água das chuvas, parte dela fica retida nesse reservatório de concreto, que pode ser subterrâneos ou de superfície, para que a água seja liberada gradualmente horas mais tarde.
Muitos paulistanos talvez nem imaginem, mas os piscinões cumprem uma função que antes cabia às várzeas, removidas ao largo do século XX por conta da urbanização descontrolada. Em menos de 100 anos o curso dos rios Tietê e Pinheiros e dos demais 4.000 km de rios, riachos, corredeiras e córregos que antes corriam a céu aberto foram radicalmente alterados ou mesmo “enterrados” pelo asfalto.
Esse processo, também conhecido como impermeabilização do solo trouxe uma grave consequência ambiental para a cidade: “quando o solo é asfaltado, a água não é absorvida, corre direto para as galerias, que não dão conta do volume, o que dá início ao alagamento”, explica o engenheiro Júlio Cerqueira Cesar Neto, que durante 30 anos foi professor de Hidráulica e Saneamento pela Escola Politécnica da USP.
Meia solução para um problema inteiro
Em 1994, entrou em operação o piscinão do Pacaembu, no subterrâneo da Praça Charles Miller. A construção modificou todo o sistema de drenagem e resolveu o problema das enchentes, recorrentes naquela região. O sucesso desse projeto vendeu a ideia de que os piscinões eram a solução contra enchentes. “Teoricamente, os piscinões são perfeitos, porque retém as águas que sobrecarregam as galerias pluviais”, explica Cesar Neto.
Mas a prática mostrou que essa era apenas meia solução para um problema inteiro. “São Paulo apresenta dois fenômenos gravíssimos: a enorme e perigosa carga de poluição das águas superficiais e a fantástica carga de sedimentos originados especialmente da erosão nas zonas periféricas de expansão urbana”, explica o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, ex- diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Ainda segundo Santos, esses sedimentos, “acrescidos de lixo e entulho de construção civil, acabam por assorear e entulhar todo o sistema natural e construído de drenagem”. Como resultado, essa poluição diminui a capacidade dos piscinões de dar conta da vazão de água durante as chuvas, agravando o problema dos alagamentos.
Os efeitos desses fenômenos foram agravados por decisões do Poder Público. “Depois dos piscinões, os governos municipal e estadual deixaram de lado outras medidas de combate às enchentes, como a ampliação das redes de galerias, por exemplo”, relata a urbanista e diretora executiva da organização Defenda São Paulo, Lucila Lacreta.
Além do dilema ambiental e do retrocesso nas obras de manutenção e ampliação da rede de drenagem, o número de reservatórios está muito baixo da meta estabelecida pelo Poder Público. Atualmente, 51 piscinões estão em funcionamento em toda Grande São Paulo, segundo dados do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), muito abaixo dos 140 que se estimava inicialmente.
Na opinião do engenheiro Júlio Cerqueira, uma das razões está na falta de áreas disponíveis para esse tipo de obra: “quando se constrói [o piscinão] cria-se outro problema: a Região Metropolitana não dispõe de mais terrenos. Se já não há terreno para os prédios, por que haveria para os piscinões?”.
Outra grande desvantagem dos reservatórios está nos impactos que causa à saúde humana. “os piscinões recebem toda a poluição difusa das galerias e, por conta disso, proliferam bactérias, mosquitos e aí essa estrutura passa a ser uma causadora de doenças para quem vive no entorno”, explica Lucila Lacreta.
E aí o raciocínio fica simples: se os piscinões tem uma capacidade de armazenamento de água abaixo do normal, não dão conta das águas pluviais e passam de “solução” a parte do problema. Um exemplo disso é o rio Tamanduateí que possui a maior concentração de piscinões da cidade (17 ao todo).
A calha atual do rio (480 m³ de água por segundo) não dá conta do pico de vazão que chega aos 800 m³/s de água. Somado ao grande fluxo de detritos e lixo nas suas águas, o resultado é o grande número de alagamentos que ocorrem em São Paulo e nos município da Grande ABCD que são banhados pelo Tamanduateí.
Especialistas apontam que seriam necessários 46 piscinões para dar conta de toda vazão de água no local. Júlio Cerqueira Cesar Neto refuta essa solução: “É fundamental que se amplie a rede de galerias e esgoto, fora outras soluções que permeabilizem do solo. Não é só uma opinião, mas, é um fato de que os piscinões, somente, não resolvem o problema das enchentes”.
Poder Público
A Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB), responsável pelo sistema de macrodrenagem na cidade de São Paulo, informa por meio de sua assessoria de imprensa que a Prefeitura concederá um terreno para a construção de um piscinão coberto na Avenida Luiz Inácio de Anhaia Melo. A construção será realizada pelo DAEE.
A SIURB acrescenta ainda que já foi assinado um acordo da Prefeitura com o Governo do Estado que prevê a compatibilização dos planos de combate as enchentes do estado e do município.
A única pergunta que aguarda resposta das autoridades municipais e estaduais é se há realmente algo de novo no front quando o assunto é drenagem urbana, pois insistir em uma única solução parece ser insuficiente para evitar que o copo transborde e São Paulo volte a ficar debaixo d’água.
Caros do site Ambiente Legal, recebi a triste notícia que será construído um piscinão no meu bairro, no local hoje funciona uma creche, um centro comunitário e é uma grande área de lazer, reformada recentemente com dinheiro público. Abriga também a associação do bairro, todo o entorno é urbanizado.
A notícia que temos é que este piscinão não será coberto, então conviveremos com lixo a céu aberto.
Há algo que se possa fazer a respeito disso?
Importante saber a razão do projeto, Diniz. Requeira a resposta na prefeitura. Abraço.