O caso é de polícia! Então a Polícia precisa tomar certas rédeas do processo e fazer valer seu apego incondicional à Democracia
“A democracia depende muito da qualidade de sua polícia, assim como o apego dos policiais aos valores que a fundamentam.”
(…) .“A democracia tem necessidade da polícia”.
Jean-Claude Monet. (Polícias e Sociedades na Europa, pág. 29)
Por João Carlos Pelissari*
Talvez você possa estar se perguntando por quê, depois de tanto tempo sem postagens, estaria este pobre mancebo vindo comentar sobre este problema tão grave num artigo que deveria tratar de assuntos de polícia?
Mas é isso mesmo caro leitor! O caso é de polícia, porém talvez eu não aborde este tema do jeito que você possa estar pensando.
Mas garanto que é de polícia sim!
Desde quarta-feira, 17 de maio, o Brasil vem vivendo um inferno dantesco, onde se avolumam as lutas pelo poder e grupos antagônicos buscam fazer prevalecer sua narrativa e, nisso tudo, no meio da turbulência, está o Povo!
Creio que a esta altura você já esteja familiarizado com os acontecimentos; afinal, os veículos de informação só falam disso desde o “furo” do Jornal O Globo e da Rede Globo de Televisão às 19h d o fatídico dia 17.
Nesse “furo”, a Globo narrou um crime que teria sido praticado pelo atual Presidente da República Michel Temer, onde, em uma gravação, um dos donos da JBS, Joesley Batista (este um bandidão, um mafioso mesmo, de marca maior), gravou uma conversa comprometedora que teve com o presidente e, nesta conversa, teriam sido narrados diversos crimes.
Claro que o mundo veio a baixo!
Mas como policial que sou – e também vocês que são policiais e frequentam este blogue – preciso sempre fazer uma pergunta: a quem aproveita este crime?
Não é uma pergunta que possa ser respondida facilmente; e também não vamos aqui fazer qualquer acusação, mas apenas um exercício de lógica meramente teórica, que pode não ter qualquer relação com a realidade fática.
É uma brincadeira que convido você a fazer.
Desde o primeiro momento, as redes sociais vêm cravando a resposta à pergunta que fiz acima: os beneficiários de todo este terremoto à brasileira é Lula e o PT!
Seria?
Nossa constituição, em seu artigo 81 prevê o remédio em caso de vacância, de ficar vago, o cargo de Presidente da República, que é a eleição indireta pelo Congresso Nacional. E Lula e o PT não têm a mínima chance de retornarem ao poder por esta via! Por isso o mantra da “Diretas Já”, a única possível, e só possível mesmo, maneira de abiscoitar a volta.
Analistas creem que, caso realmente caia o Presidente Temer, seja por renúncia, cassação ou impedimento, o provável sucessor seja um parlamentar, Deputado ou Senador; mas qualquer um poderá se candidatar caso tenha os requisitos para ser Presidente, como estar filiado a partido político por pelo menos um ano e ter mais de 35 de idade.
Bom, já há notícias aqui e lá, que o melhor nome seja de Henrique Meirelles, atual Ministro da Fazenda do Brasil.
Hum!
Creio que você também já esteja a par de algumas coisas que envolvem os termos da delação dos irmãos, bandidos, mafiosos e canalhas Joesley e Wesley Batista. Abro um parêntese: como policial não posso aceitar que estes dois possam estar se safando com bilhões do povo brasileiro e nem cadeia vão puxar!
Então vocês devem saber que eles ficarão em Nova Iorque, controlando suas empresas e livres de qualquer outra acusação, mesmo que levantadas em outras operações da Polícia Federal.
Bom, agora vamos ao exercício que convidei vocês a fazerem comigo.
Por quê meu “hum” em relação ao Henrique Meirelles?
Quem é Henrique Meirelles?
Atualmente o Ministro da Fazenda está filiado ao PSD, Partido Social Democrático (aquele que todo o mundo diz “o partido do Kassab”). Nos oito anos do governo de Lula, ele foi Presidente do Banco Central, depois Presidente do Conselho de Administração da JBS por quatro anos; ainda foi nomeado pela Presidente Dilma membro do Conselho Público Olímpico, das Olimpíadas de 2016.
É por este histórico que nesse nosso jogo de detetive ele emerge como o melhor beneficiário do crime de Joesley e da queda de Temer.
Já em março deste 2017, o governo não dava como certa a reforma da previdência como queria Meirelles. Há muita controvérsia, porém é certo que governo e povo veem a reforma da previdência de formas muito diferentes. A reforma iria naufragar e Meirelles, também um representante dos bancos, não estava tão confortável. Há indícios, meros indícios, que o aporte maior de recursos à previdência seria encaminhado via DRU – Desvinculação de Receitas da União, para pagar dívidas com o mercado financeiro.
Ora, como no filme “Meu Passado me Condena”, o passado de Meirelles também suscita ilações interessantes: foi vinculado diretamente em cargos de alto escalão e confiança dos governos do PT, em especial Lula 1, Lula 2 e Dilma 1; foi presidente do Conselho de administração do Grupo JBS, que se fartou com dinheiro do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e está metido até o pescoço com todas essas falcatruas que vocês estão vendo na televisão, rádio, revistas, jornais e internet, durante estes mesmos governos.
Se ele conseguir se emplacar para presidente, aí tudo, mas tudo mesmo, que os grandes bancos e essas “grandes empresas do capital nacional” quiserem (e porquê não até mesmo o PT?), ele vai fazer aprovar; e o povo e o Brasil que se dane.
Por quê falo isso? Alguém em sã consciência acha mesmo que esses Joesley e Wesley conseguiriam criar esta potência em que se transformou a JBS, espalhada pelo mundo e com faturamento de 170 bi no ano passado? Só um cérebro muito bom por trás poderia fazer tudo acontecer dessa forma.
Por isso nossa suspeita número 2: esse acordo muito vantajoso para os criminosos!
É esse acordo que leva a achar-se que é uma grande trama tudo isso. Não que Temer seja inocente, porém na política não podemos esperar ter virgens vestais, não é mesmo? Agora, mergulhar o país numa crise desta magnitude só por dinheiro, isso para mim é intolerável.
Então leitores e leitoras, vejamos as cenas dos próximos capítulos!
A polícia vai fazendo, devagar, seu trabalho. Estão de parabéns os Peritos Federais, nossos Policiais Científicos, que condenaram uma ação dessa envergadura sem se confirmar as gravações, que, tudo indica, estão editadas. Outro parêntese: no processo penal, muitas vezes em virtude de sua natureza, a prova só pode ser aceita por inteira e não em partes, como a tal gravação; se ela foi editada, mesmo que partes importantes não tenham sido, ela é descartável por estar contaminada e, estando contaminada, é ilegal. Sendo ilegal temos que entender ser aplicável a Teoria “fruits of the poisonous tree”, ou Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada. Se aceita essa teoria pelo STF – Supremo Tribunal Federal, toda essa operação será também nula. Há ainda quem sustente que gravar de forma oculta o Presidente da República também é crime e, assim sendo, também ilegal.
O que lamentamos é nossa Polícia Federal estar envolvida nesse problema que está muito mal explicado ainda e que trouxe traumas demais ao Brasil, pois antes de tudo nós policiais devemos garantir a democracia.
Esse crime não acaba na queda de um Presidente e condução de outro ao poder; por isso a Polícia precisa ir fundo e garantir de vez, sem interferências quaisquer, a Democracia, enquanto o Poder do Povo, Pelo Povo e Para o Povo.
*João Carlos Pelissari é Coronel da Reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo e Doutor em Segurança Pública. Formado em Direito, é Membro Consultivo da Comissão de Direito Militar da OAB/SP.
Artigo originalmente publicado em Blog do Coronel Pelissari