O desafio de romper paradigmas – I *
Por Cristiano Faé Vallejo
A Logística Reversa sempre ocorreu na história recente, com maior ou menor intensidade, muito em função das dificuldades momentâneas da sociedade. Aqui no Brasil, à época das embalagens caras, o leiteiro recolhia as garrafas vazias e deixava as cheias. Na África, durante as batalhas no Mediterrâneo, os lubrificantes eram filtrados e reutilizados. Enfim, a escassez sempre foi mãe da criatividade.
Desde o pós-guerra, vivemos longos momentos de bonança econômica, entremeados por alguns soluços de crise. Exceto pelo bom senso na utilização dos recursos naturais, a escassez de matérias primas, alimentos e energia foi pontual.
Nas últimas décadas, a Logística Reversa foi fomentada em algumas cadeias econômicas – pneus, óleos lubrificantes, pilhas e baterias – sob os auspícios do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e inicia nova fase sob o guarda chuva da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos). A maior novidade é o instituto da responsabilidade compartilhada e encadeada por toda a cadeia – fabricante, importador, comércio e consumidor – substituindo a reponsabilidade objetiva e ônus apenas sobre o fabricante.
Mas quais são os verdadeiros desafios para que a PNRS “pegue”?
Há um bom número de paradigmas que deve ser vencido. O primeiro, mas não necessariamente o mais importante, é a conscientização de que cada vez mais, ao adquirirmos um produto, levamos para casa a sua vida útil, e não a sua propriedade. Isto significa que o consumidor ao usar até o “osso”, deve se preocupar com a sua disposição ambientalmente adequada. Longe de colocar no lixo, deve retornar.
As indústrias e importadores devem incluir o custo da disposição ao custo de vida do produto – total life cost.
Ao comércio, a responsabilidade de tornar suas prateleiras mais sustentáveis, considerando até o custo para a disposição das embalagens na aquisição de bens e produtos.
O que era lema dos anos 70 “Povo desenvolvido é povo limpo” foi bom para aquele momento. Hoje, o ideal é “Povo desenvolvido é povo sustentável”. Afinal, o que colocamos no lixo deixou de ser chamado como tal, em boa parte do mundo, há muito tempo. A grande maioria dos resíduos é “grana preta” por aquilo que vale, pelo que deixa de ser gasto em coleta, aterros e no sistema público de saúde.
Em breve voltamos ao nosso papo.
Muito bom!