Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Eleito presidente da Câmara no início de fevereiro do ano passado, com impressionantes 267 votos, o deputado Eduardo Cunha foi envolvido na teia de corrupção apurada na chamada operação Lava-Jato. Porém, seu processo de cassação de mandato foi errático, lento, e permeado por episódios tão condenáveis quanto a falta de decoro da qual fôra acusado.
Alcunhado de “meu malvado favorito”, por conta do papel protagonizado ao aceitar o pedido e presidir a sessão que decidiu pelo processo de impeachment da presidente da república, o agora ex-deputado Eduardo Cunha foi finalmente cassado por 450 deputados, votando a seu favor menos de 4% daqueles que o elegeram ao posto máximo da Casa há um ano e sete meses.
Cunha foi crucificado por conta dos seus pecados – final funesto de uma parábola sem qualquer heroísmo.
Porém, ninguém se iluda. Não há qualquer redenção para Cunha ou purgação dos pecados para os sorridentes parlamentares que votaram na perda do mandato. Muito menos remissão de pecados para os defensores da presidente afastada – cegos deliberados que amesquinharam o julgamento motivados por vingança.
Nos quadros de Hyeronimus Bosh, no século XV, a turba de dementes no entorno de Cristo se comprazia com o sacrifício alheio, movida pelo rancor, pelo fanatismo, pela miséria humana e pela perversão. Jamais pela Justiça.
No quadro vivo do episódio nada bíblico do julgamento de Eduardo Cunha pela Câmara, ao invés de rostos deformados no entorno de um Cristo, o que se viu foram hienas devorando um corvo de óculos, ovacionadas por uma platéia de urubus…
Hyeronimus Bosh, fosse vivo hoje, pintaria com perfeição o quadro político brasileiro.
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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