Empresas precisam trabalhar em conjunto e ter coragem para construir e testar alternativas
Por Beto Bahia*
A descarbonização não é apenas um tema da moda, mas sim uma necessidade que se impõe em nossas economias e sociedades hoje. Falar a respeito fomenta ideias de como podemos traçar uma estratégia para introduzir o assunto nas mais diversas áreas e tamanhos de empresas. Muito recentemente, o Sebrae divulgou uma pesquisa sobre “O Panorama ESG dos Pequenos Negócios Brasileiros” e trouxe um dado preocupante. O levantamento abrangeu mais de 3.600 participantes de todos os estados do país e 86% deles revelaram ter “pouco” ou “nenhum conhecimento” sobre a sigla ESG.
Essa estatística deixa claro o tamanho do desafio. Ela evidencia a existência de um gargalo educacional e cultural. Nos resta melhorar a comunicação para conseguirmos engajar mais. O caminho para conseguirmos acelerar isso é trabalhar junto. Quem vai provocar as mudanças são as grandes organizações. Cabe a elas o papel de liderar a transformação. Temos bons exemplos de iniciativas no país e, nos últimos meses, temos visto também governos se mexerem neste mesmo sentido. Estamos engatinhando. Porém, só vamos avançar quando conseguirmos envolver cada vez mais e mais empresas para ampliarmos essa conscientização.
Há ainda outro ponto: o espaço entre intenção e ação. Temos que diminuir esse buraco que distancia a intenção da ação. Isso precisa nortear a cultura empresarial das organizações como um todo. Elas devem estar aptas a criarem estratégias para conseguirem tangibilizar os aspectos da sigla ESG, com ações voltadas para o ambiente, o social e a governança no dia a dia.
Hoje, o Brasil está entre os principais países emissores de gases de efeito estufa (GEE) no mundo e essa mudança só será possível quando a transformação se iniciar, de forma verdadeira, em cada área. Seja na agropecuária, nos transportes, na energia, nas indústrias. No setor de transportes e logística para e-commerce, por exemplo, podemos usar mais bicicletas, veículos elétricos de pequeno e médio porte, biocombustíveis (livres de CO²), minihubs e rotas otimizadas que incluam a logística reversa de matéria prima reciclável (resíduos sólidos urbanos), iniciando esse trabalho nas capitais brasileiras.
A bola da vez são os veículos elétricos. Eles vêm se apresentando como solução para implementar a cadeia do last-mile no e-commerce. Carros, vans e até “tuk-tuks” elétricos. Com o emprego da tecnologia integrada a esses veículos é possível gerar métricas para os inventários para posterior plano de neutralização e redução. Além disso, vale frisar que suas utilizações também impactam o setor de baterias, por exemplo. Uma nova indústria é aquecida com esses investimentos e um novo mercado se abre.
Portanto, há de se buscar diálogo para implementar uma grande agenda de descarbonização visando a sustentabilidade. A transversalidade é importante até para avaliar o que é possível e o que deve ser priorizado. Afinal, nenhuma mudança é fácil. Toda decisão traz consequências para a vida das pessoas. O que pode acelerar esse processo é gerarmos mais oportunidades, incluindo mais oferta de crédito e benefícios para ampliar o acesso. Do contrário, dificilmente a conta vai fechar.
Precisamos experimentar. Coragem para construir alternativas e testá-las. Grandes feitos começam no primeiro passo. Compartilhar e trocar ideias e experiências de gestão. O ponto central aqui é a celeridade. De novo, trazer a ação para perto da intenção. Com modelos de negócios mais inteligentes e criativos, com estudos de viabilidade e adaptação do modo operacional. Para dar suporte a tudo isso, dados. Existe também uma dificuldade para medir e rastrear e as empresas devem investir em tecnologias em busca da transparência, pois isso ajuda na construção de uma cultura de governança corporativa, com maior credibilidade, especialmente no combate ao chamado greenwashing.
Para chegar à descarbonização que necessitamos será preciso tempo, muito investimento e muita vontade.
*Beto Bahia – Com formação em Administração e Marketing, Beto Bahia é especializado nas áreas de logística, com interesse em tecnologia, inovação e práticas ESG e fundador da startup Vai Fácil, com atuação em Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte (MG), que tem como propósito trazer soluções empresariais mais sustentáveis, fortalecendo a relação entre marcas, consumidores e meio ambiente
Fonte: Projeto Colabora
Publicação Ambiente Legal, 18/10/2023
Edição: Ana Alves Alencar
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