Por Ruy Martins Altenfelder Silva*
Quase metade dos brasileiros acima dos 25 anos de idade não tem o ensino fundamental completo ou, o que é pior, não possui nenhum grau de instrução.
O dado, estarrecedor e preocupante, acaba de ser divulgado pelo IBGE, com base no Censo de 2010 e, de lá para cá, a situação não deve ter sofrido alteração para melhor, dado o prazo de uma ou duas décadas para que medidas produzam efeitos significativos no nível de escolaridade da população.
Traduzido em pessoas, esse percentual significa que 54,5 milhões não concluíram sequer os nove anos do ciclo fundamental. E outros 16,2 milhões (14,1% dessa população) foram à frente, concluíram o fundamental, mas não terminaram o ensino médio. Em resumo, perto de 71 milhões de brasileiros, na melhor das hipóteses e com as exceções de praxe, apresentam sérias deficiências de escrita, leitura e aritmética básica – o que, se não os alija do mercado de trabalho, corta pela raiz as probabilidades de ascensão profissional e consequente aumento sustentável de renda.
Quando o recorte do Censo de 2010 se estreita para a faixa jovem (de 20 a 24 anos), o cenário ganha tintas menos escuras, mas não menos preocupantes, apesar dos avanços registrados nas duas últimas décadas. Nesse segmento, um quarto dos jovens sequer concluiu o ensino fundamental e outros 22,5% não terminaram o ciclo médio.
Somem-se ao quadro outras distorções apontadas pelo Censo, como a média insuficiente de 7,7 anos de estudo; os 30% dos alunos do fundamental com idade para estar no médio; e a elevadíssima taxa de evasão, que coloca 36,5% dos jovens entre 18 e 24 anos fora da escola, e eis que surgem dúvidas pertinentes. Por exemplo, com a baixa escolaridade de boa parte da população, como o País poderá ingressar numa fase de desenvolvimento sustentável? Ou como metade dos brasileiros poderá aspirar a uma vida melhor e a um futuro mais promissor, visto não ostentar as competências e habilidades mínimas requeridas para usufruto dos benefícios da atual era do conhecimento? E por aí se poderia ir, com o cenário educacional suscitando mais e mais dúvidas.
Melhor que questionar, entretanto, é arregaçar as mangas e, enquanto o Brasil não elege efetivamente o ensino como a prioridade das prioridades nacionais, cada um deverá prestar sua contribuição para atenuar a perversa desigualdade educacional. É isso que o CIEE vem fazendo, com uma série de programas gratuitos que visam preencher lacunas deixadas pelo sistema de ensino, tanto no campo da alfabetização de adultos, quanto na melhor formação dos estudantes, com cursos, palestras, publicações, educação à distância e outras ações de responsabilidade cidadã.
* Ruy Martins Altenfelder Silva é presidente do Conselho de Administração do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), uma instituição filantrópica, mantida pelo empresariado nacional, sem finalidades lucrativas, que trabalha em prol da juventude estudantil brasileira.