Por Ana Alencar
Que marcas deixarei pela vida
Além do meu rosto as fissuras
E na alma as cicatrizes
De cortes e feridas?
Que pegadas deixarei pelo mundo
Além dos meus passos
Outrora rápidos e destemidos
Hoje cautelosos e profundos?
Que lembranças deixarei
Além de ter sido barro
A vida ter me tornado rocha
E que no final ao pó retornarei?
A gente cansa…
De viver a perder a esperança
De estar sempre a pender na balança
De conviver sem confiança
A gente cansa…
De ver no mundo tanta matança
De estar sob o poder de pseudo governanças
De trabalhar e repousar sem segurança
A gente cansa…
De assistir falsas e perigosas alianças
De ouvir arrogantes arrotos de pujança
De não ver no outro nossa semelhança
De andar a temer uma criança
A gente cansa…
Vejo rostos sorrindo infelizes
Vejo tragédias escondidas em alegrias
Vejo satisfação camuflando a solidão
Vejo vidas inventadas em fotos mascaradas
Vejo o sepultamento do desejo
Vejo bocas se movendo em falsos beijos
Vejo o sim encobrindo o não
Vejo o sonho disfarçando a ilusão
Ana Alencar é professora do sistema municipal de ensino básico do Município de São Paulo, membro do corpo de redação do Portal Ambiente Legal e poetisa.