Superfície de água caiu 80% desde 1985, saindo de 2,6 milhões hectares para apenas 530,4 mil hectares em 2021
Por Lucia Morel – Campo Grande News
Dois anos depois das queimadas que devastaram 27% da área do Pantanal, o bioma ainda se recupera e estima-se que sejam necessárias duas décadas para que toda a flora e a fauna afetadas pelo fogo se recomponham. Entretanto, há risco de que nunca retornem à forma como eram, seja em quantidade ou em diversidade.
Hoje, Dia do Pantanal, há o alerta sobre no que poderá ser transformada a maior área alagada do planeta nos próximos anos e também, o que fazer para minimizar os danos. Especialistas ouvidos pelo Campo Grande News afirmam que as condições ambientais e climáticas influenciam diretamente nas condições do bioma, mas a ação humana é, sem dúvida, a maior responsável pelos problemas.
“As águas ainda não retomaram seu ritmo normal na planície. Por conta das queimadas, mas também por conta do regime de chuvas. Então assim, não existe uma recuperação imediata. O Pantanal precisa readquirir o seu vigor. Onde o fogo tomou conta há dois anos, hoje está verde, mas isso não indica recuperação total”, sentencia o biólogo e fundador da Ecoa (Ecologia e Ação), Alcides Faria.
Para ele – e estudos que têm sido feitos – a indicação de uma boa recuperação passa por ter a fauna perdida recomposta (com todas as espécies vegetais que foram queimadas) e manutenção ou aumento das áreas alagadas. Elas diminuíram, em 37 anos, cerca de 80%, saindo de uma superfície de 2,6 milhões hectares em 1985 para apenas 530,4 mil hectares em 2021.
Conforme a também bióloga e doutora em ecologia e conservação, Cíntia Cavalcante Santos, analista da WWF, a redução na cobertura hídrica do Pantanal demonstra que o solo não está permeando adequadamente e que o regime de chuvas também está deficitário.
“O Pantanal depende que os outros sistemas agregados a ele estejam em frequente manutenção”, diz, citando as cabeceiras dos rios que ficam entre a Amazônia e o Cerrado e que, quando abastecidos e conservados, garantem que haja áreas alagadas suficientes na planície para a continuidade da vida animal e vegetal.
Ela explica que até nisso a ação antrópica é o principal problema. “São os impactos humanos sem planejamento, em grande quantidade e com avanço rápido, traz consequências negativas para a vida das áreas mais frágeis, como o Pantanal”, afirma, ao comentar sobre assoreamento, aumento de desmatamento e fogo, atitudes que não protegem as nascentes.
Ela ressalta que quando essas cabeceiras são afetadas, “começa-se a criar um complexo de fatores, cujo resultado é uma sequência de eventos desastrosos, em cadeia”, enfatizando que sem o regime adequado de águas, solo, plantas e animais acabam não suprindo as necessidades para que possam sobreviver.
Para se ter uma ideia, Alcides Faria lembra que este ano houve muitos casos de avanço das onças sobre as casas de ribeirinhos. Estas se alimentavam dos cães. “A principal hipótese para isso é que elas não encontravam alimento suficiente na própria natureza. A onça se aproximar das propriedades sempre foi comum, mas se alimentar dos animais domésticos não”, sustentou.
Esperança- Condições climáticas mais favoráveis, tecnologia e planejamento eficaz reduziram em 94% o número de queimadas no Pantanal em relação ao ano de 2020. A área ainda está em fase de regeneração e cerca de 17 milhões de animais morreram, conforme levantamento de diversas instituições, que pode ser conferido aqui.
Fonte: CAMPO GRANDE NEWS
Publicação Ambiente Legal, 12/11/2022
Edição: Ana Alves Alencar
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