Por Ricardo Viveiros*
Celebrado em 20 de outubro, o Dia do Poeta foi criado em razão do Movimento Poético Nacional, que surgiu na mesma data, em 1976, na casa do jornalista, romancista, advogado, pintor e poeta brasileiro Paulo Menotti Del Picchia.
Ele foi um importante ativista do Modernismo, mas sua obra mais marcante é o poema “Juca Mulato”, em que a temática é o caboclo – um forte traço do Pré-Modernismo. Menotti Del Picchia foi um dos articuladores e realizadores da emblemática Semana de Arte Moderna, que ocorreu em São Paulo, entre 13 e 18 de fevereiro de 1922. Então colunista do “Correio Paulistano”, o também escritor colocou seu espaço à disposição dos interesses revolucionários de 22.
Del Pichia abriu a segunda noite, a mais importante e a mais agitada da Semana, com uma palestra em que era negada a filiação do grupo modernista ao futurismo de Filippo Tommaso Marinetti – jornalista, romancista e poeta italiano que publicou histórico manifesto no jornal parisiense “Le Figaro”, em 20 de fevereiro de 1909. Entretanto, os modernistas brasileiros defendiam a integração da poesia com os tempos modernos, a liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, a criação de uma arte genuinamente brasileira.
Curioso que tanto tempo depois, ainda sejam pautas temas como modernidade, preconceito, nacionalismo e liberdade de ideias.
Como estamos vivendo tristes tempos de pandemia — com crises política, econômica, social e outras — tomo a liberdade de trazer, neste Dia do Poeta, poema que integra um de meus livros no gênero, “Doces Beijos Amargos”, lançado em 1984 e em várias reedições:
CANÇÃO DA FRATERNIDADE
E quando não há mais ar
você assopra em minha face
e eu aspiro, respiro, deliro.
Quando tudo está escuro
você olha em minha estrada
e eu caminho firme sob o sol.
Não havendo água
você chora em meus lábios
e eu engano a sede.
Ao me faltar alimento
você reparte comigo sua fome
e me consola o vazio.
E quando não há mais força
você me abraça, me esquenta
e me faz subsistir de pé.
Quando a vontade de morrer
é grande, você canta para eu
dormir.
Eu acordo,
recordo meu sonho
e há esperança de viver.
Ricardo Viveiros
*Ricardo Viveiros é jornalista, escritor e professor. Doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor de vários livros, entre os quais Justiça Seja Feita, A Vila que Descobriu o Brasil e Pelos Caminhos da Educação.
Fonte: o autor
Publicação Ambiente Legal, 20/10/2021
Edição: Ana A. Alencar
As publicações não expressam necessariamente a opinião da revista, mas servem para informação e reflexão.