Venda de eletrônicos cresce a cada ano no Brasil. E o passivo ambiental também
Por Vitor Lillo
Você que começa a ler essa matéria pode perceber o quanto que a tecnologia avança através do seu celular, computador ou mesmo na lâmpada de casa. Mas nenhum avanço tecnológico dessas últimas décadas deu solução a um problema básico: o que fazer com aquele aparelho usado “de última geração” quando trocamos por um novo.
Enquanto isso, as quinquilharias se avolumam nos lixões. Relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) indica que o Brasil está na liderança na geração de lixo eletrônico por habitante entre os países emergentes. O brasileiro despeja 0,5 kg de resíduos por ano contra 0,23 kg da China, com população sete vezes maior.
O problema fica ainda maior quando se leva em conta que cada um desses aparelhos já citados aqui possuem materiais altamente nocivos para o meio ambiente e a saúde humana como cádmio, chumbo, mercúrio, níquel e zinco, encontrados em componentes da maioria dos eletroeletrônicos.
Na ponta mais fraca da corda está a natureza e os catadores que colocam a saúde em risco para tirar seu sustento. Segundo Neuci Bicov, responsável técnica pelo Centro de Descarte de Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR), “em São Paulo, ele [o catador] ganha R$ 2,00 por CPU fechada e R$ 8,00 por quilo [de placa-mãe]”, explica.
Lento avanço
Os dados da ONU são contestados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) que critica o resultado e a metodologia utilizada na pesquisa. Em contrapartida, realiza um estudo próprio feito pelo Grupo Temático de Eletroeletrônicos que deverá indicar se há possibilidade ou não da política de logística para o e-lixo ser adotada agora ou não.
Esse estudo também servirá de apoio ao futuro Acordo Setorial de Logística Reversa para Eletroeletrônicos. Acordos semelhantes serão feitos para as embalagens plásticas de óleos; lâmpadas; embalagens em geral; e medicamentos. Ocorre que este acordo está para ser firmado desde 2010, e só deverá ser firmado no final de 2013.
Ainda de acordo com o MMA, a razão para a demora está no fato de se tratar de um setor muito complexo. Mais complexo porém, será o caminho até a definição desse acordo. “foram mandadas 10 propostas dos fabricantes para o Governo, o que complica ainda mais a parte deles”, comenta Neuci.
Uma delas, a da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletroeletrônica (ABINEE), principal associação do setor, sugere um esforço conjunto entre indústria e comércio para coleta e destinação desses resíduos.
“Nossa proposta é que deva existir um sistema unificado para recebimento e destinação dos produtos entregues pelos consumidores ao comércio, por se tratar de uma responsabilidade compartilhada. Nossa parte cabe à destinação e a do comércio em receber os produtos”, explica o gerente do departamento de responsabilidade socioambiental da Abinee, Ademir Brescansin.
Ainda segundo ele, é preciso que se determine a responsabilidade sobre os produtos importados do exterior, sobretudo os contrabandeados, definição de uma regra única para a destinação dos produtos, “pois taxas e impostos de transporte até a reciclagem irão encarecer o processo”. Ademir também reivindica isonomia.
“Hoje somente as empresas legais que arcam com todo o sistema, e consequentemente, os custos. No entanto, temos muitos atores, principalmente importadores, que não estão envolvidos na assinatura dos acordos ou não têm um sistema de logística reversa”, sustenta Brescansin.
E é difícil falar em isonomia sem incluir o consumidor “Os fabricantes propõem que eles façam a reciclagem, mas querem cobrar isso do consumidor, cerca de 40 centavos. Então você pagaria mais na conta, mesmo que não descarte. O fabricante receberia o dinheiro, mas não necessariamente usaria [para os programas de reciclagem]”, aponta Neuci Bicov.
Por enquanto essa solução está em suspenso, assim como a proposta de universalizar a coleta seletiva. Dos 5.564 municípios brasileiros, apenas 766 fazem coleta seletiva. Sem a separação de materiais para reciclagem, a implantação da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos fica inviabilizada. E a solução para o problema do lixo eletrônico fica ainda mais distante.
E-lixo no limite
“Recebemos de dez a doze toneladas [por mês], é o dobro do previsto. Fizemos um projeto para receber apenas cinco.”, fala Neuci sobre a situação do CEDIR, o maior centro público de descarte e reuso de e-waste da América Latina, que hoje funciona em um galpão de apenas 200 metros quadrados, dentro da Cidade Universitária da USP.
“No CEDIR, hoje, a gente teve uma diminuição. Tínhamos 450 metros quadrados e agora são 200 [metros]. O local onde estávamos foi devolvido [em 2012] para a reitoria da Universidade porque será construída uma área com centro de convenções, hotéis para professores visitantes”.
Apesar do espaço diminuto e do número de funcionários ainda menor (quatro ao todo), no centro, que iniciou suas operações em janeiro de 2010, a ordem é reaproveitar. Toda peça, em sua maioria de computadores, é reaproveitada para a montagem de novos aparelhos que vão para escolas e entidades de todo o Estado.
“A gente está com um projeto, ainda em estudo, de mandar equipamentos para o Haiti”, ressalta Bicov. Ainda segundo a responsável, os cartuchos de impressora, CD’s e outras peças e materiais que não puderem ser reaproveitadas são reutilizadas pela própria USP.
No próprio espaço, grupos de catadores são capacitados para desmontar e armazenar os equipamentos de maneira correta, tudo de acordo com a PNRS. “O que é feito é que eles entendam os riscos para que eles saibam, na hora de receber esse material, identificar o que é cada material e o que podem armazenar”, expõe Neuci Bicov
Mas o CEDIR é apenas um grão de areia na nossa praia que está prestes a ser varrida por um verdadeiro maremoto de traquitanas eletrônicas. A previsão do mercado, que já atingiu a marca de 1,2 bilhão de unidades vendidas no ano passado, é de um crescimento de 21,2% em 2013. Diante desse cenário perturbador – ambientalmente falando – a aplicação de uma política de resíduos para o setor eletroeletrônico é a única defesa disponível.
Serviço
O CEDIR fica na Avenida Professor Almeida Prado, 1280, na Cidade Universitária. Funciona de segunda à sexta-feira das 8h às 17h, com intervalo entre as 12h e as 14h. A entrega é gratuita e deve ser primeiro agendada pelos telefones (11) 3091-6454/6455/6456 ou pelo e-mail e-mail consulta@usp.br. Mais informações podem ser obtidas através do e-mail cedir.cce@usp.br.
Conheça outros postos fixos de coleta de lixo eletrônico na capital paulista:
Extra Itaim Bibi – Av. João Cachoeira, 889
Extra Morumbi – Av. Rio Pinheiros, 16.741
Extra Anhanguera – Marginal Tietê (Ponte Anhanguera) – Av. Samuel Klabin, 193
Extra Anchieta – Rua Garcia Lorca, 301 – São Bernardo do Campo
Praça Victor Civita – Rua Sumidouro, 580, Pinheiros
Parque do Ibirapuera – Portão 3 do parque, entrada para Bienal
Câmara dos Vereadores – Viaduto Jacareí – Portão principal
Cooperativa Reciclazaro – Ariston Azevedo, 10, Vila Maria
Raposo Shopping – Rodovia Raposo Tavares, km 14,5, São Paulo
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contato 96882/1768 oi
Gostaria de saber a data de publicação deste artigo, por favor!
18 de setembro de 2013.
abraço.