Acordo firmado entre governo paulista e setor supermercadista para diminuir uso da sacolinha descartável prejudica quem deveria ser beneficiado
Por Fernanda Médici
O que começou como uma bem-intencionada iniciativa para retirar bilhões de toneladas de plástico do meio ambiente, se transformou num problema para o consumidor paulista, único personagem “penalizado” na cadeia que envolve fornecimento e descarte das sacolas plásticas não-reutilizáveis.
Desde o dia 25 de janeiro, o Estado de São Paulo convive com a seguinte realidade: supermercadistas não precisam mais fornecer sacolas plásticas descartáveis para os consumidores.
O acordo firmado entre a Secretaria do Meio Ambiente paulista e a APAS (Associação Paulista de Supermercados) estabelece que o consumidor que quiser levar alimentos e outros produtos para casa deverá ter sua sacola não-descartável.
Poderá ainda, caso precise carregar mais produtos do que imaginou inicialmente, comprar a sacolinha descartável no próprio supermercado, pagando R$ 0,15 por unidade. Como última alternativa para levar suas compras, o consumidor poderá utilizar caixas de papelão que o comerciante cede gratuitamente.
O governo imaginou estar fazendo sua parte no suporte à sustentabilidade quando fechou o acordo. Afinal, o que estava em discussão era a retirada de circulação de 7 bilhões de sacolinhas, jogadas anualmente nos lixões e aterros do Estado de São Paulo.
Para os supermercadistas, o acordo não pode ser melhor: representa uma economia anual de R$ 500 milhões, os coloca no mesmo rol dos que lutam pela sustentabilidade do planeta e, de quebra, os livra de ter que encaminhar para reciclagem a montanha de papelão que se acumula diariamente nos depósitos. Sem falar no lucro da venda da sacola de plástico.
O vereador Francisco Chagas (PT) é taxativo com este assunto: “O fim das sacolinhas é um grande golpe contra o bolso do consumidor. É tirar dinheiro do povo e repassar às redes de supermercados”.
Estudo realizado pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo) mostra que a sacola plástica comum, apresentada como a grande vilã, a inimiga do meio ambiente, é uma das que menos polui e se decompõe mais facilmente, depois da sacola de papel.
O trabalho apontou o tempo de decomposição das embalagens, que depende da quantidade de fungos e bactérias que consomem determinado produto. Quando os microorganismos se alimentam deste material, é liberado gás carbônico. A quantidade de gás liberado indica se o material é mais ou menos biodegradável. A sacola de papel teve o melhor resultado, com 41% de gases liberados. A sacola plástica comum, 28% de gases; a sacola de amido de milho, 15% de gases; e, por último, a sacola oxidegradável, com apenas 2% de gases.
Do ponto de vista da contaminação dos alimentos transportados, o fim da sacolinha descartável foi um tiro no pé do consumidor.
De acordo com Roberto de Oliveira, biomédico conhecido como Dr. Bactéria, “não dá para se prever que tipos de microrganismos estarão presentes em uma sacola reutilizável. Por exemplo, se for colocada carne na sacola, e se sucos desta carne vazarem nela, teremos a possibilidade da contaminação por Salmonella. A mesma coisa para hortaliças e frutas. O contato com as mãos pode acarretar microrganismos como coliformes fecais, Staphylococcus aureus, responsável por intoxicações alimentares e feridas com pus, além de faringites e sinusites”.
Segundo Oliveira, o consumidor que estiver usando as sacolas retornáveis terá que tomar cuidados constantes de limpeza. “A periodicidade vai depender do grau de utilização, podendo ser semanal, mensal ou quinzenal. Aconselho ferver a sacola por cinco minutos ou imergir em uma solução de água sanitária (duas colheres de sopa por um litro de água). Também lavar com água e sabão e secar ao sol ajudam a descontaminar”, afirmou.