NO FINAL…MAIS UM PROJETO DA PREFEITURA QUE VIRA PARTICULADO…
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Em implantação desde 12 de fevereiro de 2011, a cargo da SPTrans , o projeto da Ecofrota do Município de São Paulo ficou sem rumo e sem destino.
Perdido em um mar de indefinições operacionais e financeiras, foi paralizado pela Prefeitura e corre o risco de ser descontinuado em definitivo.
A Ecofrota, é um programa socioambiental de investimentos em combustíveis e tecnologia sustentáveis, no transporte público, visando melhorar a qualidade do ar na cidade de São Paulo. São ônibus que usam fontes de energia renovável como biodiesel, diesel de cana-de-açúcar, etanol e eletricidade.
Os recursos para o investimento na Ecofrota, são provenientes das multas aplicadas no trãnsito de São Paulo e do orçamento da Secretaria de Transportes.
Quando lançado o programa, na gestão Kassab, o então secretário de transportes, Marcelo Cardinale Branco, disse que a Ecofrota era “um projeto de modificação da matriz energética da cidade de São Paulo”, e aduziu: “Queremos acabar com o uso de combustível fóssil (diesel)”.
Passados três (3) anos da implantação do projeto, a gestão de Haddad resolve paralisar os investimentos no Ecofrota, alegando problemas técnicos e financeiros.
Aliás, a gestão de Fernando Haddad tem se destacado por descontinuar TODOS os programas ambientais em curso no Município de São Paulo, sem implementar qualquer outro projeto nesse setor.
Enquanto a implantação de programas complexos parece assustar a atual gestão do município de São Paulo, a implantação de um projeto simplório e de resultados pífios, de implantação de faixas exclusivas a torto e a direito pelas ruas e avenidas paulistanas, tornou-se uma obsessão para o Prefeito Haddad e seu secretário Tato.
No entanto, a Prefeitura afirma que até agora, nenhum dos objetivos foi alcançado.
De fato, segundo a prefeitura paulistana, o único sistema que apresentou efetivos benefícios, foi o antigo e tradicional sistema de tróleibus, os ônibus elétricos, cuja frota foi, no bojo do mesmo programa, modernizada.
No entanto, na contramão da história moderna, a rede de tróleibus na cidade de São Paulo está em franca redução. Não há intenção de se ampliar a rede dos ônibus elétricos por fazer parte, essa questão, da fobia de nossa administração ao que é complexo.
A mesma gestão que entende natural prejudicar vias inteiras com a segregação do tráfego por meio de faixas exclusivas, entende que os tróleibus são inviáveis por conta do potencial que possuem de “inviabilizar o tráfego”.
Um problema, porém, é real e merecedor de atenção: o sistema de matriz de biocombustíveis apresentou problemas de corrosão no motor. Por conta do problema, foi necessário a partir de 2013, autorizar o uso do B20, diesel com 20% de biocombustível em sua composição. O litro dessa composição combustível, no entanto, custa 18% a mais que o diesel comum.
A Petrobrás até então, subsidiava parte do custo. Porém, a prefeitura assumiu a responsabilidade pelo abastecimento para, em seguida, alegar não ter condições de arcar com o pagamento da diferença.
O subsídio do biodisesel custava R$ 2 milhões por mês à Prefeitura. No entanto, se considerarmos esse custeio para uma frota de 15 mil ônibus, utilizando o composto B20, os subsídios atingiriam R$ 350 milhões, só para o combustível.
A SPTrans deveria desembolsar, portanto, na continuidade do programa, até 2018, aproximadamente R$ 6 bilhões, em subsídios.
A Ecofrota, portanto teria um custo muito alto frente aos recursos disponíveis nos cofres do poder público.
A idéia declarada da SPTrans é cumprir parcialmente o programa da Ecofrota até 2018. A sutileza da afirmação está no detalhe da entidade do governo municipal não informar o prazo para resolver o problema que ocasionou a descontinuidade do funcionamento da Ecofrota.
O diretor econômico-financeiro da SPTrans, Adalto Farias, disse em entrevista para o jornal O Estado de São Paulo que:
“Neste momento, a questão financeira é quase que uma das últimas. Nosso pessoal de engenharia não tem claro se o B20 é a solução para o que preconiza a lei de mudanças climáticas”.
“Entre os que atendem integralmente à lei, temos o combustível elétrico e o Amyris (diesel de cana). Mas o Amyris tem dois problemas. O litro custa R$ 7 e a indústria, hoje, não tem capacidade para atender às demandas”, disse literalmente o citado dirigente.
Assim, a SPTrans deve, primeiro, definir a matriz de investimentos no setor antes de dar continuidade no projeto Ecofrota.
O Portal Ambiente Legal, em artigo recente, apontou os graves problemas de saúde respiratória enfrentados pelo paulistano. Os males ocorrem em decorrência da poluição do ar gerada, principalmente, pelo diesel usado nos ônibus comuns.
O fracasso de mais essa aventura rocambolesca, envolvendo gestões ideologicamente díspares, porém acordes na retórica, contraria o tom eufórico e soberbo das autoridades ambientais brasileiras, quando afirmam ser o Brasil “uma liderança no campo de políticas sustentáveis” no mundo.
Ao que tudo indica, a cidade de São Paulo não está incluída no mapa desse Brasil sustentável.
Fontes:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,ecofrota-de-sp-ja-tem-1-2-mil-onibus,678527,0.htm
http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,sp-paralisa-projeto-de-frota-ecologica-de-onibus,1152687,0.htm