O principal argumento do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para desmantelar vários regulamentos ambientais do país é econômico. Ao justificar medidas como a retirada dos EUA do Acordo de Paris, ele afirma que o aumento das emissões de carbono não tem impacto imediato na economia — realizar projetos para mitigar impactos ambientais, por sua vez, custa caro. Em seus discursos, o presidente chegou a sugerir que o aquecimento global seria uma farsa criada pela China para punir a economia dos Estados Unidos.
A explicação de Trump pode até soar extremamente egoísta — estudos demonstraram ser benéfico para os países ricos uma economia embasada em combustíveis fósseis, enquanto os prejuízos se acumulam dos menos desenvolvidos. Mas, além disso, ela também não faz nenhum sentido econômico, de acordo com uma recente pesquisa publicada na Nature Climate Change.
Um grupo de pesquisadores dos EUA e da Itália analisaram diversas fontes de dados, como os mais modernos modelos de projeção do clima, estimativas de impacto gerado por mudanças climáticas, e previsões socioeconômicas de 200 países para determinar o custo para cada um da emissão de uma tonelada de carbono na atmosfera do planeta, que chamaram de Custo Social do Carbono.
Os resultados mostram que a economia da Índia, quarta que mais emite gases de efeito estufa (se for considerar a União Europeia como um país só), é a mais vulnerável à emissão global de dióxido de carbono, com o custo de US$ 86 por tonelada. Os EUA, segundo maior poluidor, vem logo atrás, com o custo de US$ 48 por tonelada de CO² emitida.
Segundo os pesquisadores, locais com o clima mais ameno, como na União Europeia e na Rússia, apesar de serem estarem na terceira e quinta colocação do infame ranking dos maiores poluidores, a economia não deve sofrer grandes impactos.
A China se beneficia por motivo diferente. País que mais contribui com emissões de carbono na atmosfera, é apenas a quinta onde o custo do carbono é mais alto, com US$ 24 por tonelada. Por outro lado, a Arábia Saudita, 14º maior emissor de CO2, é a terceira economia mais impactada, com US$ 47.
O Brasil, como costuma fazer em rankings negativos, não podia ficar de fora. A economia brasileira tem um prejuízo médio de US$ 24 por tonelada de carbono na atmosfera, o que a coloca como a quarta mais prejudicada.
Os resultados mostram que até o dado utilizado pelo governo norte-americano para embasar suas decisões, da Agência de Proteção Ambiental (EPA), estão incorretos. Da estimativa de US$ 12 a US$ 62 por tonelada de COw prevista para 2020, a nova pesquisa estima um custo global que varia de de US$ 180 a US$ 800. Com base nas emissões globais de 2017, é um peso de mais de US$ 16 trilhões para a economia global.
“Nossa análise demonstra que o argumento de que os principais beneficiários de reduções nas emissões de dióxido de carbono seriam outros países é um mito total”,disse a principal autora, Kate Ricke, da Universidade da Califórnia San Diego, se referindo aos EUA.
“Faz muito sentido, porque quanto maior a sua economia, mais você tem a perder. Ainda assim, é surpreendente quão consistentemente os EUA são um dos maiores perdedores, mesmo quando comparados a outras grandes economias.”
Os autores concluem que muitos países ainda não reconheceram o risco representado pelas mudanças climáticas. No entanto, uma compreensão mais clara dos impactos domésticos pode desempenhar um papel no incentivo às nações a unirem forças para agir, em seu próprio interesse, para mitigar a mudança climática.
“Todos sabemos que o dióxido de carbono liberado pela queima de combustíveis fósseis afeta pessoas e ecossistemas ao redor do mundo, hoje e no futuro, mas esses impactos não são incluídos nos preços de mercado, criando uma externalidade ambiental em que os consumidores de energia fóssil não pagam e desconhecem os verdadeiros custos de seu consumo “, concluiu Ricke.
Fonte: Revista Galileu via Ambiente Brasil