Por Gen.Sérgio Westphalen Etchegoyen*
Esta eleição foi perdida por Jair Bolsonaro e seu estilo. Não foi a derrota de um ideário, mas de um modelo conflitivo de fazer política. Lula é menor do que o segmento conservador, a diferença estreitíssima e a movimento de eleitores assustados com os grotescos episódios de Roberto Jefferson e de Carla Zambelli nas vésperas da eleição, o comprovam. O presidente eleito e seu partido encolheram politicamente, não terão a liberdade de ação que desfrutaram no passado.
Lula é um habilidoso vendedor de ilusões, ele mesmo confessa inverdades que já disse. Prometeu democracia, mas comprou apoio parlamentar no famoso mensalão; jurou combater a corrupção e quase destruiu a Petrobras, quebrou fundos de pensão e muito mais; acenou com um futuro melhor e nos legou Dilma Rousseff e suas crises gigantescas; garantiu renovação e patrocinou Fernando Haddad, apontado como o pior prefeito da história de São Paulo; agora promete paz e conciliação, não sem antes ameaçar (o vídeo está na YouTube) integrantes da Polícia Federal que cumpriram seus deveres nos inquéritos policiais a que respondeu; defende os mais vulneráveis enquanto negocia um rombo de 200 bilhões no orçamento de 2023 que inevitavelmente será pago, como sempre, com mais inflação e elevação das taxas de juros pelos pretensos beneficiados; fala em soberania e festeja alegremente com líderes mundiais que questionaram a Amazônia brasileira. Falta-lhe credibilidade, sua dívida é enorme neste campo. Com esses antecedentes, antes de promessas é preciso antecipar resultados. Cabe a ele preparar a mesa da paz e conciliação que afirma pretender.
As impressionantes manifestações do movimento conservador país afora demonstraram força e disposição, mas ao bloquear estradas afastaram-se dos limites legais e ao se dirigir aos quartéis, esforço estéril, protagonizaram cenas ridículas, criaram constrangimentos e ofereceram a narrativa golpista aos seus adversários. Em ambos os casos perdem legitimidade e adesão.
Ir às ruas de forma pacífica para mostrar o tamanho do Brasil que não apoia a volta do PT e seus aliados é um recado forte e oportuno à maioria que esses mesmos manifestantes elegeram no Congresso Nacional para que não traiam seus votos, risco sempre presente no volúvel cenário político brasileiro.
A mobilização permanente é o caminho para impedir o avanço de pautas artificiais, cujo único propósito é dividir o nosso povo, constranger fisiologismos e impulsionar o aperfeiçoamento da prática política no Brasil.
É pedagógico que Lula e seus aliados vejam desde já a força dos que estarão vigilantes aos seus movimentos.
Brasil já sofreu lá atrás com manifestações ilegais e abusivas, não se pode tolerá-las, não importa de quem venham. As promessas dos movimentos sociais radicalizados vis-à-vis a última decisão do ministro Barroso sobre reintegração de posse, relativizando perigosamente o direito de propriedade e deixando ainda mais inseguro o ambiente jurídico, não prenunciam tempos tranquilos.
Paz e conciliação é proposta bem-vinda e irrecusável, há muito precisamos disso, o problema é dar crédito a quem pouco fez até aqui para merecê-lo.
*Sérgio Westphalen Etchegoyen é General de Exército da Reserva do Exército Brasileiro. Foi ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional – GSI, da Presidência da República do Brasil no Governo Michel Temer. Foi oficial do Estado-Maior da Missão das Nações Unidas em El Salvador e chefe da Comissão do Exército Brasileiro em Washington – Estados Unidos. Comandou a 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e chefiou o Núcleo de Implantação da Estratégia Nacional de Defesa. Comandou a 3ª Divisão de Exército, foi Chefe do Departamento-Geral do Pessoal e Chefe do Estado Maior do Exército Brasileiro.
Fonte: o autor
Publicação Ambiente Legal, 07/11/2022
Edição: Ana Alves Alencar
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