Por: Eliana Rezende Bethancourt*
Há tempos quero falar sobre estas duas características, cada vez mais raras e quase sempre tão confundidas. A dificuldade se dá exatamente porque no mundo corporativo elas parecem ceder vez a outras palavras que ultimamente estão virando moda, como por exemplo: inovador, criativo, pró-ativo, entre outras.
De outro lado, empatia e gentileza são características que não estão no rol de termos monetizáveis. E ainda mais: não nascem como virtude e nem se adquirem ao se frequentar uma escola. Não estão à venda, nem são itens de consumo rápido, obtido por entregas via cartão de crédito. Sua maior característica é a gratuidade voluntária e extensiva, sem esperar portanto, nada de volta. Daí talvez sua grande dificuldade de ser aplicada numa sociedade tão consumista e capitalista, onde valor está sempre ligado à monetização. Não é este o caso aqui.
São qualidades ligadas diretamente ao autoconhecimento que cada um pode e deve desenvolver. É uma entre tantas competências comportamentais que deveríamos nos esforçar a ter e demonstrar.
As dúvidas se avolumam e questões sobre para quê, porquê e a quem são grandes, em especial em tempos de coronavírus onde diuturnamente tais qualidades são testadas na capacidade de todos em praticá-las nas suas diferentes facetas de existência social.
Partindo de tanta dificuldade, resolvi iniciar minha busca pelos dicionários. As interpretações são muitas e várias, suas aplicações alcançam um número ainda maior. Mas das definições que vi escolhi estas:
“Gentileza é a qualidade do que gentil, do que é amável. Gentileza é uma amabilidade, uma delicadeza praticada por algumas pessoas.
A gentileza é uma forma de atenção, de cuidados, que torna os relacionamentos mais humanos, com menos rispidez.
Quem pratica a gentileza não tem má vontade, não é indiferente e sim é cuidadosa, distinta e delicada.
As gentilezas devem ser praticadas com lhaneza, ou seja, com sinceridade e simplicidade, pois melhoram o convívio entre as pessoas.”
Para empatia o significado é assim descrito:
“Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo.
A empatia leva as pessoas a ajudarem umas às outras. Está intimamente ligada ao altruísmo – amor e interesse pelo próximo – e à capacidade de ajudar. Quando um indivíduo consegue sentir a dor ou o sofrimento do outro ao se colocar no seu lugar, desperta a vontade de ajudar e de agir seguindo princípios morais.
A capacidade de se colocar no lugar do outro, que se desenvolve através da empatia, ajuda a compreender melhor o comportamento em determinadas circunstâncias e a forma como o outro toma as decisões.
Ser empático é ter afinidades e se identificar com outra pessoa. É saber ouvir os outros, compreender os seus problemas e emoções. Quando alguém diz “houve uma empatia imediata entre nós”, isso significa que houve um grande envolvimento, uma identificação imediata. O contato com a outra pessoa gerou prazer, alegria e satisfação.
Houve compatibilidade. Nesse contexto, a empatia pode ser considerada o oposto de antipatia.
Com origem no termo em grego empatheia, que significava “paixão”, a empatia pressupõe uma comunicação afetiva com outra pessoa e é um dos fundamentos da identificação e compreensão psicológica de outros indivíduos.
A empatia é diferente da simpatia, porque a simpatia pode é maioritariamente uma resposta intelectual, enquanto a empatia é uma fusão emotiva. Enquanto a simpatia indica uma vontade de estar na presença de outra pessoa e de agradá-la, a empatia faz brotar uma vontade de compreender e conhecer outra pessoa.
Na psicanálise, por exemplo, a empatia significa a capacidade de um terapeuta de se identificar com o seu paciente, havendo uma conexão afetiva e intuitiva.”
Buscar no dicionário foi a forma de procurar mostrar que, tanto uma quanto a outra, não tem nada a ver com educação ou quaisquer modalidades atribuídas ao espírito cortês e romântico que se espera de casais apaixonados.
Gentileza, não se pratica dando bom dia, pedindo com licença, por favor, obrigado. Muito menos é enviar flores com cartão, abrir a porta do carro, segurar a porta do elevador.
Isso tudo é desejável, mas está apenas na categoria de boa educação.
Gentileza e empatia definitivamente são outra coisa. Elas envolvem uma real percepção de quem seja o outro.
Enxergá-los em sua plenitude e verdade, e respeitá-los apesar de, ou por isso. É ter pelo outro a mesma consideração e respeito que deve ter por si mesmo. Antes e acima de tudo, ter a capacidade infinita de simplesmente saber se colocar no lugar do outro em certas circunstâncias. Um exemplo disto pode ser lido no post “O trabalhador Invisível“, que escrevi.
Saber ter palavras que em vez de ferir como lâminas, sejam antes de tudo um bálsamo que alivia e até cura. Significa ser bom ouvinte. Atento e cuidadoso, que saiba colocar cada palavra no seu devido lugar.
Ser gentil é saber andar sem armas. É saber conciliar todos em torno do que realmente interessa. Mesmo quando os ânimos estão em uma panela de pressão.
Gentileza e empatia são modos de ser, estar, agir, enxergar o mundo, a vida e as pessoas.
Daí dizer que gentileza e empatia vão muito além de boa educação ou cortesia aplicada às etiquetas e convívios sociais. Elas não constam nos currículos escolares exatamente porque tem a ver com sistemas de valores pessoais e éticos, que se exprimem num desejo sincero de contribuir para que o mundo e as relações à sua volta sejam mais humanas e tragam mais contentamento.
Quem as exerce é por natureza uma pessoa que pratica a justiça. Mas não apenas a que lhe beneficia, mas especialmente a que toma em conta os outros.
Gentileza e empatia envolvem não apenas aquele vestígio impessoal do tipico cumprimento “e aí, como vai?” e já virando as costas antes que a resposta seja devolvida. Significa o interesse de um olhar frontal, sincero com ouvidos atentos. É doar seu tempo.
Elas têm seu espaço em todas as circunstâncias de vida, sejam pessoais, profissionais, familiares ou digitais. Isso porque todos somos, ou deveríamos ser, apenas um. Praticadas no trabalho ou com pessoas que nos veem alguns minutos por dia são muito mais fáceis. Mas, e com aqueles que dividimos o teto, as paredes, a vida?
A gentileza e empatia estão, sem dúvida, ligadas ao autoconhecimento que cada um precisa ter de si e do mundo que o cerca. Sem ele, no máximo a pessoa será apenas e tão somente educada.
E você? Como tem exercitado a gentileza e empatia na sua vida?
Fez isso hoje? Fez ontem?
Seguirá fazendo?
Pergunto pois em tempos de pandemia de coronavírus estamos assistindo uma “corrida” desesperada de muitos pelo “primeiro EU”. Contrariando tudo o que seja gentileza e empatia, alguns seres humanos mostram sua pior face e em momentos extremos chegamos a ficar chocados. A empatia é exercício diário e cotidiano que não escolhe a quem nem como. Simplesmente deve ser um esforço pessoal de aprimorarmos em nós e confiar na possibilidade de uma contaminação positiva.
Post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta e atualizado para esta publicação.
*Eliana Rezende é diretora da ER Consultoria, Gestão de Informação e Memória Institucional, doutora em História Social – Cultura e Cidades – UNICAMP, mestre pela PUC/SP, especialista em Preservação e Conservação de Colecções de Fotografia – Lisboa, Portugal com participação em vários projetos de política de preservação digital, proteção da memória e gestão documental governamentais e corporativos. Articulista do Portal Ambiente Legal.
Fonte: ER Gestão de Informação e Memória Institucional
Publicação Ambiente Legal, 09/04/2020
Edição: Ana A. Alencar