Um alerta que serve não apenas para São Paulo, mas para todas as grandes cidades brasileiras
Por Álvaro Rodrigues dos Santos
As enchentes têm se repetido de forma devastadora nesse ano de 2015 em São Paulo. Vidas, patrimônios, a saúde e o cotidiano de milhões de cidadãos são, a cada chuva de verão, consumidos em águas pútridas e lamacentas de forma trágica.
E, basicamente, não se observa nenhuma reação do governo e da sociedade, nada além de um noticiário repetitivo, frio e burocrático de alguns órgãos de imprensa.
Preferimos imaginar que tal desgraça é impossível de ser vencida? Ou, diante da insensibilidade dos governos, acabar aceitando, cabisbaixos, tal nível de violência e desrespeito às nossas vidas?
Onde estão os resultados de um programa de combate às enchentes que investiu bilhões de reais em medidas estruturais, como de ampliação da calha do Tietê?
Onde está a construção de dezenas de piscinões, insalubres e deletérios, apresentados como a panacéia que daria fim às inundações?
Piscinões esses, vale ressaltar, que implicaram no comprometimento anual de vultosas verbas públicas, retiradas dos orçamentos estaduais e municipais, que garantissem a manutenção mínima de todo esse aparato hidráulico.
O que falta, além do sacrifício da população, para que o governo paulista se convença do total fracasso de sua estratégia de enfrentamento das enchentes urbanas?
O que falta para o governo paulista se convencer definitivamente que é fundamental que se ataque as causas das enchentes, e que a principal causa desse fenômeno está no fato da cidade impermeável lançar praticamente todas suas águas de chuva rápida e diretamente sobre um sistema de drenagem que não lhes consegue dar a devida vazão?
Ou seja, o que falta para o governo paulista se convencer que não haverá sucesso possível na redução das enchentes enquanto não forem paralelamente implantadas medidas voltadas a fazer com que a cidade recupere sua capacidade de reter boa parte das águas de chuva e, concomitantemente, impor uma drástica redução aos processos erosivos/assoreadores e ao lançamento irregular de lixo urbano e entulho da construção civil?
As enchentes diminuiriam drasticamente com ações simples, como disseminação de bosques florestados por toda a cidade; obrigatoriedade e estímulo para instalação de reservatórios domésticos e empresariais de águas de chuva; obrigação da adoção de pisos e pavimentos drenantes em pátios, estacionamentos e calçadas; instalação generalizada de valetas e poços de infiltração; criminalização da erosão etc.
As medidas indispensáveis apontadas, e que inexplicavelmente não são implementadas, são todas medidas de baixo custo relativo e de fácil execução.
Em adição, essas medidas colaborariam, em muito, para a alimentação das reservas de água subterrânea da cidade. Aliás, é de se indagar: paradoxalmente estaria aí o motivo de sua incompreensível não adoção?
Vale por fim dizer que, infelizmente, o conteúdo desse artigo é inteiramente válido para muitas outras cidades brasileiras que são afetadas pelo mesmo e trágico fenômeno das enchentes urbanas.
Matéria publicada originalmente em http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2015/03/28/enchentes-continuarao-se-sp-nao-voltar-a-reter-agua-da-chuva.htm
Álvaro Rodrigues dos Santos, 72 anos, é geólogo formado pela USP, pesquisador sênior pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), autor de ‘Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções’ (PINI) e consultor em geologia, geotecnia e meio ambiente
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A foto é antiga, a julgar pelos carros estacionados, mas o problema é do presente e será muito mais do futuro. E a pergunta que fica é: onde está toda a água que caiu em março? Escorreu Tiete afora.
Nivaldo, a foto é antiga como o problema…
Abraço.