Brasil está entre os 50 países acima dessa marca de 10% em 2021; eletricidade gerada a carvão também registrou um aumento, de acordo com estudo.
Por Oscar Valporto*
A energia eólica e solar gerou mais de um décimo (10,3%) da eletricidade global pela primeira vez em 2021, passando de 9,3% em 2020: o dobro da participação em relação a 2015, quando o Acordo de Paris foi assinado (4,6%). Pesquisa da Ember, um think tank (laboratório de ideias para políticas públicas) sobre clima e energia, aponta que fontes de eletricidade limpas e combinadas – inclusive hídrica, de biomassa e nuclear – geraram 38% da eletricidade mundial em 2021, mais do que o carvão (36%).
Parecem boas notícias: a geração solar aumentou 23% no ano passado e a eólica 14%; combinados, as duas fontes de energia mais limpas aumentaram 17%. Os pesquisadores, entretanto, afirmam que, para o mundo estar no caminho de manter o aquecimento global em 1,5º graus C acima da era pré-industrial, as energias eólica e solar precisam sustentar altas taxas de crescimento de 20% a cada ano até 2030 – a mesma taxa de crescimento da média na última década.
Não foi assim. A retomada econômica no pós-pandemia em 2021 significou uma recuperação da demanda por eletricidade, que aumentou em termos absolutos. De acordo com o estudo Panorama da Eletricidade Global 2022, o aumento de 1.414 TWh de 2020 a 2021 é, aproximadamente, o equivalente a adicionar uma nova Índia à demanda mundial de eletricidade. Muitas economias avançadas se recuperaram aos níveis pré-pandemia após quedas em 2020: com +5,4%, 2021 teve o crescimento mais rápido da demanda por eletricidade desde 2010, com destaque para os países asiáticos.
A pesquisa enfatiza que, apesar de um aumento recorde na geração eólica e solar, apenas 29% do aumento global da demanda de eletricidade em 2021 foi atendido com energia eólica e solar. “Outras eletricidades limpas não proporcionaram crescimento, com os níveis de energia nuclear e hidrelétrica inalterados por dois anos. O aumento da demanda restante foi, portanto, atendido por combustíveis fósseis. 59% do aumento da demanda de eletricidade em 2021 foi atendido apenas pela geração de carvão”, alerta o trabalho da Ember.
O estudo, porém, tem outras boas notícias. Cinquenta países – Brasil, inclusive – já ultrapassaram o marco de 10% de energia elétrica gerada por usinas eólicas e solares. Sete novos países bateram essa marca somente em 2021: China, Japão, Mongólia, Vietnã, Argentina, Hungria e El Salvador. Três países – Holanda, Austrália e Vietnã – transferiram mais de 8% de sua demanda total de eletricidade de combustíveis fósseis para energia eólica e solar apenas nos últimos dois anos. “Eólica e solar chegaram. O processo que irá remodelar o sistema energético existente já começou. Nesta década, eles precisam ser implantados na velocidade da luz para reverter o aumento das emissões globais e combater as mudanças climáticas”, destacou Dave Jones, líder da Ember e especialista em transição de carvão para energia limpa, na apresentação da pesquisa.
Todas as cinco maiores economias do mundo alcançaram esse marco de mais de 10% de geração de eletricidade por fonte eólica ou solar: Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e Reino Unido. A Europa lidera com nove dos dez principais países, com os índices mais altos de energia completamente limpa. Três países chegaram a ultrapassar 40% de sua eletricidade a partir de energia eólica e solar: Dinamarca (52%), Uruguai (47%) e Luxemburgo (43%) alcançaram 52%, 43% e 47% lideraram esse ranking em 2021.
Brasil acima do patamar de 10%
A pesquisa da Ember analisa a situação do Brasil onde o aumento da geração eólica atendeu ao aumento da demanda de eletricidade do Brasil nos últimos cinco anos. A energia eólica (11%) e solar (2%) forneceram 13% da eletricidade do Brasil em 2021, pouco acima da média mundial de 10% em 2021. “O Brasil é construído sobre geração hidrelétrica e não tem muita geração fóssil de eletricidade. O carvão forneceu 4% da eletricidade do Brasil em 2021 e mais 15% de gás fóssil”, apontam os pesquisadores.
De acordo com o estudo, à medida que o Brasil se desenvolve, o país precisará de muito mais eletricidade. “Para colocá-lo em um caminho de 1,5 grau, precisará garantir que todo esse novo investimento em eletricidade seja em eletricidade limpa”, frisam os pesquisadores. “O Brasil é semelhante a muitos países da América Latina, onde ocorreu um rápido aumento da geração eólica (solar um pouco menos), mas agora este crescimento está em risco, pois os governos vêm perdendo o foco na eletricidade renovável”, acrescentam.
A geração de energia eólica em 2021 foi liderada pela China: 65% do crescimento da geração eólica global no ano. Embora a geração eólica tenha caído em 2020 na União Europeia, devido às baixas velocidades do vento, a taxa de instalações eólicas atingiu um novo recorde no continente. Além da Dinamarca, que teve a maior parte de sua eletricidade a partir do vento (48%), o Reino Unido e a Alemanha alcançaram taxas superiores a 20% de geração eólica. Quatro países dobraram de 5% da geração anual em 2015 para 10% em 2021: EUA (5% para 9%), Austrália (5% para 10%), Turquia (4% para 9%) e Brasil (4% para 11%).
Na geração de eletricidade com fonte solar, os destaques foram a Austrália, que, com 12%, tem a maior proporção de sua eletricidade a partir de energia solar de qualquer grande país do mundo; o Vietnã teve o maior aumento, passando de 2% em 2020 para 10% em 2021; e, na Europa, Espanha e Holanda tiveram o maior crescimento, elevando a participação da fonte solar para quase 10% de sua eletricidade total.
Para Dave Jones, da Ember, apesar do aumento no consumo de carvão, há “sinais claros” de que a transição global da eletricidade está bem encaminhada. “Mais energia eólica e solar estão sendo adicionadas às redes do que nunca. E não apenas em alguns países, mas em todo o mundo. Essas fontes de fornecer a maior parte da eletricidade limpa necessária para eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que ajudam a aumentar a segurança energética”, afirmou.
O líder da Ember, entretanto, teme as consequências da invasão russa. “Com os altos preços do gás em meio à guerra da Rússia com a Ucrânia, há um risco real de recaída no carvão, ameaçando a meta climática global de 1,5º C grau. A eletricidade limpa agora precisa ser construída em escala. Os líderes mundiais estão apenas acordando para o desafio da rapidez com que precisam migrar para uma eletricidade 100% limpa”, acrescentou Jones.
*Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Está de volta ao Rio após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. É criador da página no Facebook #RioéRua, onde publica crônicas sobre suas andanças pela cidade.
Fonte: Projeto Colabora
Publicação Ambiente Legal, 10/04/2022
Edição: Ana Alves Alencar
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