A farda pode ser o antídoto contra a epistocracia
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
Não foi por falta de aviso…
Este subscritor vêm alertando sobre a iminência da ruptura institucional, tamanho o descalabro na governança e a somatória de comportamentos disfuncionais que acometem os poderes da República.
Há uma simbiose entre corrupção e desconexão.
A corrupção corrói o Estado, devora a política, excreta fisiologismos, institui amoralidades e expõe a sociedade ao crime organizado. A desconexão inviabiliza a governança, intoxica as instituições e torna inócua a autoridade.
Essa simbiose tóxica é cultivada no necrochorume da Nova República de 1985, onde jaz a emendada, remendada e decomposta Constituição de 1988.
É preciso enterrar de vez essa carcaça política.
O inimigo é a epistocracia
A desconexão não se dá apenas pela incompetência. Ela é ideologicamente protagonizada por quadros infiltrados na jusburocracia, na classe política, na sociedade civil, na academia e nos veículos da grande mídia.
Essa cultura multiforme de ativistas engajados não age aleatoriamente. Integra um amplo processo de relativização dos valores morais da sociedade em prol de uma estúpida mesmerização estética e cultural.
Essa mesmerização é imposta por uma espécie de epistocracia – um governo de autodenominados “bem-informados”, superestimados pela mídia, que ditam normas e padrões de comportamento à maioria silenciada por uma bem conduzida espiral do silêncio, que inibe qualquer crítica.
O objetivo é destruir o pluralismo, a livre iniciativa, o livre mercado, a liberdade de pensamento e de expressão – os pilares da democracia.
Não se trata de teoria conspiratória. O processo decorre da impressionante concentração econômica mundial, articulada por oligopólios organizados vertical e horizontalmente nos sistemas financeiro, industrial e de informações.
Fundador do notório Diálogo Interamericano, David Rockefeller, usurpou, deturpou e parafraseou uma sentença de grau maçônica, para afirmar que “A Nova Ordem Mundial emergirá do caos”.
Essa “Nova Ordem Mundial”, como toda parábola, iniciou sua trajetória triturando soberanias e, ao final, terminará triturada pelos conflitos sistêmicos absolutamente assimétricos, intrínsecos a ela própria.
Enquanto o desastre não ocorre, o fenômeno produzirá mais desastres, como é o caso do escândalo do Facebook, com reflexo em outras redes sociais, revelado no roubo de milhões de dados pessoais, manipulações, fabricação de fatos e eleições viciadas em vários países no mundo.
No Brasil, o processo é paradoxal. Embora desenvolva um discurso em sentido contrário, o estamento epistocrata se dedica a desconstruir a Lei, afrouxar a apuração dos escândalos de corrupção, ignorar o clamor popular por Segurança Pública e fazer ouvidos moucos à demanda por maior transparência no próximo pleito eleitoral.
Na verdade, essa epistocracia articulada à sombra do poder e à frente das instituições, brinca de pular sobre as brasas da fogueira sem se aperceber que o fogo está aumentando de tamanho e intensidade.
O fator militar
O dispositivo militar reapareceu com destaque na vida nacional, demandado progressivamente por conta do desgoverno e do descontrole territorial, ocasionados pela ação disfuncional desta mesma epistocracia.
Os militares concluíram, no entanto, que os esforços para manutenção da Lei e da Ordem permanecerão ineficazes, enquanto a ordem atual, desenhada pelos epistocratas, insistir em não aplicar a lei.
Como lecionava sabiamente o Professor Emérito Goffredo da Silva Telles, “não existe desordem, só existe ordem. Desordem é a ordem que não nos convém.”
As forças terrestres estão cientes da ordem que convém ao país, atestam no horizonte o risco de ruptura, identificam que o risco à democracia vem de quem deveria por ela zelar e não se deixam levar pelo discurso em prol da “ordem constitucional”, que nada mais constitui a não ser a epistocracia.
A tradição legalista, no entanto, é vigorosa. Não haverá intervenção se não ocorrer uma inequívoca demanda popular ou evidências de ruptura iminente.
A impassibilidade do exército, portanto, é apenas aparente, e o compromisso com a democracia, transcendente.
A via eleitoral
A mobilização já ocorre no campo do pleito eleitoral. Fez-se uma opção de consenso: viabilizar candidaturas de militares da reserva para as eleições de 2018, em especial para o Congresso Nacional.
Por óbvio que essa estratégia não ocorre separadamente da candidatura do Capitão da Reserva Jair Bolsonaro à Presidência da República, embora não se encontre totalmente engajada na campanha deste.
O engajamento na atividade política traduz um novo design de atuação do dispositivo militar e introduz quadros importantes da reserva do exército no Poder Legislativo, o mais suscetível á ação epistocrata e refratário às necessárias reformas estruturais.
Riscos estratégicos
Preocupada com o alto índice de aprovação popular à ação das forças armadas, a epistocracia tupiniquim reagiu. Ensaia retomar a surrada pauta do questionamento à Lei de Anistia como forma de desgastar a imagem dos militares na política partidária.
Se a pauta vingar, porém, o efeito será de querosene na fogueira.
A judicialização contamina todo o processo eleitoral e, por isso mesmo, o projeto de engajamento eleitoral de oficiais e praças militares sofre riscos estratégicos evidentes.
A grande mídia e o setor financeiro agem desesperadamente para desbaratar o apoio popular às forças armadas. O bombardeio de factoides e a guerra de pesquisas de opinião já armam a grande mídia.
No campo partidário, os militares nadam em águas turvas. Partidos nanicos ou semi estruturados, que aparentemente deram guarida ao projeto, se notabilizaram no passado pela mercantilização de seus apoios. O tempo minúsculo destinado às rádios e à televisão aberta tampouco ajuda.
Já os grandes partidos, ou compõem o estamento epistocrata ou estão comprometidos da base á cúpula com a corrupção. Articulados entre si, não pretendem dar espaço algum aos militares.
O aumento sensível de roubos a caixas eletrônicos é sintomático de que a criminalidade busca combustível para queimar no seu curral eleitoral.
O Poder Judiciário vive um momento infeliz. O esquema das urnas eletrônicas paira sobre as eleições como um fantasma. Não permite conferir resultados e pode gerar suspeitas de manipulação de resultados em bases eleitorais de controle difuso.
Do necrochorume institucional emanam odores de manipulação do voto e judicialização da soberania popular. Esse ambiente faz a festa de engravatados e togados… e vira veneno para fardados.
A candidatura de farda enfrenta uma mídia hostil e o resultado de anos de infiltração esquerdista nos quadros do Ministério Público e magistratura.
A batalha será renhida, muito além do corpo a corpo em busca do eleitor.
E depois?
Ultrapassado o período eleitoral, a crise política dominará a agenda, seja qual for o resultado. Isso porque o estamento epistocrata usará o que estiver ao seu alcance na estrutura de Estado, para continuar a produzir o esgarçamento do tecido social.
A epistocracia não irá desistir de criar o caos.
Está no DNA da Nova Ordem Mundial, como já confessou o diplomata da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, à revista alemã Der Spiegel tempos atrás:
“Nós primeiro decidimos algo, e então lançamos a ideia, aguardando um pouco para ver o que acontece. Se não houver grandes rebeliões e gritos de protesto, porque a maioria das pessoas sequer entendeu o que foi decidido, nós vamos em frente, passo a passo, até não haver mais volta”.
No Brasil, o “ponto de não retorno” já ocorreu, com a agonia judicializada da Constituição de 1988, cuja mortalha recobre o Estado fiscalista e paquidérmico que pouco faz pelo cidadão de bem.
Não por outro motivo, com toda a tutela legal já produzida no papel pelo sistema, permanecem firmes na vida do cidadão o descontrole territorial, a perda dos valores nacionais, a violência urbana, a corrupção e o populismo desagregador do tecido social, debitados ao período lulopetista, à pusilanimidade tucana, à frouxidão emedebista e à intelectualidade excretora de regras politicamente corretas.
Essa ordem que não convém a ninguém, também não será substituída pela nova ordem mundial, porque nela já se enquadra.
Os eventuais acertos econômicos, de uma forma ou outra, envolverão personagens conhecidos, manejando instrumentos ditados pela economia oligopolizada. Poderá, no entanto, um governo decente, mudar a postura, promover a dignidade do cidadão, prestigiar a meritocracia, conceder crédito ao empreendedorismo e impor fortes limitações ao rentismo.
Por isso, há de se promover o enterro da velha “Nova República” , ainda que seja com honras militares…
Cumprirá aos democratas da Nação vencer a espiral do silêncio. Combater a corrupção e a desconexão epistocrata. Construir uma ordem nacional, em bases morais elevadas, justas, firmes e plurais, para longe do putrefato e obsoleto regime que hoje nos governa.
Referências:
Epistocracia: o ataque dos autoproclamados “fact-checkers” à internet livre – Gazeta do Povo
Contra a democracia, a ignorância política ou a Educação Democrática? (III) – o voto como ato de decisão moral. – Democracia.pt
Em 25 estados, militares querem entrar na política – e por meio das urnas – Isto É
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB. É Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle
View.
Fonte: The Eagle View