O fim do lixão de Gramacho e a realidade dos catadores
Por Redação
AMBIENTE LEGAL esteve presente na edição do Limpa Brasil SP 2014, o maior movimento mundial de cidadania e cuidado com o meio ambiente, e fez uma entrevista exclusiva com TIÃO SANTOS, líder dos catadores do lixão de Jd.Gramacho no Rio de Janeiro, desativado em 2012. Tião Santos ficou conhecido internacionalmente quando participou do documentário “Lixo extraordinário” de Vick Muniz, sobre a vida dos catadores do lixão.
Nesta entrevista, Tião Santos conta como foi o processo de desativação do lixão do ponto de vista dos catadores e as dificuldades que tiveram devido uma ação executada sem o planejamento adequado.
Conheçam um pouco de sua trajetória e assistam a entrevista imperdível !
Assista ao vídeo:
Breve perfil de Tião Santos[1]:
“Em 1982, sua família, que tinha uma vida sustentável, recebe uma má noticia: seu pai perdeu o emprego. Sua mãe teria que, sozinha, sustentar oito filhos. Entravam nas estatísticas dos excluídos sociais. Negra e apenas com a 4ª série primária restou-lhe fazer faxina, mas o salário recebido com esse trabalho não era suficiente para manter, sustentar e alimentar os filhos. Eis que surge um milagre: o lixão de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, cidade do estado do Rio de Janeiro. Milagre porque foi ali que ela realizou uma tarefa que parecia impossível: sustentar todos os filhos, educá-los e ensiná-los o valor do trabalho.
A realidade era dura. Sentindo-se explorado, Sebastião (Tião), um desses filhos, resolve não ser catador. Determinado, foge do trabalho para tentar estudar e trilhar um caminho melhor, mas não consegue.
Sofre preconceito dos amigos quando descobrem onde sua mãe trabalhava. Guerreira, ela começava a ser conhecida como líder de um grupo que buscava melhorias para sua categoria e, em 1992, durante a Eco 92, organizou a primeira cooperativa de catadores.
Sentindo-se discriminado, abandona a escola. Trabalha como matador de galinha, açougueiro, operário da construção civil e vendedor de gás. Desempregado e dispensado do Exército Brasileiro, desesperado, decide voltar ao lixão. Lá encontra um cenário diferente: tinha sido criada a primeira Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis do Jardim Gramacho, a Coopergramacho. Trabalhava das 06h às 14h e estudava à tarde.
Aos 19 anos, foi eleito presidente do conselho fiscal da entidade. Cinco anos depois, torna-se vice-presidente executivo. E, aos 25 anos, funda a Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho (ACAMJG).
Em 2010, a história dos catadores de Gramacho foi parar no cinema, retratada no documentário “Lixo Extraordinário”, do qual Tião Santos foi protagonista, com a participação do artista plástico Vik Muniz. O filme recebe vários prêmios.
Em 2011, “Lixo Extraordinário” concorreu ao Oscar e Tião participa da cerimônia, ao lado de Vick Muniz. O quadro que ilustra o material de divulgação, feito por Vick com material reciclado é vendido em Nova York e a renda é revertida para os catadores de Gramacho.
Em função da repercussão nacional e mundial do filme, Tião tem contado sua história e a dos catadores em vários estados brasileiros e no exterior, através de palestras em escolas, universidades e empresas. Além disso, intermediou a vinda ao Brasil do programa Let’s do it!, nascido na Estônia, que aqui foi rebatizado de “Limpa Brasil”, que organiza.
Liderança dos catadores no processo de fechamento, em 2012, de Jardim Gramacho, considerado o maior aterro sanitário da América Latina, que funcionava em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. A união dos catadores em uma associação forte permitiu que os trabalhadores de Gramacho fossem indenizados pelos serviços prestados, ação inédita nos aterros do Brasil e da América Latina, e que o governo se comprometesse a construir, no local, um polo de reciclagem para absorver os trabalhadores que perderam seu meio de sustento. O Jardim Gramacho recebeu durante 34 anos a maior parte do lixo procedente do Rio de Janeiro e de Duque de Caxias. Ao local, chegava parte das 8,4 mil toneladas de resíduos gerados diariamente, jogados em montanhas a céu aberto onde era disputado por urubus e por 1.603 catadores.
Os catadores receberam R$ 14 mil por terem perdido sua fonte de renda na época e no ano de 2013, após resultado das negociações da ACAMJG, foi inaugurado, no local, o Polo de Reciclagem de Gramacho. O projeto do polo, a cargo de uma Organização da Sociedade Civil para o Interesse Público (OSCIP) incluiu a construção de seis galpões, de duas unidades de processamento de resíduos, um centro administrativo para a realização de cursos de qualificação profissional, aquisição de maquinário, construção de uma creche, apoiados pela implantação de um plano de gestão e de qualificação profissional continuada.”
Facebook: TiaoSantosJardimGramacho
[1]Mini biografia fornecida pela assessoria de Tião Santos
Entrevista concedida à Ana Alencar, colaboradora do Portal Ambiente Legal