Por Sérgio Westphalen Etchegoyen*
Após sobreviver a tantas “vésperas do fim do mundo”, terminei por aprender, que a vocação brasileira para gerar crises só é menor do que capacidade de superá-las.
A idade e as oportunidades que a vida me proporcionou, fizeram-me testemunha de inúmeras crises, com variadas naturezas e intensidades.
Assisti rupturas institucionais, aventuras subversivas de tentativa de tomada do poder, lutas fratricidas, as crises do petróleo dos anos 1970, o fim da censura, o retorno das liberdades e das eleições diretas, a Assembleia Nacional Constituinte de 1988, a hiperinflação da chamada década perdida de 1980, uma sucessão de planos econômicos fracassados com “tablitas” e outras bruxarias, negociações intermináveis com o FMI, a sacada genial do Plano Real, o afastamento de dois presidentes da República, a crise econômica de 2014, a maior de todas elas, os desavergonhados assaltos aos cofres públicos revelados pelos escândalos do Mensalão e do Petrolão, a pandemia e muito, muito mais.
Seria preciso o triplo do espaço editorial disponível para esgotar a longuíssima lista. O Brasil sobreviveu e saiu maior de todos os maus momentos até aqui, mas jamais experimentamos algo da gravidade da deterioração do Poder Judiciário incentivada por integrantes da Suprema Corte que se atribuem ilegítimo poder moderador, usurpam a competência constitucional de fiscalizar o Executivo que cabe ao Legislativo, assumem funções policiais e do Ministério Público e saem a manifestar-se fora dos autos.
A continuar assim, o Judiciário corre o risco de transformar-se em um “paraíso moral”, onde tudo pode, com seus antológicos bate-bocas transmitidos ao vivo pela TV Justiça, os injustificáveis benefícios salariais autoconcedidos, a extensão dos recessos e a lentidão proverbial com que cuida do interesse dos outros.
O cidadão, quando indignado, tem a possibilidade de corrigir os políticos não renovando seus mandatos, mas é completamente indefeso diante de um mau juiz.
Somos um povo viciado em crise, a abstinência de instabilidade nos faz tão mal que de vez em quando saímos por aí a importar algumas que não nos dizem respeito pelo prazer doentio de gerar ansiedade e angústia em nós mesmos.
Mas 2022 está logo ali, daqui a uma semana, e já se anunciam maus presságios: inflação, baixo crescimento econômico, eleições nacionais e estaduais, mudanças climáticas e mais.
Os arautos do fim do mundo estão inspiradíssimos. Não acredite em tudo o que proclamam, ainda não será desta vez que o Brasil vai acabar, somos muito maiores do que os abismos para os quais nos empurram esses profetas do apocalipse.
Ser realista em relação ao Brasil é ser otimista, e eu sou um deles. O amadurecimento institucional é um processo de aprendizado, do tipo tentativa e erro, e temos avançado muito mais do que se poderia imaginar. Poderíamos ter feito melhor, é verdade, mas estamos longe dos desastres nacionais alcançados por alguns de nossos vizinhos neste lado do mundo.
Teremos sim um Natal muito feliz e um excelente 2022. Seguiremos superando os obstáculos no caminho da prosperidade, depende unicamente de nós.
Boas festas!
*Sérgio Westphalen Etchegoyen é General de Exército da Reserva do Exército Brasileiro. Foi ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional – GSI, da Presidência da República do Brasil no Governo Michel Temer. Foi oficial do Estado-Maior da Missão das Nações Unidas em El Salvador e chefe da Comissão do Exército Brasileiro em Washington – Estados Unidos. Comandou a 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e chefiou o Núcleo de Implantação da Estratégia Nacional de Defesa. Comandou a 3ª Divisão de Exército, foi Chefe do Departamento-Geral do Pessoal e Chefe do Estado Maior do Exército Brasileiro.
Publicado originalmente em Jornal NH
Fonte: o autor
Publicação Ambiente Legal, 29/12/2021
Edição: Ana A. Alencar
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