Seres vivos são muito mais resistentes e incríveis do que pensamos. Uma série de estudos realizados nos polos agora mais quentes do planeta revelou diversos organismos que nunca imaginávamos terem sobrevivido centenários e milênios de congelamento.
Do permafrost e das calotas polares derretendo, pesquisadores coletaram não apenas bactérias e plantas congeladas há centenas de anos, mas até um verme nemátodo que estava vivíssimo depois de 40.000 anos debaixo do gelo.
Musgo de centenas de anos
Em 2009, a equipe da bióloga evolucionária Catherine La Farge, da Universidade de Alberta, visitou uma geleira na ilha canadense de Ellesmere para documentar a vegetação que se formou centenas de anos atrás na região e foi congelada durante a Pequena Era Glacial, que terminou em 1850.
A surpresa veio quando encontraram um tufo de musgo da espécie Aulacomnium turgidum com uma certa tonalidade verdejante intrigante, sinal possível de vida.
“Você não presumiria que algo enterrado por centenas de anos seria viável. O material sempre foi considerado morto. Mas, ao ver tecido verde, pensei: ‘Bem, isso é incomum’”, disse La Farge ao Science Alert.
A equipe analisou diversas amostras do musgo em seu laboratório na Universidade, cultivando-o em solos ricos em nutrientes. Quase um terço das plantas deu novos brotos e folhas. “Ficamos muito impressionados. O musgo mostrou poucos efeitos nocivos de seu congelamento multicentenário”, explicou a bióloga.
O ecologista Peter Convey, parte da colaboração de pesquisa British Antarctic Survey, fez uma descoberta ainda mais antiga: sua equipe conseguiu reviver um musgo de 1.500 anos enterrado no permafrost antártico.
“O ambiente do permafrost é muito estável”, esclareceu Convey ao Science Alert. O solo permanentemente congelado pode isolar o musgo de fatores estressantes da superfície, como ciclos anuais de congelamento e descongelamento ou radiação prejudicial ao DNA.
Logo, coisas como uma planta sobreviver mais de um milênio não é assim tão impossível.
Verme de muitos milênios
Contudo, inacreditável mesmo é a descoberta da equipe da microbióloga Tatiana Vishnivetskaya, da Universidade do Tennessee, nos EUA, que estuda micróbios congelados em ambientes extremos.
Encontrar organismos unicelulares que sobreviveram por diversas eras do gelo no permafrost siberiano, por exemplo, é coisa comum para ela. Vishnivetskaya já conseguiu trazer bactérias de milhões de anos de volta à vida em uma placa de Petri.
Já um ser vivo com sistema nervoso é outra história – uma que pode obrigar os cientistas a repensar no conceito de sobrevivência e perseverança.
Ano passado, a equipe de Vishnivetskaya encontrou, no meio de seus habituais organismos unicelulares descongelando em laboratório, vermes segmentados completos: nemátodos.
Ser vivo mais antigo já descoberto
Os pesquisadores estimaram que um dos vermes tinha nada menos que 41.000 anos de idade, o que o torna o ser vivo mais antigo já descoberto.
Para colocar isso em perspectiva, pense que esse verme se deslocou na terra abaixo dos pés de Neandertais para acordar milênios depois em um laboratório de alta tecnologia humano.
“É claro que ficamos surpresos e muito animados”, disse Vishnivetskaya. Com meio milímetro de comprimento, os nemátodos que voltaram à vida são as criaturas mais complexas já “ressuscitadas” depois de um longo congelamento.
Estes vermes podem ser perfeitos para esse tipo de “ressurgimento”. De acordo com Gaetan Borgonie, especialista em nematoides da Bélgica, que não participou do estudo, esses animais são onipresentes em diversos habitats terrestres. Borgonie já descobriu comunidades destes vermes quilômetros abaixo da superfície do planeta em minas sul-africanas com pouco oxigênio e calor insuportável.
Alienígenas podem ser vermes cilíndricos gigantes
Os nemátodos podem entrar em um estado de animação suspensa chamado “estágio dauer” (“dauer” significa “duração” em alemão), no qual ficam envoltos em uma camada protetora.
Vishnivetskaya não tem certeza se os vermes que sua equipe coletou do permafrost passaram todo o tempo nesse estado, mas acredita que eles poderiam teoricamente sobreviver indefinidamente se congelados de forma estável. “Eles podem durar vários anos se suas células permanecerem intactas”, disse.
Borgonie concorda. Apesar de reconhecer que essa descoberta foi “uma enorme surpresa”, se os animais sobreviveram mesmo 41.000 anos, “não tenho ideia de qual seja o seu limite”.
Ou seja, se estamos procurando por seres resilientes que possam existir em condições superextremas fora da Terra, talvez a resposta sejam nemátodos. Já pensou? Aliens podem ser vermes cilíndricos gigantes! [ScienceAlert]
Fonte: Hypescience via Ambiente Brasil
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